A
cura para a diabetes pode estar num composto encontrado na harmal, uma planta
do Médio Oriente. Um grupo de investigadores descobriu que a substância,
denominada harmina, é capaz de levar à multiplicação das células beta do
pâncreas e de controlar os níveis de açúcar no sangue.
A equipa da Faculdade de
Medicina de Icahn, integrada no Hospital Mount Sinai, nos EUA, analisou mais de
100.000 potenciais fármacos e concluiu que a harmina é a única substância a
conseguir induzir a divisão e multiplicação de células-beta adultas de humanos
em culturas laboratoriais, um desafio que durante anos se tem colocado aos
cientistas.
À medida que os seres humanos
se desenvolvem, todas as células do organismo se dividem em duas, conduzindo à
multiplicação celular, que acontece a par da formação dos órgãos.
As células beta do pâncreas
comportam-se, porém, de forma diferente: a maior parte da sua multiplicação
realiza-se durante o primeiro ano de vida, sendo interrompida no decurso da
infância e deixando um “stock”
limitado de células que tem de durar “para sempre”.
A perda de células beta,
produtoras de insulina, é considerada a principal causa da diabetes de tipo um,
visto que o sistema imunitário dos pacientes com esta doença ataca e destrói
estas células por engano. A falta de células beta contribui decisivamente para
a diabetes tipo de dois, pelo que o desenvolvimento de medicamentos que
aumentem o número destas células é a maior prioridade dos investigadores.
No âmbito do estudo, cujos
resultados foram publicados esta semana na revista científica "Nature
Medicine", os cientistas do Hospital Mount Sinai, coordenados por Andrew
Stewart, descobriram que a harmina triplicou o número de células-beta e
contribuiu para o equilíbrio dos níveis sanguíneos de glicose em três grupos de
ratinhos com diabetes.
Embora a multiplicação de
células-beta seja encarada como a abordagem mais óbvia para o tratamento da
doença, todas as tentativas feitas no passado com vista a esta multiplicação
tiveram um sucesso modesto, já que a sua programação genética faz com que as
células resistam fortemente à divisão na idade adulta.
Este é, portanto, uma vitória
inédita para os cientistas. “As nossas conclusões demonstram que a harmina
consegue levar à proliferação de células-beta a um nível que pode ser relevante
para o tratamento da diabetes”, afirma Stewart, principal autor do estudo, em
comunicado.
“Apesar de ainda haver muito
trabalho pela frente para melhorar a especificidade da harmina, bem como a sua
potência e a de outros compostos a ela associados, acreditamos que estes
resultados representam um passo em frente fundamental para um futuro tratamento
mais eficaz desta doença”, acrescenta o investigador.
A harmina é derivada de uma
planta chamada harmal que cresce, sobretudo, no Médio Oriente, existindo também
em algumas vinhas da América do Sul. O composto é conhecido por ter efeitos
psicoativos no cérebro, que afectam o sistema nervoso e alteram o humor e que
justificam o seu uso em cerimónias espirituais e na medicina tradicional.
O próximo objectivo dos
cientistas é, portanto, procurar adaptá-la de forma a que influencie apenas a
produção de células beta e possa ser usada no desenvolvimento de um novo
fármaco sem esse tipo de efeitos secundários. In
“Jornal de Angola” - Angola
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