Acontecia na data mais
esperada do ano. Semanas antes não tinham passado o anúncio na televisão, nem
tampouco saíra a notícia nos jornais, nem não se tratava o caso nas tertúlias
radiofónicas, nem sequer os blogues tinham feito a publicidade esperável do
acontecimento. As principais figuras políticas não o tinham comentado nas suas
entrevistas e os apresentadores mais mediáticos não mencionaram a questão nos
programas de máxima audiência.
Mas o certo é que em 2014 o
Ano Novo seria recebido na Galiza por duas vezes. Sim, duas. Uma, a de todos os
anos, na hora espanhola que vai pelo fuso horário da Alemanha. E a outra, por
primeira vez na TVG com a hora portuguesa que segue o fuso horário do meridiano
de Greenwich, o mesmo das atlânticas Grã Bretanha, Irlanda, Açores, Madeira e
Canárias. Entre nós, a hora de Portugal.
No programa prévio, como de
costume, os produtores televisivos ofereciam um conjunto de variedades de
entretenimento. Na TVG começavam as atuações com música espanhola. Que foi
seguida de mais música espanhola. Chegou a vez das Leilia e das Malvela e ao
fim tivemos música galega, a única cantada em português. Depois continuou
sempre em castelhano até chegar a meia noite. Aí o programa conhecido pelo nome
de Luar ofereceu duas luas no ecrã: a bela face do relógio do Obradoiro, à
direita, e a da custódia Puerta del Sol, à esquerda.
Mas ainda faltava 1 hora para
o ano novo com Portugal. A TVG insistia nas varietés espanholas com alguma
excepção. Contudo, nada podia já ocultar o facto de que as 12 horas portuguesas
vinham aí e na Galiza íamos celebrá-las para a entrada do ano. Incontroláveis e
estranhos, os relógios galegos aguardavam mais uma hora.
Estou a esquecer um detalhe
importante: Desde o início, o programa de fim de ano contava com a presença
duma apresentadora portuguesa que se expressou o tempo todo em belo português
e, perto já do decissivo momento, as pessoas que ocupavam o cenário
prestaram-lhe toda a atenção. Procuraram uns talhos para se subirem neles, pois
em Portugal é costume receber o ano com mais altura, e prepararam as doze
passas nas mãos. Tudo estava pronto.
Imaginemos o relógio da Sé de
Lisboa, ou o de Braga, ou o do Porto: Há que o imaginar porque agora o Luar não
retransmitia a bela lua no ecrã. Chega o instante, os apresentadores iniciam a
contagem regressiva: Doze! Onze! Dez! -parece uma astronave, pensava eu- Nove!
Oito! Sete! -aqui vai acontecer alguma cousa- Seis! Cinco! Quatro! -isto está
mesmo emocionante- Três! Dois! Um!… E naquele preciso instante começava para
Galiza e Portugal o nosso Ano Zero. Feliz Ano Novo! Isabel Samartim – Galiza in
“Portal Galego da Língua”
Isabel
Rei Samartim - Mulher, música guitarrista, galega. Pensa que a
amizade é uma das cousas mais importantes da vida. Aprendeu a sobreviver sem o
imprescindível. Aguarda, sem muita esperança, o retorno do amor. Entanto isso
não acontece, toca e escrevinha sob a chuva compostelana.
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