SÃO PAULO – A partir da
conclusão dos grandes armadores mundiais de que o crescimento do tamanho dos
navios cargueiros seria irreversível para baratear custos e aumentar a
produtividade, o trabalho de dragagem nos portos tornou-se cada vez mais
necessário e oneroso. A tal ponto essa tendência chegou que muitos portos da
costa brasileira, como o de Itajaí-SC, por exemplo, já passaram a sentir os
seus efeitos, pois começam a ser descartados em favor daqueles complexos
portuários que oferecem melhores condições de navegabilidade.
A experiência mundial, no
entanto, tem mostrado que o trabalho de dragagem por si só não resolve o
problema, apenas o ameniza por algum tempo. Basta lembrar que, no caso do Porto
de Santos, a região de vez em quando é assolada por fortes tempestades, que elevam
a maré e podem provocar até a interdição da barra. A consequência desse
fenômeno é o assoreamento do canal de navegação e a inutilização do trabalho de
dragagem realizado anteriormente, além do desperdício de considerável soma de
recursos públicos.
Foi para procurar evitar
esses problemas que portos como o de Roterdã, na Holanda, e Shangai, na China,
já procuraram expandir suas instalações para o mar aberto, garantindo maiores
profundidades para o tráfego dos megacargueiros, além de eliminar elevados
custos com obras de dragagem. Obviamente, a construção de plataformas off shore
(afastadas da costa) exige investimentos pesadíssimos, mas que a longo prazo
serão compensadores.
É claro que esse futuro não
é para já, ainda que se afigure como inevitável. Por isso, ainda por longo
tempo, o Porto de Santos dependerá de obras de dragagem para continuar a
receber embarcações de maior porte, como as que prevêem o aprofundamento das
cotas de 15 para 17 metros no canal externo e de 15 para 15,5 no interno, além do
derrocamento de formações rochosas para o estabelecimento da cota de 16 metros
no canal do estuário.
Quando essas obras serão
iniciadas, ainda não se sabe, até porque a Secretaria de Portos (SEP) pretende
dar início neste ano aos estudos necessários para a sua viabilização. Além
disso, o governo federal pretende conceder à iniciativa privada o serviço de
dragagem do canal de acesso, medida inédita na história do Porto. O que resta
saber é se haverá empresa privada disposta a correr os riscos de assumir esse
compromisso.
Como se sabe, há pouco
tempo, o processo de licitação para as obras de dragagem deu em nada, já que o
governo considerou excessivamente altos os custos apresentados pelas empresas
concorrentes. Acontece que a Natureza não costuma esperar pela boa vontade dos
homens. Pelo contrário, tem dado respostas duras à imprevidência humana. E o
assoreamento do canal de navegação é inevitável. Mauro Dias – Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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