Trabalho premiado com 20 mil euros vai testar uma nova abordagem de quimioterapia para o tratamento do cancro da mama triplo negativo
A
investigadora Sandra Tavares, do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde
da Universidade do Porto (i3S), venceu a primeira edição do Prémio Dr. Mário
Fonseca, atribuído pela Câmara Municipal de Lousada e pela empresa Soma
Coordenadas.
No
valor de 20 mil euros, este prémio permitirá à cientista testar uma nova
abordagem de quimioterapia para atingir eficazmente e com menos efeitos
secundários as células mais agressivas do cancro da mama triplo negativo.
O
cancro da mama triplo negativo é identificado em cerca de 20% das pacientes
diagnosticadas com cancro da mama. É o tipo de cancro da mama mais agressivo e
mais difícil de tratar e, precisamente por isso, é também o mais mortal.
A
grande maioria das pacientes diagnosticadas com este tipo de cancro são
tratadas com o mesmo regime de quimioterapia, mas apenas metade responde
positivamente ao tratamento, ainda que todas sofram com os pesados efeitos
secundários. Até há muito pouco tempo nada diferenciava estas mulheres, ou
seja, era impossível saber quem iria responder ao tratamento e quem não iria,
mas recentemente a investigadora conseguiu identificar uma diferença entre as
mulheres que vão responder e as que não vão ter qualquer benefício com a
quimioterapia.
“O
nosso objetivo final é utilizar o critério que descobrimos e que propomos para
pré-selecionar os doentes para a terapêutica à base de taxano para evitar que
pacientes que não respondem à quimioterapia mais tradicional sofram efeitos
secundários e percam tempo e saúde com uma terapia inútil”, sublinha Sandra
Tavares.
Inovar com… o ovo de galinha
Esta
investigação, adianta a investigadora do i3S, foca-se num tipo de cancro da
mama triplo negativo que reage positivamente à quimioterapia e pretende
“desenvolver uma forma diferente de tratamento que impeça a formação de
metástases, ou seja, que elimine as células mais agressivas e que têm
capacidade de se espalhar para fora do tumor, e que o faça com menos efeitos
secundários”. Para isso, acrescenta, “vamos usar organoides, que são pedaços de
tumores de pacientes que podemos usar em laboratório, e um modelo animal menos
convencional, o ovo de galinha”.
Para
uma mais rápida implementação na prática clínica, sustenta Sandra Tavares, que
integra o grupo Cytoskeletal Regulation & Cancer, liderado por Florence
Janody, “estabelecemos uma aliança estratégica entre Portugal (IPO-Porto e
Centro Hospitalar Gaia-Espinho) e os Países Baixos (Centro Hospitalar
Universitário)”.
Para
a investigadora, receber o Prémio Dr. Mário Fonseca foi, acima de tudo, uma
honra: “É a primeira vez que um município percebe a importância de apostar e
investir na Ciência. E, ser a primeira pessoa a recebê-lo, tem um gosto muito
especial. A Ciência é um esforço comunitário, uma necessidade e, como o passado
recente mostrou, nunca será um luxo”.
“Este
prémio é tão necessário e tão inovador que se por um lado ficamos felizes por
finalmente existir um prémio assim, ao mesmo tempo pensamos, ‘como é que este é
o primeiro?’ Espero que outros municípios e entidades privadas olhem para este
prémio e se inspirem a dar o mesmo passo”, conclui.
Sobre o Prémio Dr. Mário Fonseca
O
Prémio Dr. Mário Fonseca foi criado em 2024, pelo município de Lousada, com o
intuito de estimular a investigação científica e em homenagem ao ilustre médico
lousadense, reconhecido como “Médico do Povo”, que dedicou toda a sua vida à
medicina e ao apoio clínico dos mais desfavorecidos e faleceu em 2012 vítima de
doença oncológica.
Com
um valor base de 20 mil euros, dos quais 10 mil são atribuídos pela Câmara
Municipal de Lousada e os outros 10 mil euros pela empresa Soma Coordenadas,
este galardão tem como principais objetivos distinguir projetos na área das
Ciências da Saúde com um prazo de execução de um ano que possam promover uma
melhoria substancial do conhecimento científico no combate eficaz a diversas
patologias e contribuir para o reconhecimento de Lousada como território
impulsionador de boas práticas formativas, académicas e de investigação na área
da saúde.
Nesta
primeira edição, foram submetidas 43 candidaturas. Universidade do Porto -
Portugal
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