No seminário PFI (Port
Finance International) realizado no Rio, foram apresentados dados de 2014, de
Lloyd’s de Londres, destacando que os grandes armadores não só estão cada vez
maiores, como, através de operações conjuntas, controlam boa parte do comércio
internacional. O líder APM Maersk tem frota de 2,9 milhões de contêineres,
representando 15,7% do universo. Em segundo lugar está a suíça MSC, com 2,5
milhões de contêineres e 13,4% do total. Com medalha de bronze aparece a
francesa CMA CGM, com 1,6 milhão de contêineres, 8,8% do potencial global; e em
quarto a alemã Hapag Lloyd, com 960 mil contêineres e 5,1% do total.
Em apenas quatro consórcios,
17 armadores controlam 79,2% da frota mundial. São eles: 2M, Ocean Three, G6 e
CKYH. O 2M é formado pela líder APM Maersk e pela vice-líder MSC, um verdadeiro
pool de gigantes. No Ocean Three se encontram CMA CGM, CSGC e Uasc. NO G6
estão: NYK, APL, Hapag Lloyd, OOCL, MOL e HMM. E o consórcio CKYH é integrado
por Yang Ming, Cosco, K Line, Evergreen e Hanjin. Como fica o Brasil nesse
contexto, sem sequer um navio porta-contêineres operando no comércio exterior?
O Brasil tem dez porta-contêineres da Aliança, oito da Log-In e três da
Mercosul Line, todos restritos à costa nacional (cabotagem).
Nesse seminário, um ponto
praticamente unânime foi a crítica à dragagem – por lei, a cargo do Governo
Federal. O maior navio que já passou pelo país foi o CMA CGM Tigris, de 10.622
Teus, que aportou no principal porto, Santos, e alguns outros, mas sempre sem
estar com carga plena. Foram apontados casos extremos, como o do Porto de
Itapoá, onde no terminal a profundidade é de confortáveis 17 metros, mas como
no canal de acesso a profundidade é de apenas 14 metros, o porto, e também o
país, são prejudicados. Nos principais portos, obras de dragagem estão
atrasadas ou deixaram de ser feitas, embora constassem do orçamento federal
como prioritárias. A troca constante de titulares da Secretaria Especial de
Portos (SEP) contribuiu para esse fracasso, após êxito apenas com o primeiro
titular da pasta, Pedro Brito.
Michel Donner, de Drewry
Consultants, e Marcelo Procópio, diretor comercial do terminal de contêineres
Sepetiba Tecon, lembraram, quase que em uníssono, que, como a cada dia há
maiores porta-contêineres encomendados para o tráfego Europa–Ásia, os navios
médios vão, inevitavelmente, ser usados em tráfegos como o da América do Sul.
Com a ampliação do Canal do Panamá, cada vez maiores navios chegarão ao Brasil,
o que demandará mais dragagem, adaptação dos terminais de contêineres e medidas
no acesso de terra, para permitir eficiente distribuição das cargas trazidas
pelas embarcações de maior porte.
Procópio lembrou que isso
vai ter efeitos no Brasil, como investimentos nos terminais e necessidade de
melhor acesso rodoviário. Procópio comentou que, com a operação conjunta dos
armadores, o número de clientes para os terminais se reduz. O Brasil tem um
comércio exterior de cerca de US$ 500 bilhões por ano e, como não dispõe sequer
de um navio porta-contêineres, fica na mão de estrangeiros, sendo que tais
estrangeiros estão operando cada vez mais em conjunto.
Elias Gedeon, da consultora
Notre Dame, admitiu que os armadores estão se fortalecendo, mas disse que o
contrário pode ocorrer. Citou que exportadores de frango brasileiros se unem,
para negociar com armadores fretes mais baixos e que, assim, em vez de serem
pressionados, pressionam os fortes armadores internacionais. Sérgio Motta – Brasil in “Monitor
Digital”
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