Estudo analisou métodos não invasivos para diagnóstico mais precoce desta doença, que é uma causa frequente de abstinência escolar
As dores menstruais são o principal sintoma de endometriose em adolescentes e jovens mulheres, como indica um estudo da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), publicado no Journal of Pediatric and Adolescent Gynecology.
Coordenada por Pedro Viana Pinto e João Bernardes, docentes da FMUP, a equipa avaliou estudos internacionais envolvendo cerca de 2200 adolescentes e jovens com idades compreendidas entre os 8 e os 25 anos e suspeita de endometriose.
Descrita pela primeira vez na década de 1940, a endometriose é uma reação inflamatória causada pela presença de tecido endometrial fora do útero, principalmente nos ovários, peritoneu e órgãos adjacentes, como bexiga e reto. Embora seja considerada benigna, esta patologia pode causar dor incapacitante, lesões severas nos órgãos afetados e infertilidade, além de ter um forte impacto na qualidade de vida.
O estudo da FMUP analisou os sintomas e a eficácia de métodos de diagnóstico não invasivos, designadamente a ecografia ginecológica e a ressonância magnética, na obtenção de um diagnóstico precoce. Atualmente, estima-se que seis em cada dez mulheres com doença não têm um diagnóstico estabelecido.
Os resultados deste estudo mostram que as cólicas menstruais (que habitualmente precedem a menstruação e afetam sobretudo o abdómen) e a dor pélvica persistente são os sintomas mais comuns da doença na população em estudo.
“A dor menstrual intensa não deve ser considerada normal e deve ser avaliada o mais precocemente possível, com vista a melhorar a qualidade de vida destas mulheres. Neste grupo de adolescentes e jovens, a dor parece ser mesmo mais severa do que em mulheres mais velhas, favorecendo a teoria de que a doença mais inicial pode ser mais sintomática e progressiva”, refere Pedro Viana Pinto, da FMUP.
As faltas às aulas constituem outro sinal de alerta.” A endometriose é uma causa frequente de abstinência escolar, sendo este um sinal que deve chamar a atenção para esta doença”, aconselha o investigador da FMUP.
“É essencial reconhecer precocemente os sintomas”
Para Pedro Viana Pinto, “é essencial reconhecer precocemente os sintomas e procurar fazer o diagnóstico, de forma proativa, de modo a ajudar as mulheres que sofrem desta condição ginecológica”.
Este trabalho realça, a propósito, a importância do diagnóstico não invasivo de endometriose entre as adolescentes. “A ecografia e, sobretudo, a ressonância magnética poderão ter um papel importante, podendo dispensar a necessidade de cirurgia, tal como já acontece nas mulheres adultas”, reforçam os autores.
Com efeito, entre as adolescentes e jovens com sintomas suspeitos de endometriose, cerca de 33% apresentaram pelo menos um sinal da doença em ecografia. Entre as que tinham endometriose confirmada ecograficamente, 48,5% tinham endometriose profunda, infiltrativa, e 45% apresentavam endometriose ovárica. Nas raparigas e jovens selecionadas e que se submeteram a ressonância magnética, metade tinha sinais de endometriose.
“A ressonância magnética parece ser uma ferramenta de diagnóstico promissora, mesmo em doentes com ecografia prévia considerada normal. Nesta faixa etária, pelas eventuais limitações à técnica de ecografia inerentes, a ressonância pode apresentar um lugar ainda mais relevante para um diagnóstico mais precoce e atempado desta doença”, admitem.
O estudo, intitulado “Non-invasive diagnosis of endometriosis in adolescents and young female adults: a systematic review”, contou com a participação deInês Jerónimo Oliveira, no âmbito do Mestrado Integrado em Medicina na FMUP, a par de Pedro Viana Pinto e João Bernardes, professores de Obstetrícia e Ginecologia da Faculdade de Medicina. Universidade do Porto - Portugal
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