A investigação está a ser vista como muito sólida e a
tecnologia anunciada tem fortes possibilidades de ser industrializada
rapidamente
O
artigo publicado na revista Energy & Environmental Science
está a criar grande entusiasmo junto da comunidade científica
internacional e a razão prende-se essencialmente com o facto de se poder estar
perante uma nova geração de baterias sólidas, capazes de armazenar muito mais
energia do que as de ião de lítio, com uma vida muito mais longa, mais seguras
e não poluentes. A garantia chega-nos através de Maria Helena Braga,
investigadora do Departamento de Engenharia Física da Faculdade de Engenharia
da U. Porto (FEUP), que há mais de dois anos se dedica ao estudo de materiais
para o armazenamento de energia em baterias.
A
principal inovação destas novas baterias é fazer depender a capacidade de
armazenamento de energia a partir do ânodo, em vez do tradicional cátodo,
através de um eletrólito sólido de vidro, que permite a utilização de um ânodo
construído em metais alcalinos sem a formação de “dendritos” (curto-circuitos
internos). Estes elementos podem surgir em baterias de lítio tradicionais, que
usam eletrólitos líquidos, levando a curtos circuitos internos que provocam
incêndios rápidos e até mesmo explosões.
A
tecnologia de eletrólitos em vidro foi desenvolvida por Maria Helena Braga e
tem ainda a vantagem de poder operar em temperaturas muito baixas, outro
benefício relativamente às baterias de lítio atuais. Isso poderá revolucionar
todo o paradigma dos carros elétricos, por exemplo, uma vez que com estas novas
baterias vão poder operar a temperaturas de -60 graus celsius.
Maria
Helena Braga, 45 anos, publicou pela primeira vez sobre a tecnologia de
eletrólitos de vidro em 2014 quando desenvolvia investigação na FEUP. De
imediato recebeu inúmeros telefonemas e pedidos de contacto, um deles de Andy
Murchison, investigador norte-americano da Universidade do Texas, que conhecia
bem John Goodenough, o inventor das baterias de iões de lítio. Com 94 anos de
idade e ainda no ativo, Goodenough desafiou a investigadora portuguesa a
trabalhar com ele de maneira a provar que a tecnologia de eletrólitos de vidro
funcionava, de facto.
“Durante
um ano vim muitas vezes a UT-Austin e em fevereiro de 2016 pedi equiparação a
bolseiro para fazer trabalho em baterias com lítio-metálico que não podia fazer
na FEUP porque à data não tinha laboratório e muito menos caixa de luvas que é
absolutamente essencial para este trabalho, uma vez que o lítio reage
violentamente na presença de humidade e oxida facilmente”, explica Maria Helena
Braga.
Até
julho, o objetivo será aproveitar esta estadia nos EUA e a possibilidade de
trabalhar de perto com tecnologia e equipamento de ponta. A adaptação correu
bem, a forma de fazer investigação não é muito diferente da que se faz na
Europa, o que realmente faz a diferença é “a velocidade a que as coisas
acontecem”, admite a investigadora. “Fui muito bem-recebida pelo Prof.
Goodenough. Ele, apesar dos seus 94 anos é um exemplo de abertura a novas
ideias! O Andy também sempre acreditou no que fazíamos”, conclui.
Apesar
de os anúncios sobre novas tecnologias de baterias serem frequentes, esta
investigação está a ser vista como muito sólida e a tecnologia anunciada tem
fortes possibilidades de ser industrializada rapidamente, de acordo com o
comunicado divulgado pela Universidade do Texas.
Com a possibilidade de
entrar para a história mundial da engenharia física com esta inovação e de a
sua vida poder dar uma volta de 180 graus, Maria Helena Braga quer voltar a Portugal
e continuar o seu trabalho a partir daqui. No entanto, não deixa de ser crítica
do sistema português no que toca à progressão na carreira docente: “As
universidades/faculdades têm que reconhecer os talentos antes que as notícias
venham de fora… Dito isto, têm que fazer tudo o que estiver ao seu alcance para
proporcionar condições a quem quer fazer. Quando sentimos que estão a fazer o
que podem por nós, respondemos imediatamente com um sentimento de lealdade… As
Universidades teriam que ter mais poder discricionário para poder dar condições
a quem quer trabalhar em Portugal. Talvez por exemplo, reduzindo a carga
horária e atribuindo mais licenças sabáticas a quem quer fazer investigação”. Universidade
do Porto “Faculdade de Engenharia” - Portugal
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