SÃO PAULO – Não se pode
deixar de reconhecer que os resultados alcançados pelo Mercosul em seus 24 anos
de existência foram significativos, mas isso não quer dizer que o Brasil tem de
ficar atrelado a esse acordo indefinidamente. Por isso, é preciso que o governo
avalie muito bem a situação à que chegou o bloco e tome as decisões que se
afigurem como as melhores para o País.
O que se lê até mesmo em
editoriais de grandes jornais é que o Mercosul impediria os seus sócios de
firmar acordos isoladamente, mas esse entendimento começa a ser flexibilizado.
A ideia que fica é que esse possível impedimento estava sendo usado apenas como
uma desculpa esfarrapada para justificar o injustificável, ou seja, a ineficiência
da diplomacia para fechar acordos com outros países ou blocos.
Se o Mercosul impedisse que
seus parceiros fechassem tratados isoladamente, a Argentina não teria firmado
recentemente 15 acordos com a China que vão permitir aos chineses investir em
obras de infraestrutura naquele país, recebendo em troca facilidades para
vender equipamentos. Além disso, os chineses vão fornecer linhas de crédito,
valendo-se de um acordo de swap (permuta) do yuan em relação ao peso para
evitar uma futura alta nos juros. Não é preciso ser muito atilado para se
concluir que esses acordos são contrários ao espírito do Mercosul e aos
interesses brasileiros, especialmente dos exportadores de manufaturados.
Ainda apegado a uma
estratégia que considera a Argentina parceira fundamental e sócia privilegiada,
em função do mercado que representa para os manufaturados, o governo tem
assimilado essa e outras afrontas, como medidas burocráticas que têm
restringido a entrada dos produtos nacionais na nação vizinha. E, assim,
perdido um tempo que poderá ser fatal para os interesses do País, resultado de
divergências entre os sócios do Mercosul em relação a um acordo com a União
Europeia (UE).
Ora, se, depois de 15 anos
de negociações infrutíferas, não há possibilidade de o Mercosul avançar unido
para um tratado com a UE, então que o Brasil busque um acordo individual com os
europeus. Isso não significaria o fim do Mercosul, até porque, além da
proximidade geográfica, as economias dos parceiros sul-americanos são
complementares. Tanto o Brasil precisa do mercado argentino para colocar seus
produtos como a Argentina necessita do mercado brasileiro.
Como UE e EUA estão para
concluir um tratado amplo sobre comércio e investimento, o que se prevê é uma
redução do espaço para países que não tenham acordos semelhantes com esses dois
mercados que são os maiores do planeta. Como hoje o Brasil é responsável por
37% do comércio entre a América Latina e a UE, perder esse espaço pode ser
catastrófico numa situação já difícil como a que o País atravessa.
Portanto, o Brasil, seguindo
o exemplo da Argentina, poderia encetar um voo solo em direção à UE, o que
estaria mais em sintonia com os interesses de um país que, por sua economia
mais diversificada, difere bastante da de seus parceiros sul-americanos. Basta
ver que a indústria brasileira, apesar de todas as turbulências, ainda se
mantém em pé, enquanto o parque fabril argentino está praticamente destruído
depois da desvairada política kirchnerista. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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