Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 6 de agosto de 2017

Moçambique - Costa Neto canta Mandjolo
















Mandjolo
N'dyaka Mandjolo
Ke mbake
Nd'ya ka Mandjolo

Mandjolo
N'dyaka Mandjolo
Ke mbake
Nd'ya ka Mandjolo

Hantlissa pfana
U ta ndy kuma nddleleny

Hantlissa pfana
U ta ndy kuma nddleleny

Loku ndy sukaka pandeni, mine
Nkwakwanana
Y ngwavela kwapa ndlela
Ndy mu zinguiry, mine

Kodwa u suka Ximbanguine, muzay
N'kwakwanana
Y n'gwavela kwapa ndlela
U mu ndyndyndy wene

Loku ndy sukaka pandeni, mine
Nkwakwanana
Y ngwavela kwapa ndlela
Ndy mu zinguiry, mine

Kodwa u suka Ximbanguine, muzay
N'kwakwanana
Y n'gwavela kwapa ndlela
U mu ndyndyndy wene

Hantlissa pfana
U ta ndy kuma nddleleny

Hantlissa pfana
U ta ndy kuma nddleleny

Ka Zantaca va longolokylè
Ka Zithundu va longa psy djumba
Ku ta buya ny va ka Khatwany
Ndy lêlêtêlêny kôlê ka Tembe

Mandjolo
N'dyaka Mandjolo
Ke mbake
Nd'ya ka Mandjolo

Hantlissa pfana
U ta ndy kuma nddleleny

Hantlissa pfana
U ta ndy kuma nddleleny

A xinguila xy kwyni
Ndy ta kina xigubo
Ka mu khulu
N'davezitha

Na ndy tsimbi bedjwa, kwa nde
Ndy tlhanguela T'rapezulu

Ndy nhiketêny n'duku
N'dy ta vika ma tsôtsy
N'dlelêny, ka Madjuva

Mandjolo
N'dyaka Mandjolo
Ke mbake
Nd'ya ka Mandjolo

Ndy nhiketêny n'duku
N'dy ta vika ma tsôtsy
N'dlelêny, ka Madjuva

Mandjolo
N'dyaka Mandjolo
Ke mbake
Nd'ya ka Mandjolo


Costa Neto – Moçambique



Mandjolo

A música tem o dom de despertar sentimentos, dos melhores até piores. Na abordagem ao Mandjolo, não faço, senão, deixar-me levar por estes sentimentos, pela multiplicidade de espaços que o Mandjolo desperta em mim enquanto canção, e sem fugir claro, a algumas referência a letra da música que me foi gentilmente cedida, pelo próprio Costa Neto.

Para mim, a manifestação mais patente em Mandjolo é, precisamente de rebusque/resgate de imagens de infância, adolescência e espaço que viu nascer Costa Neto.

Há ali, uma espécie de cabra-cega de fixações de espaço, onde se confunde o artista e o homem, divididos entre dois oceanos; uma fixação da saudade pessoal e da terra que o viu nascer.

O enredo psicológico que o Costa traça, obriga-o a segurar o tempo e traz vivências de saudades daquele espaço concreto: Mandjolo, mas também de uma terra que é Moçambique e Maputo particularmente (desde Zitundo, Khatwany a Ka Tembe.)

O refrão, Mandjòlô, Nd'yàkaMandjòlô, Kèm'baku, Nd'yà ka Mandjòlô, (Mandjolo, vou a Mandjolo, irmão, vou a Mandjolo), mostra claramente, a sua ânsia em indicar a direcção da terra onde quer ir, para que rapidamente, o indiquem o caminho.

Nesta sua volta a casa, Costa, deliberadamente cria duas personagens: o do mu fana (rapaz) que tem de o acompanhar e outra, de um autóctone que o dá as coordenadas de como chegar e bem a Mandjolo (Kódwa u suka Ximbanguini, muzay, N’kwãkwãnana Y n'gwavela kwapa ndlela/ U mu ndyndyndy wénè) assim que saíres de Ximbanguini sobrinho é só seguires o caminho (siga em frente), para logo concluir que “você é um ndyndyndy.”

Esta passagem é fundamental para perceber o apego a terra por Costa, pois, logo que chega perto do autóctone e lhe pergunta por Mandjolo, o auctótone, pelas suas falas, apercebe-se logo, que aquele era um ndyndyndy.

Ora, o longo período de tempo que Costa vive na diáspora, o faria certamente perder a sua identidade com a terra que o viu nascer e consequentemente o traquejo da linguagem, mas não, logo que se pronuncia, há um reconhecimento conclusivo de quem ele é; “U mu ndyndyndy wéné”.

Concluiríamos daqui mesmo, que o Costa, nunca se desligou da sua terra, e mais, onde ele vive, vive a ânsia constante de poder pisar a sua terra e isto percebe-se no diálogo que tem com o mu fana, encarregue de o ajudar a chegar a casa, quando diz para aquele: Hantlissa mu pfana, U ta ndy kuma ndlêlêny! (se apresse rapaz que me encontras pelo caminho.)

Neste pedir para que o rapaz (mu fana) se apresse, chega a sugerir que o mesmo corra para rápido chegarem. É a ânsia, o desejo de rever a terra e logo, rever-se. É ele, a voltar ao mesmo tempo e parecendo que não, revê-se no miúdo que o acompanha e compreende naquela caminhada que não pode mais esperar, porque deu toda a sua alma, lágrimas, sobretudo alegria e força ao seu país: Moçambique.

Neste não querer adiar a viagem a Mandjolo, chega a sugerir que o entreguem o bastão para se defender dos bandidos a caminho de Madjuva (Ndy nhiketêny n’duku N’dy ta vika ma tsôtsy N'dlelêny, ka Madjuva), ficando assim claro, que na sua ânsia de querer chegar a terra, até predispõe-se a afastar os perigos pelos seus próprios meios.

Com Mandjolo, Costa nega-se a reconstruir a sua vida ouvida por terceiros; nesta caminhada, propõe-se ele próprio e por seus próprios olhos ir em busca do espaço e das pessoas que o viram nascer e crescer, mesmo que corra o perigo de se encontrar com os bandidos e com todas as consequências que dai podem advir.

Há aqui, uma ideia de identificação de pessoas e lugares e através desta, recuar no tempo e buscar o que é bom, o Xigubo por exemplo, que era dançado na casa do Régulo/chefe /autoridade local o N’davezitha, referenciado na música. (ao ouvir a música, nesta parte, ouve-se o ritmo de Xigubo.)

Costa esculpe no Xigubo, a dança que simboliza as demais da sua infância e juventude, e Mandjolo, como espaço onde se realizou o homem que fez o artista que ele é.

De facto, Mandjolo é pura projecção de si-próprio, da identidade psicológica, da auto afirmação que o faz justamente voltar a terra, para se encontrar consigo mesmo, dai que não se estranhe, que o Costa, seja tido por muitos, como o representante fiel da cultura moçambicana na diáspora, porque lá onde está, apenas vive o físico, porque o psicológico, está neste momento em Mandjolo, ou duvidam?

Há sim saudosismo em Mandjolo, há o fulgor de volta aos espaços, há um sentimento dominante de auto identificação, bem conseguidos pelo alcance estético da música.

E algo engraçado, sempre que escuto esta música, não sei porque magia, volto, as ruelas do meu bairro Polana Caniço, as velhas historias conseguidas por muito sacrifícios de quem as contava, ao inventar e refazer de histórias de vida, o arco-iris das aventuras de outiva de Bud Spencer e Trinita, das ideias envolventes de fugidas para a pista da ATCM e praia de Costa de Sol, das trepadas as árvores de amoras, no Clube (?) de Golfe da Polana (Caniço), do Castiguana maguidjana duro que empurrava a bola de chingufu a ameaçar todos que se faziam a sua frente, do M’bidji bidji, mandyndynde terrível a fisga, enfim, da minha malta da infância, sim, nós também éramos, como o Costa zinguirys, estes pássaros pequenotes que andam em grupos nas machambas e fazem ninhos com capim e flores.

E a ideia de Mandjolo, não será, senão a volta ao ninho floreado deste pássaro, desejoso, de se encontrar com o seu grupo.

Bem-haja o Costa Neto, por este seu apego à terra, por esta evocação a Mandjolo, que no fim ao cabo, é a evocação e construção dos espaços onde cada um de nós cresceu. Há sim, saudosismo puro e positivo em Mandjolo. Amosse Macamo – Moçambique in “modaskavalu.blogspot”  

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