Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 15 de setembro de 2024

Reino Unido – Compositor português escolhido para compor obra para a Filarmónica de Londres

O compositor português Jorge Ramos foi escolhido para o programa Jovens Compositores da Filarmónica de Londres, na temporada 2024-2025, anunciou a orquestra britânica

Jorge Ramos, no âmbito deste programa, vai escrever uma obra inédita encomendada pela Orquestra Filarmónica de Londres, sob a mentoria da compositora cubano-americana Tania León, que lidera a residência artística.

A nova obra de Jorge Ramos será estreada no Queen Elizabeth Hall do Southbank Centre, na capital britânica, em 2 de julho de 2025, acrescenta a orquestra.

O programa Young Composers da London Philharmonic Orchestra (LPO) “visa apoiar o desenvolvimento” de novos talentos, proporcionando “uma oportunidade única de mentoria e criação de novas obras”. Este ano o programa é desenvolvido sob a orientação da Tania León, vencedora do Prémio Pulitzer pela sua obra orquestral “Stride”, Compositora em Residência da LPO, na temporada que agora se inicia.

A nova obra de Jorge Ramos será composta para orquestra de câmara e obedecerá à temática “Memória”. A estreia, a realizar no concerto “Debut Sounds” (“Sons em estreia”, em tradução livre), no termo da temporada, ficará a cargo de um ensemble formado por solistas da LPO e por músicos do Foyle Future Firsts, programa de desenvolvimento de jovens instrumentistas.

Jorge Ramos foi selecionado para o programa Young Composers 2024-2025 da LPO com os britânicos Daniel Soley, Joy Nkoyo e Zach Reading, e a galesa-australiana Niamh O’Donnell.

O programa Young Composers inclui seminários e ‘workshops’ ao longo da temporada, “permitindo que os compositores experimentem novas ideias e interajam diretamente com os músicos da Orquestra [Filarmónica de Londres], recebendo ‘feedback’ num ambiente colaborativo e exploratório. A temporada culmina num concerto público, onde as novas criações serão apresentadas em primeira audição”, esclarece o comunicado divulgado.

Jorge Ramos nasceu em Braga há 29 anos. Em 2020 venceu o 1.º Prémio de Composição SPA/Antena 2 e, em 2018, o Prémio de Música na Mostra Nacional de Jovens Criadores, da Fundação da Juventude.

Licenciado e mestre pela Escola Superior de Música de Lisboa, depois de ter iniciado a formação no Conservatório de Música Calouste Gulbenkian de Braga, Jorge Ramos completou o doutoramento em Composição Musical no Royal College of Music London, onde foi também professor assistente nos anos de 2021 a 2023.

Compositor, artista sonoro e investigador, Jorge Ramos vive entre Braga e Londres. A sua obra inclui música a solo, de câmara, sinfónica, electroacústica, eletrónica. Compôs para cinema, palco, instalações e publicidade, e para a banda sonora da candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura 2027. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo


Portugal - Invasões Francesas: Canhões voltam a ecoar na serra em recriação histórica da Batalha do Buçaco

Passados 214 anos da Batalha do Buçaco, “os canhões voltam a ecoar na serra, nos dias 27 e 28 de setembro, e as encostas voltam a ser calcorreadas pelas fardas dos exércitos português e inglês frente às tropas francesas”.


Os municípios da Mealhada, Mortágua e Penacova organizam a recriação histórica daquela que foi “a maior batalha de sempre ocorrida em território português, a 27 de setembro de 1810, com a presença de mais de 200 recriadores, nos três municípios do território Mondego-Bussaco”, afirma numa nota divulgada a Câmara da Mealhada.

“A Batalha do Bussaco iniciou-se pelas 07h30 com um denso e espesso nevoeiro. De um lado as tropas francesas, lideradas por Massena”, do outro as forças portuguesas e inglesas, sob o comando do Duque de Wellington, “a defenderem o território e a impedirem a passagem do inimigo a todo o custo, naquele que era o segundo maior ataque das forças napoleónicas”, recorda a mesma nota, indicando que “é todo o ambiente que se viveu nas Invasões Napoleónicas que mais de 200 recriadores vão trazer à tona, fazendo o público recuar mais de dois séculos”. In “LusoJornal” - França


A voar por cima das águas










Vamos aprender português, cantando

 

A voar por cima das águas


Oh, ai, meu bem, como baila o bailador

oh, meu amor, a caravela também

oh, bonitinha, ai, que é das penas que é das mágoas

sendo nós como a sardinha a voar por cima das águas

 

Vai de roda quem quiser

e diga o que tem a dizer (certo)

sonhei muitos, muitos anos por esta hora chegada

de Lisboa para a Índia vou agora de abalada

 

Mas em frente de Sesimbra, logo um corsário francês

nos atirou para Melides com o barco feito em três

e por Deus e por el-rei, que grande volta que eu dei

 

Oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

 

Oh, ai, meu bem, como baila o bailador

oh, meu amor, a caravela também

oh, bonitinha, ai, que é das penas, que é das mágoas

sendo nós como a sardinha a voar por cima das águas

 

Ena, que alegria enorme (hey)

uns mais ou menos conforme (certo)

mas que terras, maravilha, mais parece uma aguarela

que eu vejo da minha barca branca, azul e amarela

 

A lua dormia ali e com o sol é tal namoro

que as montanhas estavam prenhas e pariam prata e ouro

com Jesus no coração faz as contas, ó Fernão

 

Oh, é tão lindo,

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

 

Oh, ai, meu bem, como baila o bailador

oh, meu amor, a caravela também

oh, bonitinha, ai, que é das penas, que é das mágoas

sendo nós como a sardinha a voar por cima das águas

 

Mais cuidado no bailado

que andamos tão baralhados (certo)

nunca vi bichos medonhos tão soltos e atrevidos

que nos fomos logo a pique com o bafo dos seus grunhidos

 

E todo nu sobre o penedo de mãos postas a rezar

até me tremiam as carnes por os não ter no lugar

e ainda por cima a chover, vejam lá o meu azar

 

Oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

 

Oh, ai, meu bem, como baila o bailador

oh, meu amor, a caravela também

oh, bonitinha, ai, que é das penas, que é das mágoas

sendo nós como a sardinha a voar por cima das águas

 

Ei valente rapazinho (ah)

a cantar ao desafio (certo)

matei mouros, malabares, quem foi à guerra fui eu

afundei grandes armadas, nunca ninguém me venceu

mas ao ver o cu de um mouro foi tal susto, grande e forte

qu’intéa bexiga mijei e de todo estive à morte

siga a roda sem parar, que a gente vai a voar

 

Oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

oh, é tão lindo, oh, é tão lindo

 

Fábia Rebordão – Portugal

Composição:

Fausto Bordalo Dias - Portugal


 

sábado, 14 de setembro de 2024

Angola - Carlos Almeida pretende massificar o basquetebol nas escolas e nos bairros

O ex-basquetebolista Carlos Almeida abraçou o projecto “Massificar o basquetebol nas escolas e bairros do Soyo”, numa iniciativa da petrolífera Etu Energias, no âmbito da sua responsabilidade social


Numa primeira fase, o antigo craque do Petro de Luanda, 1.º de Agosto e da Selecção Nacional vai fazer o levantamento das quadras desportivas para a efectivação da modalidade, que se encontra adormecida na vila do Soyo.

O ex-secretário de Estado dos Desportos disse ter abraçado o projecto por ter sido um basquetebolista de referência. "Venho a defender esta iniciativa há muitos anos. Foi assim que abracei este projecto, onde vou fazer a minha parte com muita dedicação, como fiz quando defendi as cores do nosso país”, afirmou.

Para o basquetebolista, o convite da petrolífera Etu Energias para massificar a modalidade é um reconhecimento da empresa angolana à sua pessoa, pelo contributo que deu ao basquetebol, tanto nos clubes, como na Selecção.

As crianças, adolescentes e jovens da vila do Soyo e arredores, que pretendam abraçar o basquetebol e tornar-se atletas de referência a nível da província do Zaire e do país, podem contar com os préstimos de Carlos Almeida. O ex-atleta pretende deixar um "legado inesquecível”.

Além da escassez de material, do pouco tempo que manteve com alguns jovens ávidos em praticar o basquetebol, Carlos Almeida disse ter notado que lhes falta conhecimentos sobre a modalidade.

Com a iniciativa da petrolífera, referiu, essas barreiras vão ser ultrapassadas e o projecto de requalificação das quadras desportivas, tanto nas escolas e bairros do Soyo, vai proporcionar melhores condições a todos aqueles que aspiram em ser basquetebolistas de referência.

Para um trabalho eficaz relativamente à massificação da modalidade, o antigo craque precisou que vai contactar alguns companheiros no processo de treinamento e na transmissão de conhecimentos. Fula Martins – Angola in “Jornal de Angola”


França - Cap Magellan procura os melhores da comunidade portuguesa

Estão abertas as candidaturas aos prémios anuais da Cap Magellan, nas temáticas melhor estudante de liceu, melhor estudante do ensino superior, melhor projecto associativo, melhor iniciativa cidadã, melhor jovem empresário e melhor revelação artística


Cinco destes seis prémios dão direito a um prémio financeiro de 1500 euros cada.

A Cap Magellan entregará os prémios na edição 2024 na sua tradicional Noite de Gala, um evento anual de celebração da lusofonia, que este ano terá lugar, em data a definir, no coração do Quartier Latin de Paris. A noite terá lugar no prestigiado anfiteatro Richelieu da Universidade de La Sorbonne e reunirá personalidades de todas as esferas da vida. Estudantes, professores, artistas, associações, empresários e responsáveis ​​​​de língua portuguesa, todos estarão reunidos em torno das tradicionais cerimónias de entrega de prémios e de diversas atividades.

Grandes novidades para 2024, e de acordo com o local desta nova edição, um questionário interativo e ao vivo irá testar os conhecimentos das 600 pessoas do público. As perguntas incidirão sobre a revolução de 25 de Abril de 1974, cujo 50º aniversário se celebra, e sobre Luís de Camões, por ocasião dos 500 anos do seu nascimento. Será ainda atribuído um prémio ao grande vencedor deste Quiz, durante a Gala.

Conheça em pormenor os prémios 2024

Prémio Cap Magellan – Fundação Calouste Gulbenkian para Melhor Aluno do Ensino Secundário: no valor de 1500 euros, premeia um jovem estudante do ensino secundário ou finalista do ensino secundário que, no âmbito dos estudos do ensino secundário, se tenha destacado ao longo do seu percurso académico. A ligação à Lusofonia pode surgir da origem do aluno ou da sua formação educativa.

Cap Magellan – Prémio NovaDelta para o Melhor Aluno: no valor de 1500 euros, destina-se a estudantes que demonstrem um conhecimento aprofundado de uma temática ligada à lusofonia. A ligação à lusofonia pode surgir da origem do aluno ou da sua formação educativa.

Prémio Cap Magellan – Império Assurances para Melhor Projeto Associativo: no valor de 1500 euros, destina-se a associações que se destaquem com um projeto associativo original ou inovador de língua portuguesa.

Cap Magellan – Prémio Fidelidade Melhor Jovem Empreendedor: no valor de 1500€, este prémio é atribuído a qualquer pessoa que, através das suas funções numa empresa, se destaque pela implementação de um projeto empreendedor original, útil e benéfico para o público em geral. A ligação à lusofonia pode surgir da origem do empresário ou do público visado e afectado pela acção empresarial.

Prémio Cabo Magalhães para a Melhor Iniciativa Cidadã: no valor de 1500€, este prémio destina-se a um cidadão ativo que se destaque com uma iniciativa de cidadania lusófona.

Cap Magellan – Prémio Vilamoura de Melhor Revelação Artística Musical: este prémio não financeiro destina-se a jovens lusófonos apaixonados pela música que desejam ser recompensados ​​pelo seu talento no domínio da música. In “Bom dia Europa” – Luxemburgo

Mais informações e candidaturas aqui.


Polónia – Português André Soares vence a prova de corrida por pontos do mundial de ciclismo de estrada para surdos

O ciclista português André Soares sagrou-se esta sexta-feira campeão do Mundo da corrida por pontos, no Mundial de ciclismo de estrada para surdos, a decorrer na cidade polaca de Swietokrzyskie, depois do bronze na velocidade


Soares bateu dois alemães pelo ouro, acabando com 82 pontos, mais 21 do que Felix Wahala, segundo, e mais 22 do que Stefan Kneer, terceiro.

O ciclista luso foi o melhor nas 30 voltas a um circuito com um quilómetro, com um sprint pontuável de duas em duas voltas, tendo pontuado em todos os sprints, além de ganhar uma volta ao pelotão e conseguir mais 20 pontos.

Foi o segundo pódio para o português em Swietokrzyskie, depois do bronze na velocidade a abrir a participação no Mundial, que termina domingo com a corrida de fundo.

Nesta mesma prova, o luso João Marques acabou na 12.ª posição final, sem pontos somados.

Citado pela Federação Portuguesa de Ciclismo, o selecionador Válter Sousa elencou esta como “a corrida perfeita do André Soares”, perante uma equipa alemã “mais forte” que o luso fez por controlar.

“Ganhou aí [ao seguir com um dos rivais] os 20 pontos da volta. Mas, depois, esteve muito bem, andando sozinho na frente para evitar riscos de queda no pelotão. E, com isso, foi somando mais pontos, o que lhe deu a vitória. O João Marques resguardou-se e na segunda volta esteve ativo, mas com as fugas que havia não pontuou”, analisou. In “Bom dia Europa” - Luxemburgo

Cabo Verde - Sos Mucci e Garry Impressionam com o Lançamento de "Minina"

O aguardado lançamento de "Minina", a mais nova colaboração entre Sos Mucci e Garry, faz parte do álbum Nuvens e já está conquistando os fãs nas redes sociais e plataformas digitais. Com produção musical de Dodas Spencer e captação realizada no estúdio de Garry, a música, carregada de sentimentos, traz versos que abordam temas profundos com uma sonoridade envolvente.


A produção visual ficou a cargo da Feia TV Multimedia, com captação de Willam Gomes, iluminação por Derrick Silva, e uma edição cuidadosa feita também por Willam Gomes. A combinação desses elementos resultou em um videoclipe que complementa perfeitamente a melodia e a letra emocional.

Nos comentários dos fãs, a recepção tem sido calorosa e cheia de entusiasmo. Alguns seguidores destacaram a química entre os artistas, como Patrick Ribeiro, que elogiou a entrada de Garry na faixa: “Grande Dupla! Entrada de Garry top, muzika sabi.” Outros, como Tatiana Semedo, expressaram seu orgulho: “Sucesso nha ídolo, mi é bu fã de mais.”

A música pode ser ouvida nas principais plataformas de streaming, e o videoclipe já está disponível no YouTube, prometendo continuar a ser um sucesso nas próximas semanas. In “Dexam Sabi” – Cabo Verde


sexta-feira, 13 de setembro de 2024

Macau - Comunidade macaense e portuguesa “não tem tido o devido respeito e apoio por parte de quem governa”

Sam Hou Fai, candidato único às eleições para Chefe do Executivo que se vão realizar a 13 de Outubro, encontrou-se com os responsáveis da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Jorge Fão, presidente da assembleia geral da associação, aproveitou o encontro para pedir mais apoio para os idosos e uma política habitacional mais flexível. Outro tema em cima da mesa foi a comunidade portuguesa e macaense. Ao Ponto Final, Fão disse que, nos últimos anos, a comunidade não tem sido apoiada pelo Governo e, por isso, instou Sam Hou Fai a ser mais proactivo neste campo


Sam Hou Fai, previsivelmente o próximo Chefe do Executivo da RAEM, encontrou-se, na tarde de terça-feira, com os dirigentes da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Jorge Fão, presidente da assembleia geral da APOMAC, contou ao Ponto Final que, na ocasião, foram pedidas medidas de apoio para idosos e políticas de habitação mais flexíveis. Por outro lado, Sam Hou Fai foi instado a ter uma postura mais próxima da comunidade portuguesa e macaense.

Fão deixou várias críticas à forma como o actual Governo de Ho Iat Seng se relacionou com a comunidade portuguesa e macaense e afirmou mesmo: “[A comunidade portuguesa e macaense] não tem tido o devido respeito e apoio por parte de quem governa”.

“Não basta dizer-se que se apoia a comunidade e que a língua portuguesa é muito importante e a cultura é importante, há que evidenciar isso na prática, há que marcar presença em eventos organizados pela comunidade portuguesa ou macaense”, salientou, notando também que “há projectos da comunidade portuguesa e macaense que nem são analisados, são logo chumbados, ou dão uma migalha”.

Com Sam Hou Fai, a relação pode ser outra. Jorge Fão disse acreditar que o antigo presidente do Tribunal de Última Instância (TUI) será “mais proactivo”, dado que fez parte da sua formação profissional em Portugal e também fala português.

Outra das questões para as quais os responsáveis da APOMAC chamaram a atenção de Sam Hou Fai teve a ver com o custo de vida actual em Macau, nomeadamente as dificuldades que os idosos têm vindo a sentir. Fão pediu que o próximo Governo aumente a pensão para idosos para 4000 patacas. Segundo Fão, Sam Hou Fai respondeu que irá estudar a proposta.

Os problemas habitacionais foram também abordados na reunião entre Sam Hou Fai e a APOMAC. “As habitações que vão ser distribuídas devem ser mais abrangentes. Há muitos condicionalismos para arrendar aquelas habitações ou mesmo para vender as casas económicas. O Governo deve pensar num formato mais abrangente. O formato criado agora não é abrangente”, disse, acrescentando que “o Governo devia ser mais generoso”.

Fão indicou ainda que, durante a reunião, os responsáveis da APOMAC manifestaram “apoio incondicional” à candidatura de Sam, uma vez que o candidato foi funcionário público. “É muito bom poder ter um funcionário público como o mais alto cargo de Macau”, sublinhou o presidente da assembleia geral da associação, acrescentando que Sam Hou Fai “irá trabalhar em prol do povo e não retirar benefícios da função que ocupa”.

Advogados pedem modernização das leis em encontro com Sam Hou Fai

Sam Hou Fai encontrou-se ontem de manhã com os responsáveis da Associação dos Advogados de Macau (AAM). Na reunião, os advogados sugeriram a promoção da “modernização das leis” e abordaram “a questão das perspectivas de evolução dos jovens advogados e da promoção dos trabalhos de conciliação e arbitragem por parte dos advogados”, indica o comunicado da candidatura de Sam Hou Fai. Por outro lado, a associação liderada por Vong Hin Fai mostrou-se atenta ao “impacto da transformação económica sobre o sector da advocacia, e ao reforço de entusiasmo dos advogados pelo exercício da profissão na Zona de Cooperação Aprofundada”.

Candidatura de Sam Hou Fai auscultou opiniões de dançarinos

Na manhã de terça-feira, Chan Ka Leong, representante e chefe adjunto da sede de candidatura de Sam Hou Fai, encontrou-se com os responsáveis da Associação de Dançarinos de Macau. Na ocasião, segundo um comunicado divulgado pela candidatura de Sam Hou Fai, foi discutido o desenvolvimento da cultura e artes, bem como da educação artística de Macau. Durante o encontro, a Associação de Dançarinos de Macau fez também uma apresentação sobre a situação geral do intercâmbio de artes de dança entre Macau e o interior da China. André Vinagre – Macau in “Ponto Final”


Macau - Nova exposição apresenta mais de 40 fotografias dos quatro cantos do mundo lusófono

A Somos – ACLP inaugura no fim do mês uma exposição fotográfica que apresenta as fotografias vencedoras e as menções honrosas do seu concurso anual de fotografia dedicado à cultura lusófona. A exposição “Somos Imagens da Lusofonia – Em cada rosto, um legado colectivo” quer promover a comunicação em português e a divulgação das tradições lusófonas


A Somos – ACLP, Associação de Comunicação de Língua Portuguesa, estreia, no dia 27 de Setembro, a exposição de fotografia “Somos Imagens da Lusofonia – Em cada rosto, um legado colectivo”, que permanecerá de portas abertas até ao dia 12 de Outubro do corrente ano. A exposição, comissariada pelo arquitecto Francisco Ricarte, apresenta as fotografias vencedoras do concurso anual organizado pelo Somos. O foco desta edição foi a fotografia de retrato, dando a conhecer as várias que compõem o mundo lusófono e reflectindo a multiculturalidade e a interculturalidade dessa rede. A cerimónia de abertura, no dia 27 de Setembro, inclui um espectáculo de dança contemporânea pela companhia Dança Brasil e música pelo DJ Cuco.

O primeiro prémio do concurso foi atribuído a Luís Godinho, de Portugal, pela sua fotografia “São Tomé e Príncipe”, que capta a alegria das crianças deste país. O segundo prémio foi entregue a Bruno Pedro pela sua fotografia “Paz em Cabo Delgado”, que retrata uma menina sorridente no meio da província de Cabo Delgado, em Moçambique, assolada por conflitos. O terceiro prémio foi dado a Jorge Bacelar pela sua fotografia “Momento de descanso”, que reflecte a vida de um agricultor em Salreu, Portugal, com as suas vacas e cães. Foram ainda conferidas três menções honrosas a João Galamba, de Portugal, Milton Ostetto, do Brasil, e Raphael Alves, do Brasil, pelas suas fotografias que destacam as festas tradicionais, a pesca artesanal e os efeitos da seca na bacia amazónica, respectivamente.

A exposição, que conta com o apoio do Fundo para o Desenvolvimento da Cultura do Governo de Macau, apresenta não só as fotografias vencedoras, mas também cerca de quatro dezenas de outras fotografias seleccionadas pelo júri, pela sua relevância e valor na representação das dimensões culturais da Lusofonia. Com esta exposição, a Somos – ACLP pretende promover a comunicação em português e fomentar um conhecimento mais profundo do mundo lusófono, principalmente das tradições e características da lusofonia. A Somos pretende, simultaneamente, realçar o papel de Macau como plataforma de união entre a China e os países/regiões de língua portuguesa.

Esta exposição fotográfica organizada pela Somos – ACLP oferece uma plataforma para os fotógrafos mostrarem a diversidade cultural e o património do mundo lusófono através da lente da fotografia de retrato. Com foco nas caras individuais, as fotografias reflectem a singularidade das tradições e caraterísticas lusófonas. As fotografias vencedoras, bem como outras imagens seleccionadas, destacam vários aspectos da cultura lusófona, incluindo a alegria, a resiliência, a esperança e o legado. In “Ponto Final” - Macau


Angola - Voar daqui para fora

A notícia de que Angola lidera a lista de vistos concedidos pelos consulados portugueses espalhados pelo mundo gerou um amplo debate sobre aquilo que todos já sabem, mas que fingem que não está a acontecer. Os angolanos não são a maior comunidade de estrangeiros em Portugal, esta honra cabe à comunidade brasileira, mas os angolanos lideram a lista de cidadãos que mais imigram para Portugal. Todos os dias, partem do País jovens sem previsão de regresso, e mais outros partiriam se pudessem. A crise financeira, o desemprego, a falta de estabilidade política, económica e social, a falta de perspectivas e as incertezas quanto ao futuro têm provocado a fuga de muitos quadros qualificados do País

Entre Janeiro e Agosto de 2024, o Consulado-Geral de Portugal em Luanda concedeu 6026 vistos a cidadãos angolanos, um aumento considerável se comparado ao mesmo período do ano de 2023, em que foram concedidos apenas 734 vistos. Isto, segundo informação divulgada pelo Jornal Público de 05 de Setembro último, teve como fonte dados do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal. Se, no ano passado, a missão consular portuguesa em Luanda era o sexto maior centro emissor de vistos para Portugal (superado pelos consulados na Cidade da Praia, São Paulo, São Tomé, Rio de Janeiro e Salvador da Baia), neste, estamos no topo da lista, e, pelo andar da carruagem, ainda vamos liderar durante um bom período. E os números só não são mais expressivos porque ainda existem muitas barreiras e outros condicionalismos que limitam a concessão de vistos. É que se mudam os tempos e unem-se as vontades. E a vontade de muitos angolanos é a de voar daqui para fora. As autoridades fazem disto um tabu, o assunto não entra nas agendas dos debates mediáticos, finge-se que não se vê, que não se ouve e que não se lê. Até mesmo governantes e pessoas bem posicionadas no aparelho do Estado, da Cidade Alta e do Partido (entenda-se MPLA) criaram condições e têm "despachado" os seus familiares para Portugal. É tudo e todos a voar daqui para fora.

Tenho dito que o Presidente João Lourenço tem de olhar para estes cenários com atenção e preocupação, e o seu Executivo deve criar condições para atrair os angolanos que estão lá fora e manter os que cá estão. Ter hoje um visto para Portugal, Espanha, França, Bélgica, Brasil, Reino Unido ou Países Baixos representa para muitos cidadãos a realização de um sonho. O sonho de uma vida melhor e de novas oportunidades. É uma fuga ao sofrimento, à fome, à miséria e à falta de oportunidades que muitos enfrentam. É procura por melhor estabilidade social e económica, de melhor educação e saúde para os seus filhos. Ter uma casa em Portugal, ter filhos lá a estudar e um bom seguro de saúde faz parte das prioridades de muitos altos quadros e funcionários da Cidade Alta, de membros do Executivo de João Lourenço e outros. Esta semana, o NJ traz os dados e números dos nossos cidadãos que estão a voar daqui para fora, trazendo o testemunho de uma mulher que se mudou para Portugal com a família, em 2017, e na busca de estabilidade social. As pessoas cujas vidas dependem da decisão de sair do seu País irão cruzando fronteiras em busca de novas oportunidades. Tudo isso é reflexo de falta de respostas aos anseios dos jovens, à falta de credibilidade nas lideranças e à fragilidade das instituições. Ninguém deixa o seu País, a sua família e os seus amigos por capricho. A vida de imigrante não é fácil. Os processos de inclusão e de adaptação ao país acolhedor nem sempre são fáceis. As pessoas estão a partir em busca de qualidade de vida, em busca de saúde e educação para si e os seus filhos. Faz-nos falta uma estratégia para a diáspora. Precisamos de um programa nacional de acompanhamento e apoio ao desenvolvimento da nossa diáspora. Uma estratégia que valorize o seu potencial, a sua qualidade, a sua dimensão cultural, humana, técnica, científica e académica. Não se pode deixar prolongar este sentimento que a solução está em voar daqui para fora. Temos de criar condições para que os nossos cidadãos não tenham de sair do País para ir atrás de condições de emprego, saúde e educação lá fora. Temos de ter estratégias para atrair para a terra aqueles que estão lá fora. Não podem estar todos a querer voar daqui para fora. Temos de encarar o assunto com verdade e frontalidade. Armindo Laureano – Angola in “Novo Jornal”


Brasil - Redes sociais ativas na denúncia e queda do ministro

Em pouco mais de um dia, um dos ministros de Lula mais respeitados intelectualmente e mais representativo da população negra e mestiça brasileira, hoje majoritária, foi às cordas e à lona, derrubado por nocaute. Cada lance desse choque extremamente rápido, estremeceu as redes sociais de esquerda, enquanto era noticiado e comentado com pormenores pela imprensa.

Embora negue e se defenda alegando ser inocente e mesmo vítima, dezenas de denúncias, sejam de alunas, de subordinadas ou de colegas, falam de toques inesperados nos seus corpos correspondentes a assédios e importunações. Na falta de provas materiais e enquanto prosseguem investigações, algumas por ele mesmo pedidas, o ex-ministro da pasta de Direitos Humanos, Sílvio de Almeida, está na situação de acusado, mas inocente.

Não sendo do PT e guardando uma certa independência que lhe permitiria negociações no momento devido, o ministro Sílvio de Almeida, dos Direitos Humanos, era - embora pouca gente dissesse - um presidenciável negro com mais chance que o deputado federal pastor Henrique Vieira, por sua formação laica e especialização em direito empresarial, econômico, tributário e social. Tem muitos inimigos por isso ou é, ele mesmo, seu pior inimigo?

Recolhido em retiro num terreiro de candomblé, depois de sua queda vertiginosa, por acusações de assédios e importunações sexuais, é difícil prever se o professor, palestrante e colunista de jornais poderá retomar sua vida pregressa normal de intelectual.

Embora a quase totalidade dos comentários postados nos canais e sites da Internet revele surpresa mas condene o ex-ministro, existe em alguns deles a crítica ao fato da denúncia não ter sido feita há mais tempo e diretamente à Justiça, em lugar de ter se tornado pública pelo canal Metrópoles e por uma Ong de origem norte-americana, Me too, dirigida pela jovem advogada Marina Ganzarolli.

Me too (pronuncia-se mitú, embora a quase totalidade diga mitiú) foi a primeira a citar o nome da ministra Anielle Franco, como uma das assediadas ou importunadas pelo então ministro Silvio de Almeida. Nessa altura, soube-se também ser péssimo o clima de trabalho dentro do Ministério dos Direitos Humanos, havendo dezenas de pedidos de demissão e de transferência de funcionários(as) por não suportarem a prepotência e autoritarismo da direção.

Logo depois da revelação da denúncia contra o ministro pelo Canal Metropoles, a professora Isabel Rodrigues, candidata a vereadora em Santo André, postou no Instagram ter sido vítima de assédio sexual, há cinco anos, pelo então professor Sílvio de Almeida, durante almoço num restaurante com outros professores. Enquanto havia uma espécie de suspense quanto à denúncia de Anielle Franco, a revelação da professora Isabel Rodrigues foi clara e objetiva, embora criticada por não ter sido feita na época em que ocorreu.

Outra denúncia feita pelo Intercept Brasil e divulgada pelo Canal 247, trata de insistentes convites telefônicos do professor Sílvio, em 2009, para uma aluna sair com ele, a fim de discutirem sua monografia e evitar que fosse prejudicada.

O Canal Opera Mundi discutiu se houve uma execução sumária do ministro Sílvio de Almeida. A jornalista Laura Catanhede estranhou o caso ter ocorrido no ano passado, mas só ter sido levado a público e parcialmente nestes dias.

A queda do ministro revelou também não ser unânime a aprovação de sua tese sobre a existência de um racismo estrutural no Brasil, análise sociológica do contexto social do Brasil, responsável por sua nomeação ao posto de ministro. Uma das mais importantes contestações, já divulgadas por seu Canal no Youtube, na indicação de Sílvio de Almeida para ministro, é a do professor Paulo Ghiraldelli - "a tese do racismo estrutural é desmentida historicamente. Não fomos estruturados pelo racismo... A tese do racismo estrutural é antidialética. Ela não capta o movimento histórico em suas lutas. Ela é ideológica: quer colocar todo brasileiro como culpado e não como responsável." A mesma contestação ao racismo estrutural é feita pelo prof, Muniz Sodré. Para ele "o racismo é institucional". Rui Martins – Suíça

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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.

 

quinta-feira, 12 de setembro de 2024

Guiné-Bissau - Investigador Sumaila Jaló diz ser necessário resgatar o pensamento revolucionário de Cabral para as lutas de hoje

Bissau - O investigador guineense, Sumaila Jaló, participou na mesa redonda sobre Cabral e a Juventude: um debate inter-geracional

O estudante em doutoramento no Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra afirma ser preciso "resgatar o pensamento revolucionário de Amílcar Cabral - enquanto ideologia progressista - para as lutas de hoje".

RFI: Amílcar Cabral teve uma relação profunda com a juventude, tanto no contexto do movimento de libertação como em termos de inspiração política e ideológica. Esta relação entre o legado de Cabral e a juventude ainda existe?

Sumaila Jaló: Existe há uma transdimensão em que podemos falar dessa relação de Cabral com a juventude. Uma primeira dimensão que é a dimensão da ausência, que consiste nas tentativas de apagamento do legado da luta e da acção revolucionária de Amílcar Cabral e dos seus camaradas no espaço público, tanto no sistema educativo como no espaço dos partidos políticos para a mobilização pública. No próprio PAIGC que ele ajudou a fundar que, a partir do golpe de 14 de Novembro de 1980, se desligou com a sua base ideológica fundadora, pan africanista, socialista e que pugna pelo progresso do povo realizado pela mobilização do próprio povo, mas também uma tentativa muito actual de certos poderes políticos identificados no caso da Guiné-Bissau, que decretam a celebração do Dia da Independência a 16 de Novembro, dia das Forças Armadas e não 24 de Setembro, que é o dia da proclamação unilateral histórica da independência da Guiné-Bissau. Uma tentativa de militarização do poder, mas também, muito recentemente, através de um despacho que impede a fixação de cartazes no espaço público para a celebração do centenário. Primeiro esta ausência, depois a presença na cultura em toda a sua dimensão na produção cultural. A figura de Cabral e o legado da luta aparece e a partir da produção cultural que a juventude se conecta com o legado de Amílcar Cabral. Através disso, os movimentos sociais que, tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde, assim como nas suas diásporas, se mobilizam com base no pensamento revolucionário de Amílcar Cabral, para a transformação. Finalmente, há uma dinâmica de resgate da figura de Cabral.

O que eu acredito é que essa dinâmica de resgate não seja no sentido de salvar o pensamento do Cabral, porque isso está salvo, 51 anos depois do seu assassinato, nós ainda falamos de Cabral e celebramos Cabral e o seu pensamento. O que nós precisamos é um resgate para o pensamento revolucionário de Cabral enquanto ideologia progressista e de transformação da realidade que nos sirva para as lutas de hoje, as lutas para a emancipação do povo guineense e cabo-verdiano, mas sobretudo para a construção de uma nova vida na paz e na dignidade em Cabo Verde, na Guiné-Bissau, em África e para toda a Humanidade.

E porque é que acontece esse distanciamento entre as classes políticas, com a sociedade civil e este legado de Amílcar Cabral?

Este desligar de entidades políticas, particularmente partidos políticos com as bases populares que mobilizam deu-se primeiro, como o próprio PAIGC, que é um movimento revolucionário de massas na sua origem. Mas a transição de sistema de partido único para a liberalização económica e depois para a abertura política. Não estou a dizer que estas aberturas não deviam ter acontecido, mas não são motivos para um partido dessa dimensão esvaziar do seu espaço o pensamento comprometido com a transformação dessas massas populares. O que aconteceu foi o aburguesamento das lideranças desses partidos políticos que repeliu a sua relação com as massas populares e essa desconexão começou a gerar desconfianças desse próprio povo que alimentou o surgimento do PAIGC com esta estrutura. Esta dinâmica se alastrou para todos os outros partidos criados com a abertura democrática: Em vez de o partido ser uma instituição ao serviço da população, o partido passou a transformar-se em entidades que se servem do erário público produzido pela população e pela massa popular.

Amílcar Cabral defendia a educação política dos jovens. Acreditava que o futuro da África dependia da formação das novas gerações conscientes e preparadas, muitos jovens foram educados pela visão de autodeterminação e igualdade. O que é que aconteceu a estes jovens? Onde é que estão estes jovens hoje? E o que é que fizeram pelo país?

Há duas questões aqui: Quando o PAIGC e o resto dos outros partidos políticos se transformaram em espécies de castas para incorporar interesses pessoais e não interesses colectivos, quadros até formados por esses partidos, na linha progressista de servir para a transformação da realidade, para o benefício de todos. Quadros que não se inscreveram na lógica de instrumentalização do partido para agendas particulares tinham duas possibilidades ou continuar e acomodar-se na destruição da base ideológica fundadora do PAIGC, por um lado, dos outros partidos que queriam ser alternativas ou então vão fora do partido político. O que acontece? Por um lado, há uma fuga de quadros, aqueles que recusaram acomodar se no sistema para não ser cúmplice da destruição do nosso país, na Guiné-Bissau, também em Cabo Verde encontrou outros refúgios fora dos nossos países.

Mas há aqueles outros que se acomodaram nos espaços das ONG ou arranjaram outra forma de sobrevivência, mais uma vez, para não fazerem parte do sistema a destruir o país. Só que nenhuma dessas opções funciona como alternativa a esses lugares de mobilização política. O que nós devemos começar a pensar em fazer é criar alternativas de todas as dimensões, tanto no espaço político quanto no espaço social e de mobilização cultural. Três dimensões fundamentais para construção de qualquer sociedade no mundo, disputarmos esses espaços, afirmarmos nos nesses espaços com novas agendas viradas para o progresso. O progresso nada mais é do que trabalhar colectivamente, consentir sacrifícios que são indispensáveis, consentir para a melhoria das nossas vidas. Porque a luta de libertação, o legado de Amílcar Cabral e dos seus companheiros, se continuar só no domínio teórico e não for concretizado no domínio da transformação da vida das populações, não serve para nada que não seja teoria e que não encontra a prática que transforme a realidade das nossas mobilizações.

Este legado de Amílcar Cabral foi esquecido pelos nossos representantes?

Foi. Primeiro porque o pensamento de Amílcar Cabral é sólido e é um pensamento que não dialoga bem com demagogia, que não dialoga bem com traição, que não dialoga bem com corrupção, que não dialoga bem como mentir ao povo. É um legado assente em princípios éticos, morais e de compromisso patriótico que as actuais lideranças políticas não têm na sua gramática política. Por isso, não estão interessados em conhecer Amílcar Cabral.

Amílcar Cabral e o seu pensamento inquietam. Amílcar Cabral e o seu pensamento fazem-nos perguntar onde estamos e por onde vamos caminhando. Lideranças políticas interessadas em construir castas, em consolidar burguesias para a captura do erário público, para interesses localizados e não colectivos, nunca estarão interessados na afirmação e consolidação do pensamento cabralista nas nossas sociedades. Por isso é que esse pensamento é repelido através de decretos e através de despachos que o pretendem apagar do espaço público. Mas isso é impossível porque, mesmo que existam mais do que esses decretos, o pensamento de Cabral que já se consolidou 50 anos na academia, na cultura, nos movimentos sociais e mesmo nesses partidos políticos, apesar de uma lógica instrumentalizada e demagoga.

Amílcar Cabral tornou-se um símbolo de luta contra o colonialismo e a opressão. Nos últimos 50 anos surgiram líderes que foram ou são vistos hoje como mentores ou guias pelos mais jovens?

Não têm surgido muitos. Há líderes que nós podemos reconhecer que tenham feito esforço em Cabo Verde e também para a África. Nós devemos reconhecer a força, a resistência e a longevidade do compromisso patriótico do comandante Pedro Pires é um exemplo. Apesar de todas as dificuldades com que se confrontou no contexto em que foi primeiro-ministro de Cabo Verde e Presidente da República, manteve o vínculo com os valores da luta de construir o bem-estar dos nossos povos. Ensinou-nos a pensar na nossa unidade, que é um legado histórico, mesmo que essa unidade não exista numa dimensão binacional.

No caso da Guiné-Bissau, nós tivemos Presidentes da República, como o Luís Cabral, que herdou uma linha, se esforçou a afirmar nos primeiros anos da independência. Depois houve três Presidentes da República, a quais eu tenho muito respeito na Guiné-Bissau.

Malam Bacai Sanhá pelo seu carácter. Em tempos em que tipos de liderança que tivemos na altura não só se divorciaram destes princípios éticos e morais, mas se desafiaram com o próprio povo. Se nós olharmos para todos os Presidentes da República na Guiné-Bissau, podemos olhar para esta figura de Malam Bacai Sanhá como aquele que não teve muito tempo na Presidência, mas que nos ensinou a construir paz, estabilidade, mesmo que seja a fogo e ferro. Temos o Serifo Nhamadjo e o Henrique Rosa, que mesmo no caso do Serifo Nhamadjo, tendo sido Presidente num contexto de golpe de Estado e tenha havido muitas interpretações dessa altura. A forma como foi Presidente da República.  Estamos a falar de um Presidente que chegou à Presidência da República através de um golpe de Estado, mas que teve um desempenho ético e moral de larga dimensão, melhor que a situação actual. São exemplos que não são perfeitos, exemplos criticáveis, mas exemplos aos quais nós podemos olhar para fazer melhor, sobretudo melhor, no sentido que eles não conseguiram, no sentido de recuperar o pensamento cabralista enquanto base ideológica para olhar para a realidade, compreender a realidade e transformar a realidade para o nosso bem-estar. In “Agência de Notícias da Guiné” – Guiné-Bissau com “RFI”


Cabo Verde - Centenário de Amílcar Cabral: “É a uma figura a respeitar, mas não com a dimensão que se fala”

Muito mito, pouco rigor. Nestes 100 anos do nascimento de Amílcar Cabral, podemos resumir assim as palavras do politólogo, professor universitário e um dos poucos cabo-verdianos que escreveu sobre o antigo líder do PAIGC [Amílcar Cabral – Um Outro Olhar]. Por outro lado, defende, trazer para a contemporaneidade as ideias de Cabral não faz qualquer sentido


Amílcar Cabral nasceu há 100 anos. Figura marcante da luta pela independência e do nacionalismo guineense e cabo-verdiano, o fundador do PAIGC acabou assassinado por elementos do próprio partido e passou a ter o estatuto de lenda, com o mito a confundir-se com a realidade e muitas vezes a ultrapassá-la.

“O sistema de ensino foi a principal vítima dos 15 anos do Partido Unido em Cabo Verde”, diz ao Expresso das Ilhas Daniel dos Santos. “Por isso, é natural que as academias, a elite nova e pensante, escreva num tom panegírico. Isto só mostra a qualidade das elites que temos”.

“O sistema de ensino daquele tempo ainda vigora no nosso sistema de ensino”, continua o professor universitário. “Não se fala da democracia, mas fala-se da independência, dos heróis da independência. Os heróis da democracia são, pura e simplesmente, marginalizados e ignorados pela historiografia cabo-verdiana da actualidade. Eu acho que se deve discutir Cabral, se deve celebrar Cabral, mas sem colocá-lo no patamar que ele não tem”.

A academia engajada

Entre 1963 e 2020 foram publicados 450 trabalhos científicos sobre Cabral – do Egipto à Suécia, da Austrália ao Japão. E em Cabo Verde?

“Em Cabo Verde, praticamente, não existem. Eu não os conheço”, assegura Daniel dos Santos. “O que há são pequenos artigos publicados, aqui e ali, em revistas, mas em revistas da Fundação Amílcar Cabral, da Uni-CV, mais nada. A forma como se fazem esses trabalhos pode não atrair muitos investigadores. Quando um investigador estrangeiro vem a Cabo Verde, por exemplo, dá-se-lhe balizas: contacta esta pessoa, não contactes estes. Não é esta a perspectiva de isenção que se quer ao abordar estudos sobre Amílcar Cabral”.

Esta idolatria da academia sobre a figura, segundo o politólogo, retira discernimento, distanciamento e, acima de tudo, credibilidade científica. “Quando leio artigos de académicos, de historiadores, que passam por cima de acontecimentos que não abonam a favor de Amílcar Cabral, ignoram-nos pura e simplesmente. Quem perde é a ciência. Quem perde é a história. Mas insistem porque são assalariados da Fundação Amílcar Cabral”.

“Toda a gente conhece esses investigadores. São pagos, têm bolsas. Se não são bolsas da Fundação Amílcar Cabral, são de outras organizações. Dinheiro não lhes falta”, refere.

“As universidades devem demarcar-se das orientações que recebem dos políticos, da Fundação Amílcar Cabral e do próprio PAICV, para, de vez, abraçarem uma investigação séria que retrate Amílcar Cabral tal como ele é. Um homem com virtudes, sim, com defeitos, sim, sem o maltratar e colocando-o no lugar da história que ele conquistou por mérito próprio e com a própria vida. Não é fazendo propaganda panegírica e canonizando-o por todos os lados e em todos os sítios que se resolve esse problema”.

“Em Cabo Verde não se estuda Cabral de uma forma séria, independente e imparcial. A ideologia que sustenta o mito continua bem viva e influente” - Daniel dos Santos

A ideologia cabralista

É quando se quer contextualizar Amílcar Cabral que, entende Daniel dos Santos, começam as dificuldades. As ideias de Cabral não são aplicáveis actualmente em Cabo Verde e segundo o académico, pouco ou nada se aproveita do pensamento de Amílcar Cabral. “O regime político que foi implantado em Cabo Verde no período pós-colonial, é um regime que saiu da cabeça de Amílcar Cabral. E basta lermos a última mensagem que ele endereçou aos povos da Guiné e de Cabo Verde, em que ele desenhava um esboço do Estado a implantar em Cabo Verde e na Guiné com a independência: um regime de partido único, à frente do qual deveriam estar os melhores filhos da Guiné e de Cabo Verde. Uma ditadura”.

“Cabral tinha um projeto libertador? Certo! Mas para libertar o quê? Para libertar quem? Cabo Verde não foi libertado pela Guerra da Independência na Guiné. Quem libertou Cabo Verde foi o Movimento dos Capitães de Abril. Isto é indiscutível. Só que depois entregaram Cabo Verde ao PAIGC que instituiu um regime da mesma igualha que o Estado Novo”, afirma o docente universitário.

“O PAIGC limitou-se a substituir um partido único português por um partido único autóctone. Sei que isto é o que muita gente não quer ouvir, não quer mostrar, mas é verdade. Não estou a inventar rigorosamente nada”.

“Hoje, Cabo Verde é um país que está nos antípodas do pensamento político de Amílcar Cabral. É um país democrático, que não tem nada a ver com o regime político pensado por Amílcar Cabral”, reitera Daniel dos Santos.

A luta começa

A insurreição armada nos PALOP inicia-se em Angola, em 1961, com a formação de três movimentos de libertação – FNLA, MPLA e UNITA –, estende-se à Guiné-Bissau com o PAIGC e a Moçambique com a FRELIMO.

A estas insurreições armadas, Salazar respondeu com a deslocação de milhares de soldados para as colónias, o que provocou o isolamento português a nível internacional e uma crescente oposição interna contra a guerra colonial, que vem culminar com a queda da ditadura no dia 25 de Abril de 1974.

Amílcar Cabral explicou a ideologia que o guiava a um grupo de intelectuais, em Londres, em 1971: “nós acreditamos que uma luta como a nossa é impossível sem ideologia. (...) Partir das realidades do nosso próprio país para a criação de uma ideologia para a luta não implica que se pretenda ser um Marx ou um Lenine, ou qualquer outro grande ideólogo, mas é simplesmente uma parte necessária da luta. Confesso que não conhecíamos suficientemente bem estes teóricos quando começámos. Nós não os conhecíamos nem metade do que os conhecemos agora! Nós tivemos necessidade de conhecê-los, como disse, a fim de julgarmos em que medida podíamos aproveitar a sua experiência para ajudar a nossa situação – mas não necessariamente para aplicar a ideologia cegamente, só porque ela é uma ideologia muito boa. Este é o nosso ponto de vista. Mas a ideologia é importante na Guiné. (...) Não queremos que o nosso povo seja mais explorado. O nosso desejo de desenvolver o nosso país com justiça social e com o poder nas mãos do povo é a nossa base ideológica. Nunca mais queremos ver um grupo ou uma classe de pessoas explorar ou dominar o trabalho do nosso povo. Esta é a nossa base. Se se quiser chamar a isso marxismo, chame-se marxismo”.

Um humanista radical? Não!

Recentemente, Portugal tem sido o país de onde parte a maior parte da efabulação à volta de Amílcar Cabral: quando um colóquio de académicos que decorreu em Lisboa, no ano passado, recuperou os obituários dos jornais internacionais após o assassinato, os adjectivos sucederam-se – o pacifista que teve de pegar em armas, o rebelde gentil, o diplomata combatente, o guerrilheiro moderado. Segundo Daniel dos Santos, estão aqui vários exemplos do branqueamento da imagem do antigo líder do PAIGC.

“Amílcar Cabral pacifista? Não foi. Humanista? Não foi. Obrigado a responder à violência colonialista com a violência revolucionária? Não foi”, sublinha o politólogo. “Acho que a melhor via para Amílcar Cabral sobreviver, inclusive ao próprio partido que fundou, era ter apostado na diplomacia, na propaganda, para lutar contra o colonialismo português na Guiné. Houve guineenses, como Eliseu Turpin, uma das figuras importantes do nacionalismo guineense, e um dos putativos seis fundadores do PAIGC em 56, que nunca quis ir a Conakry participar na luta armada. O Rafael Barbosa também não foi. São pessoas que não acreditaram na via armada para a libertação da Guiné”.

“Cabral é um pequeno burguês revolucionário, que apostou na violência como resposta ao regime colonial, porque o colonialismo é em si um estado de violência permanente. Mas mesmo depois da morte de Cabral violência não acabou na Guiné”, diz Daniel dos Santos.

“Amílcar Cabral tinha um discurso violento. Quando Lumumba foi assassinado, Amílcar Cabral escreveu um texto [pode ser consultado na página da Fundação Mário Soares – www.casacomum.org]. Em que ele escrevia que era um traidor e que merecia ser morto todo o guineense ou cabo-verdiano que dissesse que era português”, reforça o professor universitário.

“Veja-se também as séries de execuções que se registaram na Guiné. A cultura de fuzilamento que o próprio Cabral introduziu no PAIGC, como técnica de resolver problemas políticos. Portanto, acho que podemos apresentar Cabral, como um combatente anti-imperialista, um anticolonialista, um diplomata exímio, um grande propagandista, mas não um pacifista”, afirma o académico.

Guiné vs Cabo Verde

Idolatrado em Cabo Verde, quase esquecido na Guiné-Bissau, onde a fotografia saiu das notas e o nome abandonou a toponímia. Para visitar o mausoléu, na fortaleza José de Amura, em Bissau, é preciso pedir autorização aos militares.

“Em Cabo Verde, a aura do Amílcar Cabral ficou. Nas escolas primárias, nas escolas secundárias, na comunicação social”, explica Daniel dos Santos. “Mas, Amílcar Cabral não é uma figura do Estado, é uma figura partidária. A Fundação Amílcar Cabral e o PAICV têm muita dificuldade em lidar com essa verdade”.

“Os efeitos da acção do PAIGC e de Amílcar Cabral na Guiné foram mais no âmbito militar do que político. Em Cabo Verde são meramente políticos. A população não sofreu tanto fisicamente como sofreu na Guiné. Isto acaba por explicar alguma coisa que seja muito diferente do caso da Guiné e do caso do Cabo Verde. São processos históricos completamente diferentes”.

“Em Cabo Verde não houve violência, não houve luta armada. Na Guiné houve”, continua o professor universitário. “Quais são os efeitos desta guerra na consciência do guineense? E os das atrocidades que o PAIGC cometeu? De 1974 a 1980, cerca de 500 guineenses foram torturados e assassinados a sangue-frio, sem julgamento”.

“Mesmo em Cabo Verde”, diz o politólogo, “sou professor, lido com os jovens. Os jovens não querem saber do Amílcar Cabral. Os jovens querem ver os seus problemas resolvidos. Sim, dizem que é um herói. Mas isso é mais o resultado da grande intensidade propagandista que foi levada a cabo nas escolas”.

“Amílcar Cabral é uma figura a respeitar, mas não é com a dimensão que se fala”, conclui Daniel dos Santos. “No fim, Amílcar Cabral não passa de um homem, de um político, que foi amado e que foi odiado”. Jorge Montezinho – Cabo Verde in “Expresso das Ilhas”