A presidente da Fundação Jorge Álvares considera que Portugal devia “agarrar” a oportunidade que Macau oferece de acesso à Grande Baía, ávida de “novas tecnologias, ciência e universidades”. “A possibilidade de acesso a 75 milhões de habitantes, que é mais ou menos a população da Grande Baía é um potencial enorme”, sublinhou Celeste Hagatong em declarações à Lusa.
“Macau quer fazer mais coisas do que manter-se como o quarteirão do jogo na região – e nota-se que há hoje um grande interesse pelas novas tecnologias, pelos parques de ciência, pelas universidades – e é uma coisa que devíamos agarrar, entrarmos na China com conhecimento, ciência, voltar a ser esse o nosso passo”, acrescentou a gestora.
“E isso já está a acontecer, sei que o Instituto Superior Técnico e outras universidades no âmbito das tecnologias estão a desenvolver parcerias”, sublinhou. “Nos jornais, há dias estavam à procura de portugueses que soubessem de actividade bancária moderna, noutro dia eram médicos para o novo hospital”, acrescentou.
Não obstante, reconheceu também, hoje “é mais fácil as pessoas irem para a Europa, onde conhecem os regimes, conhecem tudo melhor, e não vão para Macau”.
Macau perdeu muita gente qualificada por altura da transição, segundo Hagatong, “não por razões da transição, propriamente dita, mas porque as pessoas com escolaridade acharam que tinham outras oportunidades noutros lados do mundo”. “Saíram muitos macaenses naquela altura, o que foi pena. Os filhos já não ficaram lá, muitos tinham já feito cursos superiores em universidades fora de Macau, na Austrália ou em universidades norte-americanas ou do Canadá. Portanto, saíram para outros países e foi uma debandada muito grande”, descreveu.
Em contrapartida, “também chegaram novos portugueses a Macau”, onde “tem havido uma renovação, sobretudo na área do direito”.
Entretanto, Macau vive outro momento, quer diversificar a sua actividade económica, para o que “precisa de ir buscar mais gente”. Porém, “para ir buscar mais gente, tem que interessar a mais gente”, ou seja, “tem que haver outras dinâmicas”, disse.
Instada a lançar um olhar sobre os primeiros 25 anos da RAEM, Hagatong sublinhou que “as coisas aconteceram com paz, sossego e grande tranquilidade, que é o principal nas relações com a China”. “O padre [historiador António da] Silva Rego escreveu uma frase que acho importante: ‘As relações entre Portugal e a China são como o cipreste, que vacila mas nunca parte’. Portanto, uns dias estão melhores, em outros pior, mas aquilo mantém-se e é isso que temos que preservar”, afirmou.
As restrições à liberdade de expressão na sequência dos tumultos em Hong Kong mereceram da gestora uma crítica moderada. “É evidente que convinha que não houvesse essas tentativas [de limitação da liberdade de expressão] para se manter a paz, que tem sido exemplar naquela zona, mas também as pessoas têm de saber viver à chinesa – que é outra coisa a desenvolver: fórmulas mais orientais. E muitos sabem muito bem dizer as coisas e fazê-las. É um mundo completamente diferente do nosso”, afirmou.
“Para quem chega lá, de um momento para o outro, é um contexto muito diferente. Mas sempre foi, é preciso também dizê-lo. O ambiente é um bocadinho diferente do ocidental, sobretudo do nosso, em que os jornalistas têm tanta liberdade. Aliás, Portugal é classificado como um dos países onde realmente há mais liberdade no jornalismo”, acrescentou. In “Jornal Tribuna de Macau” – Macau com “Lusa”
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