Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 5 de maio de 2019

Macau - “Esperamos introduzir tecnologias avançadas nos países lusófonos”

O presidente da Assembleia-Geral da Associação dos Engenheiros de Macau olha com confiança para o projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Eddie Joe Wu, que também é deputado nomeado à Assembleia Legislativa, salienta que foi atribuída a Macau a missão de ter um papel liderante no processo de desenvolvimento da zona ocidental do Delta do Rio das Pérolas. A ligação com os países de língua portuguesa é central, afirma, ao mesmo tempo que demonstra preocupação com a escassez de profissionais qualificados em número suficiente para o desenvolvimento futuro

- De que forma deve Macau posicionar-se para tirar proveito do plano de desenvolvimento da Grande Baía?

Eddie Joe Wu - O Plano da Grande Baía prevê entre as nove cidades de Guangdong e as duas regiões administrativas especiais, quatro cidades que servirão como âncora para o desenvolvimento da região. Macau é a única dessas quatro que fica localizada na zona ocidental do Delta do Rio das Pérolas, sendo a “cabeça do dragão” deste lado sendo-lhe atribuído um papel especial para fomentar o desenvolvimento de Jiangmen, Zhaoqing, Zhongshan e Zhuhai.

O desenvolvimento de Macau reflete também a estratégia indicada pelo Governo Central de ênfase na plataforma com os países de língua portuguesa e na cidade como centro mundial de turismo e lazer ao mesmo tempo que funciona como um centro de cultura e património da China. Macau é um local único onde as culturas oriental e ocidental se encontram de uma forma que não tem par noutros locais. Sendo assim, o posicionamento de Macau é bastante claro. Temos agora que encontrar formas de ligação com o exterior, incluindo a integração da indústria e tecnologia com outras cidades da zona ocidental da Grande Baía.

- O que pode ser concretizado nesse campo?

E.J.W. - Esperamos introduzir tecnologias avançadas nos Países de Língua Portuguesa (PLP). Ao mesmo tempo, procurar-se-á, atrair fundos, através de Macau, para investimentos nos PLP.

Macau é também uma plataforma informativa, uma vez que somos uma cidade mais aberta ao exterior que no passado, funcionando como ponto de contacto entre a China e o Ocidente. Os nossos media poderão ser usados como veículo de difusão de informação através de Macau para se chegar a Zhuhai, Zhaoqing ou Zhongshan.

- Que medidas pode o Governo de Macau tomar para estimular o desenvolvimento do plano?

E.J.W. - Parece haver uma certa contradição aqui. Macau tem falta de talentos e ao mesmo tempo necessita de muita mão de obra qualificada. Por exemplo, diz-se que Macau necessita de avançar para a diversificação económica e desenvolvimento tecnológico, mas não temos um número suficiente de gestores e mão-de-obra qualificada. Por outro lado, espera-se que os nossos jovens possam aproveitar as oportunidades que advém do desenvolvimento da Grande Baía.

Todavia, na verdade, não há contradição. Porquê? Porque, por um lado Macau como plataforma pode atrair e introduzir talentos, a partir das nossas relações, para fazer ligação com outras cidades da Grande Baía. Além do mais, ao entrar na Grande Baía, uma empresa pode também atrair talentos para Macau. É por isso que o Governo devia encorajar mais jovens para utilizarem Macau como plataforma no futuro.

- Como devem os empresários de Macau encarar este processo para maximizar as suas oportunidades?

E.J.W. - Há tantas oportunidades à vista. Como empresários o que podemos fazer? Em primeiro lugar há a aposta nos talentos, uma vez que temos dificuldades aqui em Macau. Sobretudo, os estudantes da China continental que se formam nas universidades em Macau não podem trabalhar em Macau. Podemos ter como referência Hong Kong onde estes jovens têm um ano para encontrar emprego após terminarem o curso. A verdade é que ao longo dos últimos 30 a 40 anos, as universidades formaram muitos jovens que não foram aproveitados pela cidade.

-O que planeia fazer a Associação dos Engenheiros de Macau para promover o projeto da Grande Baía?

E.J.W. - O setor da engenharia em Macau no passado não tinha um papel preponderante. Nos anos mais recentes, com os projetos de grande escala como o metro ligeiro de superfície, túneis e aterros tivemos que recorrer ao exterior.

A questão é como devemos tirar proveito do projeto para localizar know how e tecnologias em Macau. Ao mesmo tempo, esperamos poder aprender com as cidades vizinhas através de uma cooperação frutífera com a Grande Baía.

Além disso, ao longo da última década, Macau tem adquirido experiência ao nível da gestão de infraestruturas. Isso é visível através do vários casinos e hotéis que surgiram. Os nossos engenheiros acumularam experiência ao nível de gestão de equipamentos, infraestruturas, proteção contra incêndios ou sistemas de segurança. Ao trabalharem na Grande Baía, a experiência dos nossos engenheiros em termos de gestão de equipamentos constitui uma mais valia.

- Como estamos ao nível do reconhecimento por parte das entidades da China continental dos técnicos de engenharia e atividades correlacionas de Macau?

E.J.W. - Cada sector procura naturalmente proteger-se, mas não podemos ter as portas fechadas. Temos de comunicar e trabalhar em conjunto. E temos de discutir a questão do reconhecimento mútuo de qualificações profissionais com Guanhzhou. Hengqin já reconhece a possibilidade de engenheiros de Macau e Hong Kong poderem participar em gestão de projetos em Hengqin, mas Macau ainda não o faz reciprocamente. Espero que no futuro todos os lados possam reconhecer-se mutuamente. Começamos com a discussão num sentido primeiro, uma vez que os engenheiros em Macau ainda estão numa fase de crescimento. J. Carlos Matias – Macau in “Plataforma”

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