SÃO PAULO – No próximo dia
26 de março de 2015 o Mercosul comemorará seu 24º aniversário de criação e, ao que
parece, Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai não têm motivos para festejar a
data que marca a assinatura do Tratado de Assunção, considerado a ata de
fundação do bloco. Os dois maiores países que viabilizaram o tratado têm tomado
decisões sem ouvir os demais parceiros, o que tem servido para desacreditar o
Mercosul como instrumento essencial para a integração sul-americana.
É de se reconhecer que o
bloco em seus primeiros anos apresentou resultados animadores. Como exemplo basta
citar que, em 1998, os demais países do tratado absorviam 17,4% das exportações
brasileiras. Em 2005, essa fatia representava 9,9% e, hoje, continua em torno
de 9%. Há dez anos, o comércio com a Argentina representava 20% das exportações
totais do Brasil. Desde então, esse comércio tem perdido dinamismo e, hoje,
representa apenas 6,3%. Em 2014, as exportações para o país vizinho caíram
27,2% em relação a 2013. E as exportações da Argentina para o Brasil recuaram
14%.
Hoje, o grande parceiro da
Argentina já não é o Brasil, mas a China, com a qual o governo argentino
assinou recentemente 15 acordos que, de um modo geral, ferem os interesses
brasileiros e, por extensão, tornam letra morta os artigos do Tratado de
Assunção. Em troca de investimentos em infraestrutura, a Argentina facilitou a
entrada de manufaturados chineses, levantando barreiras à entrada de produtos
brasileiros, entre os quais automóveis, autopeças, equipamentos eletrônicos,
têxteis, alimentos, bebidas, carne suína, cerâmica, produtos químicos e
metalúrgicos e celulose.
Depois de um comportamento
excessivamente contemporizador em relação a medidas que o governo argentino
adotou contra os produtos nacionais, o governo brasileiro, nos últimos dias,
voltou à mesa de negociações, ainda com a ideia de ajudar o vizinho a recuperar
sua economia, mas, até agora, não houve nenhuma manifestação oficial sobre o
assunto. Só que do outro lado não há nenhuma intenção de ajudar a economia
brasileira, igualmente combalida. Ou seja: de modo realista, os argentinos têm
procurado encontrar saídas para a sua crise, o que inclui dispensar os produtos
brasileiros manufaturados que perderam o poder de competição depois da crise
econômico-financeiro global de 2008.
Como não têm sido capazes de
resolver suas próprias divergências no âmbito do Mercosul, Brasil e Argentina
também não se mostram uníssonos para apresentar uma pauta mínima de concessões
à União Europeia com vistas a um acordo comercial. Em outras palavras: se nunca
houve livre-comércio entre Brasil e Argentina, não se pode acreditar que os
dois países possam chegar a um denominador comum quanto a fazer concessões aos
europeus, em troca de preferências tarifárias para os seus produtos agrícolas,
minerais e manufaturados.
Com o Mercosul esvaziado
pela política de preferências da Argentina com a China, o Brasil precisa
procurar outros rumos em sua diplomacia comercial, buscando como alternativa os
tratados bilaterais de livre-comércio. Milton
Lourenço – Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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