Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Macau - Orgulho na identidade vincado no Encontro de Macaenses

Chegou ao fim mais um Encontro das Comunidades Macaenses realizado na RAEM, após uma semana de diversas actividades. A sessão de encerramento ficou assinalada pelo reconhecimento, por parte do Governo de Portugal e através do secretário de Estado José Cesário, do papel da comunidade macaense. Leonel Alves e José Luís Sales Marques fizeram um balanço positivo do Encontro, que trouxe ao território mais de um milhar de representantes das Casas de Macau espalhadas pelo mundo.



Foi com um pezinho de dança e num ambiente de convívio que caiu o pano do Encontro das Comunidades Macaenses. A derradeira sessão do programa para os cerca de 1400 participantes, 1200 dos quais se deslocaram da diáspora, foi a cerimónia de encerramento, que decorreu durante um jantar no Venetian, tal como acontecera na abertura do evento.

Fizeram-se as despedidas, com forte carga emocional, dos representantes das 12 Casas de Macau presentes, oriundas de Portugal, Brasil, Austrália, Canadá e Estados Unidos, depois de sete dias de um programa recheado de várias actividades culturais, que incluíram também uma deslocação à Ilha da Montanha.

Antes do repasto, que contou com a presença do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário, houve tempo para um discurso de balanço proferido por Leonel Alves. Depois de referir que o Encontro “foi um êxito”, o presidente do Conselho Geral do Conselho Permanente das Comunidades Permanentes (CCM) disse que o sucesso do evento só foi possível pela “magnífica” contribuição dos macaenses, “em número que corresponde ao dobro dos participantes do primeiro Encontro, realizado há 30 anos”.

“Honra seja feita a todos aqueles que sentiram o apelo da história em levar avante a primeira Reunião dos Macaenses da Diáspora em Macau e a todos aqueles que trabalharam arduamente nos vários Encontros que se realizaram depois, constituindo, hoje, o evento trienal dos macaenses uma autêntica tradição cultural nossa, que deverá, por isso, perdurar no tempo e ser apoiada pela RAEM”, salientou.

Leonel Alves sublinhou, aliás, que “a chama da alma macaense não se desvaneceu, pelo contrário, está cada vez mais revitalizada”. “Todos sentimos a nossa profunda ligação a Macau e às nossas raízes, e todos reconhecemos a importância da ligação estreita entre todos os macaenses, residentes e na diáspora”, sustentou.

Noutro momento do seu discurso, Leonel Alves afirmou que “Macau tem o dever reforçado de criar e manter uma rede de contactos com as Casas de Macau, e desta interacção surgirão certamente novos desafios”.

Considerando que os macaenses que vivem no exterior são os “embaixadores da RAEM”, o membro do CCM dirigiu-se às Casas de Macau para lhes lembrar que têm de fazer valer essa importante função junto das autoridades competentes. “A vocês também incumbe a missão de divulgar Macau e atrair amigos e familiares, empresários, cientistas e académicos, para nos visitarem e, porque não, estabelecerem aqui novos contactos e centros de interesse, pontuais ou permanentes”, realçou.

Na parte final do discurso, Leonel Alves frisou que “os macaenses trazem sempre na sua alma o amor e o respeito indeléveis a Portugal”, interpretando a importância da distinção do Governo português ao CCM, como sendo “extensiva a todas as pessoas que, ao longo dos 25 anos, trabalharam em prol das instituições portuguesas em Macau”.

Seguiu-se uma intervenção, improvisada, como é seu hábito, de José Cesário, no final da qual fez a entrega das Placas de Mérito ao CCM e ao grupo de teatro Dóci Papiaçám di Macau.

José Luís Sales Marques, presidente da Comissão Organizadora do CCM, disse ao Jornal Tribuna de Macau que “a distinção é o resultado do nosso trabalho e do das Casas na ligação a Portugal”.

Igualmente em declarações a este jornal, Miguel de Senna Fernandes, líder do Grupo Dóci Papiaçám di Macau assumiu “estar naturalmente feliz”, depois de mais de 30 anos a fazer rir e a persistir na defesa de uma cultura alicerçada numa língua, que muitos dizem “morta”.

“Muito orgulho e novo alento existem nas nossas hostes”, referiu, acreditando que a comunidade portuguesa em geral, e em particular a macaense, “está orgulhosa de nós”. O prémio “não foi apenas para um grupo de teatro que usa o patuá como língua de espectáculo, mas sobretudo premiou-se a resiliência cultural de uma comunidade imprescindível para Portugal no que respeita ao seu relacionamento com a China”. No palco, alguns elementos dos Dóci Papiaçám interpretaram um trecho em patuá, muito aplaudido pelos presentes.

Comunidade ajuda a vincar a diferença

Para terminar o Encontro dos Macaenses de uma forma divertida, os participantes dançaram ao som da música e das canções ao vivo da banda local “Cem Por Cento”, composta por elementos macaenses.

No balanço do evento, o presidente da comissão organizadora disse ao Jornal Tribuna de Macau que o Encontro “correu muito bem e cumpriu os objectivos” traçados, desde o grande número de participantes presentes das Casas de Macau, ao “forte espírito de pertença que se sentiu em cada minuto desta semana que passou”. Tudo isso, asseverou José Luís de Sales Marques, “leva-nos a concluir que o Encontro é uma tradição cultural a ser repetida todos os três anos, pelos vindouros”.

A comunidade macaense “ajuda a vincar a identidade de Macau como cidade multicultural, onde a língua portuguesa é também língua oficial, para marcar a sua diferença no contexto da nação chinesa e a sua presença é também muito importante para Portugal manter e perdurar a sua língua e cultura em Macau”, salientou.

Também em jeito de rescaldo do Encontro, Carlos Piteira, presidente da Casa de Macau em Portugal destacou ter sido bom voltar à “terra mãe”. Na hora de partir, “já todos sentimos a vontade de voltar”, confessou, adiantando que “foi bonita a festa, com cerca de 1400 macaenses a encherem as ruas de Macau, alterando a sua fisionomia populacional, carregados de emoções e reforçando o seu sentimento de pertença”.

O dirigente salientou também que os macaenses são parte integrante da “alma” de Macau. “Isso ficou patente, resta agora esperar que as entidades oficiais também concordem e que mantenham este legado no seu modelo de sociedade”.

Carlos Piteira garantiu que os macaenses estarão sempre presentes “se nos chamarem” e até lá “iremos perpetuando a razão de ser macaense nas nossas Casas de Macau pelo mundo fora, como alicerce de uma relação quinhentista”. “Macau sã Assi”, finalizou.

A próxima edição do Encontro das Comunidades Macaenses, que será a nona na era da RAEM e a 11ª desde o início deste género de eventos, está agendada para 2027, tudo apontando, entretanto, para que em 2026 se realize o Encontro dos Jovens Macaenses. Vítor Rebelo – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”


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