Professor
universitário e economista especializado em teoria dos jogos, Yanis Varoufakis
tem carreira intelectual que vai muito além dos trajes informais
O ministro das Finanças da
Grécia, Yanis Varoufakis, ganhou os holofotes da imprensa mundial logo na
primeira semana do partido de esquerda Syriza no poder. Em primeiro lugar, foi
visto viajando na classe econômica de um voo regular para realizar sua rodada
inicial de encontros com líderes europeus. O percurso que, em si, já rendeu
manchetes em veículos internacionais, chegou ao clímax quando Varoufakis
apareceu de jaqueta de couro e botas desgastadas para a reunião com o chanceler
do Tesouro britânico, George Osborne.
O contraste com a figura
austera de Osborne serviu para consolidar a imagem casual de Varoufakis como a
metáfora do desejo do Syriza de revitalização. De fato, o armário do ministro
grego carrega consigo um simbolismo que sai da questão estética e atinge a
esfera econômica. E a mensagem é simples: a Grécia desafia os alicerces que
sustentam a tradicional política econômica da União Europeia.
No entanto, não se trata de um
mero ato rebeldia de guarda-roupa. Muito mais do que parecer diferente,
Varoufakis pensa, sim, diferente.
Nascido em Atenas em 1961, o
ministro grego se mudou para o Reino Unido no fim dos anos 80, onde obteve
doutorado na Universidade de Essex em matemática e estatística. Sua experiência
acadêmica é marcada por passagens em universidades como de Cambridge, Sydney,
Texas, Glasgow e de Atenas. Além de um currículo de prestígio como professor
universitário, Varoufakis é um proeminente especialista em teoria dos jogos e
um “errante marxista”, como ele se define.
Embora sejam muitas vezes
deixados de lado pela imprensa internacional, esses atributos intelectuais são
visíveis nos artigos que escreve, nas entrevistas que concede, na palestra que
realizou para o Ted (fundação que organiza conferências com personalidades) e
até mesmo nas postagens frequentes que realiza em seu blogue particular.
Varoufakis é um marxista
confesso, influenciado pelo teórico alemão desde pequeno. “Quando sou
solicitado a comentar sobre o mundo em que vivemos não tenho alternativa a não
ser recorrer à tradição marxista que forma meu pensamento desde a infância,
marcada pelo meu pai metalúrgico que mostrou os efeitos da inovação tecnológica
sobre o processo histórico”, diz em artigo.
“Karl Marx foi responsável
pela definição da minha perspectiva de mundo”, sintetiza o ministro. “Essa
perspectiva dialética com a qual Marx discerniu o potencial de mudança no que
parecia ser o mais imutável das estruturas sociais me ajudou a compreender as grandes
contradições da era capitalista”.
Além do pai metalúrgico, a
experiência de crescer em uma Grécia sob a ditadura neofascista de George
Papadopoulos entre 1967 e 1974 também influiu na carreira intelectual de
Varoufakis. Com frequência, o ministro expõe o receio de que a fragmentação da
União Europeia crie ambiente propício para o restabelecimento de um fascismo
pós-moderno.
Para combater esses fantasmas
do passado, Varoufakis tem sempre como ponto de partida o esgotamento do
próprio modelo econômico europeu. Como fiel marxista, ele sabe que a
transformação da sociedade é resultado direto do desenvolvimento econômico. Por
isso, aproveita em suas entrevistas, artigos e postagens em blogue para
examinar as tendências do desenvolvimento histórico da Grécia e a produção de
um diagnóstico pós-crise de 2008, marcado pela falência do atual modelo das
instituições financeiras europeias.
“Deveríamos receber essa crise
do capitalismo europeu como uma oportunidade para substituí-lo por um sistema
melhor? Ou deveríamos estar preocupados em estabilizar novamente o capitalismo
europeu? É menos provável que a crise dê à luz a uma alterativa ao capitalismo
do que desencadeie forças perigosamente regressivas que têm a capacidade de
provocar um derramamento de sangue humanitário ao extinguir a esperança de
todos os movimentos progressistas para as próximas gerações”, conclui
Varoufakis em artigo. Patrícia
Dichtchekenia – Brasil in “Operamundi”
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