Duas grandes obras irão
mudar o atual quadro do comércio marítimo: a ampliação do centenário Canal do
Panamá, a ser inaugurada em dezembro deste ano, e a construção do Canal da
Nicarágua, iniciada em dezembro de 2014.
A expansão panamenha vai
aumentar em 10 a 12 navios diários o atual movimento de 40 embarcações que
atravessam os seus quase 80 quilômetros nas 24 horas dos 365 dias do ano. O da
Nicarágua deve ter 278 quilômetros de extensão, e sua inauguração está prevista
para 2020. A estimativa é de que este último comporte navios de até 25 mil
contêineres, contra o de 13 mil que passa pelo Panamá. Mais longo, largo e
profundo que o do Panamá, o megacanal nicaraguense está sendo construído por um
consórcio liderado por uma empresa chinesa.
De fato esse conjunto de
supervias ligando o Atlântico ao Pacífico vai mudar a geopolítica do Continente
e especialmente da América do Sul. A presença chinesa vai ser intensificada na
região na criação e troca de valores. As cargas que irão atravessar essas duas
interligações oceânicas irão atender, em algum lugar, alguém que lhes de valor.
Como diria o decapitado Sir Walter Raleigh, aventureiro, poeta e favorito da Rainha
Elizabeth I:”Quem domina os mares domina o comércio, quem domina o comércio do
mundo, domina as riquezas do mundo, e, por conseguinte, o próprio mundo."
Uma passagem chinesa a
poucos quilômetros da costa americana, cortando ao meio o continente americano,
vai intensificar o transporte responsável pelas cargas e vai lançar luz sobre
as atividades comerciais à sua volta.
Agilizar a logística (frete)
do petróleo venezuelano para a China é uma das estratégias desse caminho marítimo.
E quais os reflexos na costa brasileira? De largada, podemos afirmar que a Vale
e Petrobrás serão beneficiadas. Provavelmente, as duas empresas chinesas que
fazem parte do consórcio liderado pela Petrobras que venceu os direitos para
explorar as maiores reservas brasileiras de hidrocarbonetos sejam parte desse
contexto. O Brasil é o primeiro em investimentos chineses na América Latina.
Navio
O novo tipo de navio, o
Triple E (*), que comporta,
aproximadamente, 18 mil contêineres é uma das vantagens competitivas do novo
canal. Depois de pronto o panamenho comportará, no máximo, os navios New
Panamax, que carregam 12,5 mil contêineres. Sem sombra de dúvida, esses
cenários de ligações mais amplas do Atlântico ao Pacífico sinalizam uma mega
escala no comércio da Ásia e das Américas.
Para participar e ser
competitivo nessa futura realidade, o Brasil precisa ter habilidade para
dominar toda a sua escala de produção: movimentar matérias-primas, produtos
semi-acabados e acabados eficientes economicamente. E também terá que receber
produtos com produtividade, eficiência e custos portuários efetivos. Caso
contrário, outras regiões poderão ser favorecidas e desenvolvidas. A escala do
comércio vai exigir um processo muito ágil. In
“Portogente” - Brasil
(*) Triple-E
A classe de navios Triple-E
é uma família de navios gigantes, que, em operação, serão os maiores porta-conteineres
do mundo, focados, principalmente, na eficiência total do uso do bunker. Seu
projeto, execução e operação são de autoria da armadora dinamarquesa Maersk
Line. O contrato acordado com o estaleiro coreano Daewoo Shipbuilding é
estimado em cerca de 4 bilhões de dólares, e serão construídos 20 embarcações
no padrão da classe.
O nome Triple-E é derivado
dos três principais princípios empregados no projeto: economia de escala,
eficiência em energia e sustentabilidade (em inglês, economy of scale, energy
efficient e enviromentally improved). O plano da armadora é a utilização dos
navios nas rotas entre a Europa e a Ásia, com a projeção de que as exportações
chinesas continuarão a crescer.
Aspectos técnicos
1.Capacidade: 18000 TEU's
2.Comprimento: 400 metros
3.Calado: 14,5 metros
4.Largura: 59 metros
5.Altura: 73 metros
6.Velocidade média: 19 nós
(34 km/h)
7.Velocidade máxima: 25 nós
(45 km/h)
8.Peso bruto: 165.000 toneladas
9.Motores: dois motores com
capacidade de geração de 32 MW cada, com consumo de 168 g/kWh.
10.Propulsores: Dois
propulsores com 4 lâminas, com 9,8 m de diâmetro cada
Um aspecto interessante é a
chamada boca do navio. Construída em formato de "U", permite uma
acomodação de um maior número de conteineres do que o da classe antecessora, a
E-Class, onde a boca possuía um formato de V, projetado para que fossem
alcançadas maiores velocidades. Mesmo com apenas 3 metros a mais no comprimento
(400 metros da Triple-E contra 397 metros da E-Class), e 4 metros a mais na
largura (59 metros contra 55 metros), a acomodação de contêineres é 16% maior,
o que aumentará também a produtividades das operações em cais. Outra mudança
marcante é a alocação da torre na embarcação: geralmente posicionada na porção
traseira das embarcações, no caso da Triple-E, a sua acomodação é na porção
média do navio, o que permite uma estivagem em maiores alturas tanto na proa
quanto na popa.
Na propulsão, também foram
realizadas alterações marcantes. Os navios terão dois motores cada, com um
propulsor, o que permite uma melhor distribuição de pressão e aumenta a
eficiência unitária. Os motores também são equipados com sistemas de WHR (Waste
heat recovery), ou seja, de reaproveitamento de energia gerada na queima de
combustível.
A configuração do sistema de
propulsão também ajudará na economia de combustível. O projeto prevê que a
chamada optimum speed, ou seja, onde há melhor aproveitamento de combustível, é
de 19 nós, na qual, comparado com a economia de combustível na classe
antecessora, é 37% maior. Prevê-se que, ainda comparados com a E-Class, os
navios da Triple-E terão emissões de CO2 20% menores.
Para informações mais
apuradas, consulte o sítio especial lançado pela própria Maersk Line sobre o
projeto www.worldslargestship.com.
Marcos Limoli { Linkedin }
ResponderEliminarPorta-Voz.
BRAZIL.