SÃO PAULO – Que não houve
política industrial nos últimos 12 anos são os números que mostram. Segundo
dados do UN Comtrade Database, a participação das exportações brasileiras de
bens manufaturados em 2003 era de 1,02% do total mundial. A tendência era de que
crescesse, o que, de fato, deu-se pelo menos até 2008, quando o índice chegou a
1,27%. Desde então, a percentagem do Brasil nas vendas mundiais tem caído,
chegando em 2013 a 1,08%. O índice de 2014 ainda não foi anunciado, mas
estima-se que deve ter baixado para menos de 1%.
Diante disso, o governo que
começou a 1º de janeiro reconheceu o desastre que foi a política externa nos
últimos três mandatos, a partir da ideologização da diplomacia comercial e a
consequente satanização dos Estados Unidos, o maior mercado do planeta. A justificativa
estapafúrdia era de que havia uma excessiva dependência econômica do Brasil em
relação à nação norte-americana que precisava ser reduzida. Diminuiu-se a
dependência, mas, em compensação, o parque fabril nacional começou a ficar
sucateado e o País entrou num processo de desindustrialização.
Para recuperar os estragos,
o governo agora anuncia um chamado Plano Nacional de Exportações, que engloba
um conjunto de medidas que visam à facilitação, promoção e inteligência
comercial, redefinição de instrumentos oferecidos ao setor exportador,
financiamento, seguro e garantias, além de desburocratização, redução do tempo
de despacho aduaneiro e do trânsito de mercadorias. Ainda bem.
Só que, antes disso, o
governo já cortou as desonerações sobre a folha de pagamentos, que deverá
elevar o custo Brasil, que inclui aumento nos combustíveis, o custo elevado da
energia elétrica e altas taxas de juros.
Ao mesmo tempo, cortou o índice de 3% do Regime Especial de Reintegração
de Valores Tributários para as Empresas Exportadoras (Reintegra), limitando-o a
um terço do potencial vigente. Para piorar, ainda ameaça dificultar as
liberações de recursos pelo Programa de Financiamento às Exportações (Proex). A
favor dos exportadores, até agora, só houve a desvalorização do real, que se dá
pela perda da confiança na moeda.
Na verdade, se quisesse
reverter essa situação, o governo teria de seguir as recomendações da
Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) no sentido de que mantenha e
amplie os instrumentos de desoneração tributária das exportações e seja adotada
uma política cambial neutra. Sem deixar de realizar uma campanha no exterior
mostrando o Brasil como um país industrial. E mais: que volte a considerar os
Estados Unidos como parceiro prioritário, inclusive organizando missões naquele
país. E busque acordos comerciais com outros países e blocos, além de avaliar o
Mercosul.
Em seu plano de
revitalização das exportações, a AEB defende ainda o fortalecimento do apoio às
micro, pequenas e médias empresas, com a criação de mecanismo equivalente ao
Exporta Fácil, porém via marítima, além da reforma do sistema tributário e da
legislação trabalhista. Tudo isso o governo deveria fazer, além de investir
mais em infraestrutura, o que ajudará a reduzir os custos de logística. Mauro Dias – Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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