A física Márcia Barbosa pesquisa estruturas complexas da
molécula de água numa relação que inclui a norte-americana Katherine Johnson, a
polaca Marie Curie e a sul-africana Kiara Nirghin
A
contribuição das mulheres à ciência é destacada pela ONU Mulheres como
vital. Elas descobriram medicamentos,
assinaram invenções que mudaram o mundo e produziram pesquisas de longo
alcance.
Mas,
em muitos casos, esses avanços são minimizados ou negligenciados.
Preconceito de género
Por
muito tempo, as áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática,
conhecidas como Stem, na sigla em inglês, foram marcadas por
preconceitos de género que excluem mulheres e meninas.
O
acesso desigual à educação, tecnologias e posições de liderança afastou
inúmeras mentes femininas das carreiras de Stem e impediu o progresso
delas.
Mas
apesar dos contratempos, algumas fronteiras do conhecimento científico começam
a ser ultrapassadas para dar lugar à busca de soluções para desafios globais.
Para a ONU Mulheres, o trabalho delas mudou a maneira como o mundo é visto, e
por isso mesmo, as suas histórias merecem ser contadas e recontadas.
Neste
Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, a agência preparou uma
lista com sete exemplos de mulheres cientistas que todos deveriam conhecer. E
uma delas é brasileira.
Márcia Barbosa
Márcia
Barbosa é física especializada em estruturas complexas da molécula de água. Ela
acredita que as anomalias da molécula podem ajudar a resolver os problemas de
escassez de água doce.
A
brasileira desenvolveu uma série de modelos de propriedades da água que podem
melhorar a compreensão sobre uma ampla variedade de tópicos. Entre eles, como
ocorrem terremotos, como a energia mais limpa é gerada e a forma de tratar as
doenças. Em 2013, ela recebeu o Prêmio L'Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência.
A
física está empenhada em buscar uma igualdade maior para mulheres e meninas nas
áreas de Stem. Ela organizou uma série de conferências sobre mulheres na
física, escreveu artigos sobre diversidade geográfica e de género na ciência e
ministrou seminários que examinaram a falta de mulheres no campo.
Tu Youyou
Tu
Youyou é química-farmacêutica e investiga o tratamento da malária numa técnica
enraizada na medicina chinesa antiga. A sua descoberta da artemisinina, um
composto que reduz rapidamente o número de parasitas do plasmódio no sangue de
pacientes com malária, salvou milhões de vidas.
Como
estudante de farmacologia, Youyou aprendeu a classificar plantas medicinais,
extrair ingredientes ativos e determinar as suas estruturas químicas. No início
da carreira, ela passou anos nas florestas tropicais do sul da China, estudando
as consequências arrasadoras da malária e textos médicos antigos sobre os
tratamentos tradicionais chineses para a doença.
Após
anos de pesquisa, Youyou e sua equipa encontraram uma referência ao absinto
doce, usado na China por volta de 400 dC para tratar febres intermitentes, um
sintoma da malária. Eles extraíram o composto ativo artemisinina, testaram e
publicaram as suas descobertas. Hoje, a Organização Mundial da Saúde, OMS,
recomenda a terapia como primeira linha de defesa contra a malária.
Em
2015, ela e dois colegas receberam o Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina,
tornando-se a primeira chinesa a receber o Prémio Nobel em qualquer categoria.
A
sua descoberta continua a salvar vidas todos os dias.
Kiara Nirghin
A
sul-africana, Kiara Nirghin, de 19 anos, conta que desde menina, fazia
“perguntas sobre como o mundo funcionava".
Ela é vencedora da Google Science Fair 2016 por criar um polímero
superabsorvente que pode reter mais de 100 vezes a sua massa, potencialmente
revolucionando a conservação da água e mantendo plantações saudáveis durante
períodos de seca.
Fora
isso, a ONU Mulheres destaca que a invenção é de baixo custo e biodegradável,
feita de cascas de laranja e de abacate.
O
interesse de Nirghin na conservação da água vem de sua experiência com a seca
de 2015 no seu país natal. Ela ficou impressionada ao ver barragens de água,
uma vez cheias até à borda, secarem.
A
adolescente conta que "sempre soube que tinha de fazer algo para resolver
a seca porque ninguém mais estava fazendo nada".
A
ONU Mulheres observa que a descoberta de Nirghin tem potencial para ir muito
além de sua cidade natal. Ao ser utilizado em campos agrícolas, o polímero
superabsorvente pode aumentar a segurança alimentar em todo o mundo.
Atualmente,
Nirghin continua a sua pesquisa e estudos na Universidade de Stanford e defende
que as meninas procurem os seus interesses em Stem. Para ela, “envolver
as meninas na ciência deve ser interesse de todos”.
Katherine Johnson
Katherine
Johnson é matemática. Os seus cálculos foram essenciais para a exploração
espacial dos Estados Unidos. Como cientista da NASA, ela calculou trajetórias,
períodos de lançamento e caminhos de retorno de emergência que levaram os
primeiros astronautas dos Estados Unidos ao espaço e à órbita da Terra.
De
acordo com a ONU Mulheres, Johnson foi a primeira afro-americana a frequentar a
sua escola de pós-graduação e foi uma das poucas a trabalhar no programa
espacial da NASA. Ela enfrentou discriminação por causa de sua raça e sexo, mas
sabia que pertencia à equipa.
A
cientista conta que eles se acostumaram com ela “fazendo perguntas e sendo a
única mulher por lá.”
Hoje,
aos 101 anos, Johnson é uma defensora firme de mulheres e meninas em Stem.
Para ela, "as meninas são capazes de fazer tudo o que os homens são
capazes de fazer."
A
mensagem da cientista é: “descubra qual é o seu sonho e depois trabalhe nele,
porque se você gosta do que está a fazer, vai se sair bem."
Marie Curie
Marie
Curie era física e química. A sua pesquisa em radioatividade estabeleceu a base
para a ciência nuclear moderna, dos raios X à radioterapia para o tratamento do
cancro. Ela foi a primeira mulher a ganhar o Prémio Nobel e a primeira pessoa a
ganhar dois prémios Nobel em duas categorias diferentes: Física e Química.
Curie
cursou universidade na Polónia e doutorou-se na França. Ela e o marido
descobriram dois elementos radioativos, o polónio e o rádio, e fundaram um
instituto de pesquisa médica em Varsóvia.
A
cientista também inventou unidades móveis de raios-X que ajudaram mais de um
milhão de soldados feridos na Primeira Guerra Mundial.
Curie
morreu de uma doença associada à radiação. Mas as suas descobertas continuam a
salvar vidas até hoje.
Segenet Kelemu
Segenet
Kelemu é uma patologista das moléculas das plantas, cuja pesquisa de ponta é
dedicada a ajudar os pequenos agricultores do mundo a cultivar mais alimentos e
a sair da pobreza. Ela diz que a sua vida é dedicada a "fazer a diferença
na vida das pessoas e melhorar a agricultura na África."
Kelemu
cresceu numa família de agricultores pobres na Etiópia e foi a primeira mulher
da sua região a obter um diploma universitário. Ela conta que no vilarejo onde
morava, "as meninas se casavam muito jovens”, mas que felizmente era
rebelde demais para alguém arranjar um casamento".
Depois
de anos a estudar e trabalhando no exterior, Kelemu retornou a África para
liderar uma nova geração de cientistas. Ela acredita que o "investimento
na agricultura africana, e em pesquisa africana é, na verdade, investir na
humanidade como um todo."
Kelemu
recebeu o Prêmio L'Oréal-Unesco para Mulheres na Ciência em 2014, foi nomeada
uma das 100 mulheres africanas mais influentes da Forbes África e selecionada
como bolsista da Academia Mundial de Ciências em 2015.
Maryam Mirzakhani
Maryam
Mirzakhani foi criada em Teerão, no Irão. Na infância, sonhava em ser
escritora. Mas somente no ensino médio, que descobriu o seu talento para a
matemática, área que capturou a sua criatividade e intelecto para o resto da
vida.
Em
1994, Mirzakhani tornou-se a primeira aluna iraniana a ganhar a medalha de ouro
na Olimpíada Internacional de Matemática, com 41 pontos de um total de 42. Em
2015, ela voltou a vencer com uma pontuação perfeita.
A
iraniana-americana fez doutoramento na Universidade de Harvard e foi uma das
líderes nos estudos de dinâmica e geometria de superfícies complexas. Em 2014,
ela tornou-se a primeira vencedora da medalha Fields, o prémio de maior
prestígio em matemática.
Mirzakhani,
que morreu em 2017, conta que quanto mais “dedicava tempo à matemática, mais se
empolgava”. Ela lembra amar "a emoção da descoberta e o prazer de entender
algo novo, a sensação de estar no topo de uma colina e ter uma visão
clara".
A
ONU Mulheres afirma que as suas contribuições inestimáveis para o campo da
matemática perduram. E que a sua carreira pioneira abriu o caminho para muitas
matemáticas futuras. ONU News – Nações Unidas
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