Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Angola - Rainha Njinga Mbandi do Ndongo e Matamba morreu há 361 anos

Faz hoje 361 anos desde que morreu Njinga Mbandi, Rainha do Ndongo e da Matamba, a 17 de Dezembro de 1663



Nasceu em 1582, na região do Ndongo, cujo território abrangia regiões das actuais províncias de Malanje, Cuanza-Norte, Bengo, Luanda e parte dos territórios do Cuanza-Sul, Lunda-Norte, Bié e Uíge.

Njinga Mbandi foi uma importante estrategista militar e política durante a presença portuguesa nas regiões correspondentes à actual Angola.

A Rainha Njinga reinou por 37 anos e tornou-se uma heroína na História de Angola, sendo até hoje lembrada pelos seus feitos. Uma das principais ruas de Luanda, onde se situa a sede da Edições Novembro, leva o seu nome e, na mesma cidade, encontra-se uma estátua no Largo do Kinaxixi. A principal universidade pública de Malanje leva igualmente o seu nome.

Primeiros anos

A Rainha Njinga é filha de Ngola Kiluanje Kia Samba e de Guenguela Cacombe, da etnia ambundo, uma das escravas do seu pai e sua concubina favorita.

De acordo com a lenda, o parto da sua mãe Guengela foi complicado, pois Njinga nasceu com o cordão umbilical enrolado no pescoço (em quimbundo Kujinga significa torcer ou girar). Tal facto, na crença local, era de que a pessoa seria alguém poderosa e orgulhosa.

Quando tinha cerca de dez anos, o pai tornou-se o Rei (Ngola) do Ndongo.

Ela sempre foi muito favorecida pelo pai, por se destacar entre as filhas do Rei e não ser herdeira ao trono, facilitando uma maior dedicação à jovem, sem despertar atritos com os irmãos “homens”.

Durante o seu crescimento, Njinga foi treinada nas artes militares e políticas na corte do pai, chegando a servi-lo como conselheira jurídica e diplomata com os portugueses. Além disso, foi ensinada por missionários portugueses a ler, escrever e falar português.

Na juventude de Njinga, o Reino do Ndongo passava por muitas crises internas, devido a rivais políticos do Rei e forças externas, devido às ameaças portuguesas. Os portugueses chegaram ao Ndongo no século XV e foram inicialmente um aliado no comércio atlântico de escravos. Porém, em 1571, o Rei Sebastião de Portugal ordenou a subjugação e conquista do Reino do Ndongo. Os imbangalas, que foram um grupo de guerreiros nómadas inimigos do Reino do Ndongo, juntaram-se aos portugueses na mesma época. Os imbangalas desejavam a posse de terras no Ndongo, já os portugueses queriam capturar nativos para vender como escravos.

Muitos nativos do Ndongo se aliaram aos portugueses e isso fez os tributos ao Rei diminuírem. Quando o pai de Njinga se tornou Rei, em 1593, o Reino já estava há mais de dez anos em guerra.

Sucessão

Em 1617, o Rei Ngola Kiluanje morre e Ngola Mbandi, irmão de Njinga, sucede-lhe no trono. Njinga e o irmão sempre foram rivais e Ngola Mbandi se tornou paranóico de que o filho recém-nascido da irmã poderia um dia assassiná-lo, por isso ordenou que a criança fosse morta e Njinga fosse esterilizada. Temendo pela sua vida ou pelo ressentimento pelo seu filho, Njinga fugiu para a região da Matamba, onde permaneceu exilada até que o irmão o chamou outra vez, em 1621, para servir como embaixatriz do Ndongo em Luanda. A escolha do Rei devia-se ao facto de que não conseguia combater os portugueses com a força e decidiu pedir ajuda da irmã que falava, escrevia e lia em português e era uma exímia diplomata para tratar a paz com os portugueses.

Viagem para Luanda

Njinga aceitou e em 1622 viajou para Luanda, ao encontro de João Correia de Sousa, governador português. Enquanto outros líderes do Ndongo se vestiram com trajes ocidentais, Njinga optou por utilizar vestimentas tradicionais, com a intenção de demonstrar a sua não submissão aos portugueses. Segundo a história, quando Njinga chegou ao salão onde conversaria com o governador, não havia cadeiras para os líderes africanos, mas apenas uma almofada no chão onde se sentariam, numa posição de submissão ao governador. Foi quando Njinga Mbandi ordenou que um dos seus soldados se posicionasse de de joelhos e braços no chão para que ela se sentasse nas costas como uma cadeira, ficando assim cara a cara com o governador. Ela era uma negociadora feroz e fez um acordo com os portugueses, obtendo em troca a abertura da rota de comércio e o estudo e conversão ao cristianismo dos governantes do Ndongo. Os portugueses retirariam as suas tropas e reconheceriam o Ndongo como um Estado soberano, sem precisar de pagar um tributo anual e nem prestar vassalagem a Portugal.

Em Luanda, onde ficou cerca de um ano, foi baptizada, adoptando o nome cristão de Ana de Sousa, em homenagem à sua madrinha Ana de Sousa, esposa do governador João Correia de Sousa, que também serviu como padrinho de baptismo.

Reinado e conflitos

Após a paz com os portugueses, o entendimento com os imbangalas ruiu e uma nova guerra instalou-se. O Rei Ngola Mbandi fugiu de Cabassa com a sua corte e alguns seguidores. Os portugueses não estariam dispostos a prosseguir com a paz conseguida com o Ndongo se o Rei estivesse exilado e não convertido.

Como resultado, a paz entre os portugueses e o Ndongo, alcançada por Njinga Mbandi, foi anulada e os mesmos continuaram a invadir as terras nativas e a capturar africanos como escravos.

Em 1624, o Rei Ngola Mbandi morre de causas misteriosas (alguns afirmam envenenamento e outros um suicídio). Antes de morrer, o Rei deixou clara a vontade de que Njinga Mbandi o sucedesse. Ela foi entronizada pouco depois do funeral do irmão.

Ngola Mbandi tinha um rival na corte do Ndongo, Hari, que se opunha a uma liderança feminina e por isso jurou vassalagem aos portugueses. Com a ajuda dos guerreiros jagas (imbangalas) de Cassange e de aliados do Ndongo, Hari conseguiu a deposição de Njinga, que fugiu para Luanda. Depois disso, juntou seguidores e capturou a Rainha de Matamba, assumindo esse posto e reunindo um grande exército na região. Logo depois, retornou ao Ndongo e reassumiu o trono.

Ao reassumir o trono, ela enfrentou uma forte oposição da aristocracia que não a queria como soberana. Njinga utilizou da genealogia para se legitimar no trono, porém ainda foi desconsiderada, pois tanto ela quanto o irmão falecido Ngola Mbandi eram filhos do Rei com escravas concubinas.

Diz-se que Njinga nunca foi capaz de se legitimar como governante do Ndongo por ser mulher, já que esse requisito era visto como inadequado para o cargo. Por causa disso, em algum momento, na década de 1640, a Rainha se “tornou um homem”, que era um costume comum para governantes mulheres, já que não eram reconhecidas como legítimas soberanas. Ela passou a vestir-se com trajes masculinos e a liderar com sucesso ofensivas contra portugueses, jagas e outros inimigos políticos.

Últimos anos de reinado e morte

Em 1656, Njinga Mbandi conhece os missionários capuchinhos e se converte ao cristianismo, pela segunda vez, e também permitiu que missionários entrassem no reino para converter os nativos à religião a que inicialmente se opunha.

Em 24 de Novembro de 1657, os portugueses decidem cessar a guerra e os planos de conquista do Ndongo e Matamba, numa carta ratificada pelo rei D. Afonso VI. Após a paz, ela tentou reconstruir a nação devastada pela guerra. Conseguiu desenvolver Matamba como uma potência comercial na região, uma porta de entrada para a África Central. Ela se opôs a que a princesa imbangala Njinga Mona a sucedesse como soberana após a sua morte, por isso, no tratado de paz, pediu para que os portugueses ajudassem a sua família a permanecer no trono.

Na falta de um herdeiro que a sucedesse, fez a sua irmã Mucambu casar-se com João Guterres Ngola Kanini. Esse casamento, porém, não foi permitido pelos missionários capuchinhos, já que Ngola Kanini já tinha uma esposa em Ambaca.

Nos últimos anos, Njinga Mbandi tentou reassentar ex-escravos fugidos das fazendas europeias no seu reino. Apesar dos esforços para destroná-la, em especial pelo líder imbagala Cassange, também sofreu tentativas dos portugueses para matá-la. Entretanto, apesar de tudo, Njinga morreu pacificamente em Matamba, aos 82 anos, a 17 de Dezembro de 1663. Foi sucedida pela irmã Mucambu, que reinou até à sua morte, em 1666. In “Jornal de Angola” - Angola


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