RIO
DE JANEIRO - Recentemente a mídia tem divulgado que o tom da pele de Machado de
Assis, apresentado pelas antigas fotos do genial escritor, era falso e
apresentou-o com a tez muito escura. Como o autor dessa afirmativa chegou a
essa constatação, não lhe foi questionado. Pelo que li e assisti nas televisões
não foram apresentados documentos da época, registrando a manipulação da cor da
pele de Machado de Assis ─ a seu pedido ─ pelos diversos fotógrafos do século
19 e início do século passado.
Por
outro lado, é gravíssima essa denúncia de que o genial escritor tivesse
vergonha da cor de sua pele e, por isso, corrompeu todos os fotógrafos para
estamparem sua imagem embranquecida. Mais surpreendente é a não reação dos
Machadianos, da Academia Brasileira de Letras, das Universidades e do mundo
cultural brasileiro.
Se
os defensores da tez preta de Machado de Assis estudassem um pouco a história
dos africanos e seus descendentes no Brasil e um pouco de genética não teriam
coragem de levantar, como possível, esse falso histórico.
Vejamos
as classificações usadas nos documentos eclesiásticos, jurídicos,
jornalísticos, estatísticos e outras fontes no período da escravidão no Brasil,
para pretos e miscigenados.
AS PESSOAS PRETAS
Escravos vindos da África eram classificados como: Preto
de Nação (Angola, Moçambique, Cabinda, Monjolo etc.). Como mostra o anúncio de
jornal do Rio (1812)
Os filhos de escravos africanos que nascessem no Brasil
eram classificados como crioulos.
Os pretos escravos que adquirissem liberdade eram
classificados como forros, ou alforriados.
Os filhos de pretos forros eram classificados como Pretos livres.
Após os tratados com a Inglaterra ─ com Portugal e,
posteriormente, com o Brasil ─ os escravos contrabandeados pelos navios
negreiros quando aprisionados por navios ingleses, portugueses e brasileiros
eram libertos e classificados como Africanos
livres.
Os filhos
de pretos com indígenas eram denominados de Cafuzos.
OS
MISCIGENADOS
A primeira
miscigenação entre pessoas pretas e brancas classifica-se como Parda.
A Parda
miscigenada com Preta classifica-se como Cabra
(homem ou mulher). O anúncio, abaixo, de fuga de escravo (jornal do Rio 1812)
cita duas categorias: Crioula e Cabra.
A miscigenação
entre pessoa Parda e uma Branca origina o Mulato.
A pessoa Mulata miscigenando-se com Branca gera a pessoa Mulata. Evidentemente que esse segundo
nível de Mulato, geneticamente tem a possibilidade de ter a tez da pele mais
clara do que a anterior.
CLASSIFICAÇÃO DE ALGUNS PERSONAGENS
IMPORTANTES, COM ORIGEM AFRICANA
PRETOS LIVRES:
Príncipe
Obá II (Candido da Fonseca
Galvão). Baiano (1834-1890) filho do africano livre Príncipe Obá I (Benvindo
da Fonseca Galvão). Herói da Guerra do Paraguai, escritor.
Cruz e Souza. Catarinense (1861-1898). Poeta, filho dos pretos forros
Guilherme da Cruz e Carolina Eva da Conceição.
PARDOS:
José do
Patrocínio. Fluminense (1853-1905).
Farmacêutico, jornalista e líder abolicionista. Filho do padre João Carlos
Monteiro (branco) e da preta africana, Nação Mina, Justina do Espírito Santo.
André
Rebouças. Baiano (1838-1898).
Engenheiro, escritor, professor e inventor. Filho do pardo Antonio Pereira
Rebouças e da (parda?) Carolina Pinto Rebouças.
Luiz Gama. Baiano (1830-1882). Advogado, jornalista, escritor e
abolicionista. Filho de um comerciante português e da preta forra Luiza Mahin.
Theodoro
Sampaio. Baiano (1855-1937).
Engenheiro, escritor e professor. Filho do padre Manoel Fernandes Sampaio e da
escrava (preta ?) Domingas da Paixão do Carmo.
MULATOS:
Lima
Barreto. Carioca (1881-1922).
Escritor e funcionário público. Filho do pardo João Henriques de Lima Barreto e
da mulata Amália Augusta.
General Glicério (Francisco Glicério Cerqueira Leite).
Paulista (1846-1916). Advogado, Ministro e general Honorário do Exército
brasileiro. Filho do branco Antonio Benedito de Cerqueira Leite e da parda
Maria Zelinda da Conceição.
Machado de Assis. Carioca (1839-1908). Escritor,
funcionário público e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras. Filho
do mulato Francisco José de Assis e da portuguesa (branca) Maria Leopoldina da
Câmara Machado.
Portanto,
era Machado de Assis o mulato descendente de pessoas brancas em três níveis, o
que justifica a sua tez ser mais clara do que a dos demais miscigenados. Nireu Cavalcanti – Brasil
Nireu Oliveira Cavalcanti, (1944), arquiteto formado em 1969 pela Faculdade
Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, é doutor em História Social,
com ênfase em História Urbana, pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de
Filosofia e Ciências Sociais do Departamento de História da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desde 1997. Tem especialização em Planejamento
Urbano e Regional e em Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Santa
Úrsula (1979-1982). É professor de pós-graduação da Escola de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal Fluminense (UFF), da qual foi seu diretor de
2003 a 2007. É autor, com Hélio Brasil, de “Tesouro:
o Palácio da Fazenda”, da Era Vargas aos 450 anos do Rio de Janeiro
(Pébola-Casa Editorial, 2015); e de “O
Rio de Janeiro setecentista: a vida e a construção da cidade da invasão
francesa até a chegada da Corte” (Zahar, 2003), seu trabalho de doutorado,
com o qual obteve o primeiro lugar da 42ª Premiação Anual do Instituto de
Arquitetos do Brasil-RJ em 2004; “Histórias
e conflitos no Rio de Janeiro colonial: da Carta de Caminha ao contrabando de
camisinha – 1500-1807” (Civilização Brasileira, 2013); “Arquitetos e Engenheiros: sonho de entidade
desde 1978” (Crea-RJ, 2007); “Crônicas
históricas do Rio colonial” (Civilização Brasileira/Faperj, 2004); “Santa Cruz – uma paixão” (Relume-Dumará,
2004); e “Construindo a violência urbana”
(Madana, 1986). Participou com capítulos em vários livros.
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