O Prémio Kenton R. Miller 2020, para Inovação em Parques
Nacionais e Sustentabilidade de Áreas Protegidas, foi entregue a Pedro Estêvão
Muagura do Parque Nacional da Gorongosa em Moçambique e a Nizar Youssef Hani da Reserva da Biosfera Shouf no Líbano,
numa cerimónia online organizada pela União Internacional para a Conservação da
Natureza (IUCN) e pela Comissão Mundial de Áreas Protegidas (WCPA)
Segundo
a organização, o prémio homenageia indivíduos engajados em garantir a
sustentabilidade a longo prazo dos locais vitais, das áreas protegidas,
desenvolvendo e aplicando políticas inovadoras, conhecimento científico,
tecnologias e práticas de campo ou modelos de governança.
Nomeado
em homenagem ao Dr. Kenton R. Miller, Director Geral da IUCN entre 1983 e 1988
e três vezes Presidente da WCPA, o prémio foi criado em homenagem ao seu
admirável legado, de promoção da inovações e aprendizagens no planeamento e
gestão de áreas protegidas e conservadas em todo o mundo, e na orientação de
líderes no campo da conservação.
Os
vencedores deste ano são faróis de esperança em regiões que tiveram uma
história turbulenta, afectando tanto os humanos quanto a natureza, de forma
profunda nas últimas décadas.
“A WCPA tem o prazer de reconhecer a inovação
e as melhores práticas de dois notáveis gestores de áreas protegidas, que
trabalharam para beneficiar a conservação e as comunidades, nomeadamente Pedro
Estêvão Muagura do Parque Nacional da Gorongosa, em Moçambique e Nizar Youssef Hani
da Reserva da Biosfera Shouf, Líbano “, referiu a Dra. Kathy MacKinnon,
Presidente da WCPA.
Segundo
MacKinnon, os esforços combinados de Pedro Estêvão Muagura para lidar com a
perda de floresta tropical no Parque Nacional da Gorongosa, após os impactos
devastadores da guerra civil sobre a biodiversidade e, a melhoraria dos meios
de subsistência dos agricultores locais, foram pioneiros na sua abordagem e
impacto.
Confrontado
com o dilema de desmatamento contínuo, perda de biodiversidade e a luta pela
subsistência dos agricultores locais após a guerra civil de 15 anos em
Moçambique, Muagura teve a ideia de cultivar café nas encostas das montanhas
desmatadas, referiu MacKinnon.
Perante
o cepticismo de muitos, Muagura prevaleceu com a sua ideia de cultivo de café à
sombra e sob árvores nativas replantadas, dando uma renda à população local e,
ao mesmo tempo, restaurando a floresta, notou a presidente da WCPA.
“Num
período imensamente desafiador para o Líbano e Moçambique nas últimas semanas e
meses, estes dois pioneiros demonstraram que estes países e regiões também
podem ser considerados exemplos de resiliência, inovação e sustentabilidade servindo
como um modelo para conservacionistas de todo o mundo”, finalizou MacKinnon.
Durante
os seus trabalhos, Estevão Muagura, sempre trabalhou em estreita colaboração
com a comunidade para melhor entender as suas necessidades e demonstrar que os
benefícios da restauração superariam os ganhos de curto prazo da agricultura de
corte e queimada.
Para
Muagura, entender e envolver-se com os papéis de género, garantiram que as
mulheres tivessem autonomia para contribuir com os viveiros de mudas e árvores
recém-plantadas.
Hoje,
o povo da Serra da Gorongosa está a plantar cerca de 200 mil árvores de café
por ano e cerca de 50 mil árvores da floresta tropical, e as mulheres
representam 50% dos pequenos agricultores, totalizando mais de 600 pessoas.
O
resultado da produção é comprado por uma empresa de produtos naturais que
processa o café na sua nova fábrica nas proximidades da serra e comercializa os
grãos torrados em Moçambique e no mundo.
“Estou
muito feliz que as minhas ideias tenham sido reconhecidas pelo povo da Serra da
Gorongosa, pela Administração do Parque Nacional da Gorongosa e pela
Administração Nacional das Áreas de Conservação de Moçambique. Todos nós
podemos contribuir para inovar e melhorar o mundo em que vivemos, se
trabalharmos em equipa e acreditarmos que é possível ter êxito, ainda que à
partida pareça muito difícil e até perigoso”, disse Muagura, após receber o
prémio. In “Zambeze Info” - Moçambique
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