Você foi ao Museu de Arte Moderna e à Pinacoteca de São Paulo e não achou mais aqueles quadros, diante dos quais passava horas maravilhado? Quem tirou do lugar os Três orixás, da Djanira? Sumiram com os quadros do Portinari! do Lasar Segall? E os quadros da Tarsila do Amaral e do Alfredo Volpi?
Não
se assuste, esses quadros estão viajando, ou se quiserem, tirando férias na
Europa! Uma parte foi para a Bienal de Veneza, onde ficará até fins de
novembro, e outra parte foi para Berna, capital da Suíça, para ficar até o
começo de janeiro. E, a seguir, os quadros irão para Londres, onde serão
expostos na Royal Academy of Arts
O
título da exposição bem verde-amarelo é Brasil Brasil, no museu Paul
Klee, e mostra o surgimento do modernismo brasileiro, apresentando na Suíça uma
visão das telas dos principais pintores do começo da arte moderna no Brasil.
A
exposição mostra aos suíços a riqueza cultural do Brasil, fruto da mistura da
influência da arte nativa indígena com a arte trazida pelos colonizadores
portugueses, pelos africanos importados como escravos e pelos imigrantes vindos
de todo mundo a partir do fim do século XIX.
Um
ponto de referência para a eclosão da modernidade na arte brasileira foi a
Semana da Arte Moderna, em 1922, no centenário da independência brasileira. De
uma maneira geral, inclusive na Europa, no começo do século XX, os artistas
aspiravam sair dos padrões do classicismo acadêmico dominante no começo do
século XX. Essa aspiração se reforçou quando alguns artistas brasileiros
puderam ter contato com as novas escolas do expressionismo, futurismo e
cubismo, por meio de estágios, cursos e contatos na Europa.
Foi
o caso de Anita Malfatti em Berlim e de Tarsila do Amaral, Cândido Portinari,
Vicente do Rego Monteiro e Geraldo de Barros em Paris. De volta ao Brasil,
quiseram criar um modernismo nacional incorporando as culturas indígena, afro e
a pluralidade étnica brasileira. Isso se faz sentir também na música com o
samba e na festa popular do Carnaval.
Durante
a ditadura de Vargas foram incorporados à representação artística os temas da
seca, da injustiça social e da exploração dos operários e trabalhadores
agrícolas, evoluindo para a mistura racial, práticas religiosas e injustiça
social. Nos anos da ditadura militar, a arte brasileira se inspirou da
repressão militar e da desigualdade social.
Uma
visão geral dessa evolução e dessas tendências estão representadas nas 130
telas modernistas da exposição. Rui Martins – Suíça
____________________
Rui Martins é
jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador
do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas,
que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos
emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu Dinheiro sujo da
corrupção, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto
Carlos, A rebelião romântica da Jovem Guarda, em 1966. Foi colaborador do
Pasquim. Estudou no IRFED, l’Institut International de Recherche et de
Formation Éducation et Développement, fez mestrado no Institut Français de
Presse, em Paris, e Direito na USP. Vive na Suíça, correspondente do Expresso
de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
Sem comentários:
Enviar um comentário