Um protocolo assinado em Dezembro do ano passado abria
100 vagas para estudantes do território entrarem nas 100 licenciaturas
disponíveis na Universidade do Porto (UP), mas a Covid-19 fez com que a
iniciativa ganhasse um ‘delay’ de um ano. No entanto, a vice-reitora daquela
instituição do ensino superior mantém a esperança que esta cooperação venha a
reforçar a internacionalização da UP
A
ideia era que, no início de Setembro, os primeiros alunos vindos de Macau
chegassem ao Porto para iniciar os estudos superiores. Era esse um dos
primeiros objectivos de um acordo assinado em Dezembro do ano passado entre a
Universidade do Porto (UP), o Instituto Português no Oriente (IPOR) e a
Direcção dos Serviços do Ensino Superior de Macau (DSES). Anualmente haverá
disponível um contingente especial de 100 vagas, distribuídas pelas várias
faculdades da UP. No entanto, a Covid-19 trocou as voltas à vontade destas
entidades e atrasou todo o processo em um ano.
A
confirmação é dada ao Ponto Final pela vice-reitora da UP, Maria de Lurdes
Fernandes, que no ano passado esteve em Macau para assinar o protocolo. A mesma
responsável explica que os primeiros candidatos deviam ter começado a
frequentar, em Fevereiro deste ano, a primeira fase de formação deste acordo,
que prevê um ano zero em que os estudantes fazem um curso introdutório de 600
horas de português. As primeiras 300 horas são leccionadas pelo IPOR.
Apesar
de o domínio da língua ser um pré-requisito obrigatório, o objectivo desta
formação prévia é a de dotar os estudantes de Macau das competências
linguísticas para a frequência do ensino superior em Portugal. “Mas em
Fevereiro, em Macau, estava tudo fechado, e impossibilitou o arranque das aulas
presenciais, e isso obrigou a atrasar um ano o processo de candidatura e de
frequência deste curso para a inscrição subsequente na universidade”, explica a
professora Maria Lurdes Fernandes.
A
vice-reitora avança que, neste momento, apesar da centena de vagas, apenas
“sete estudantes vão frequentar o primeiro semestre” no IPOR. Este pequeno
grupo vai chegar ao Norte de Portugal para frequentar o segundo ciclo do curso
intensivo de português, em Fevereiro do próximo ano. Essas aulas serão
ministradas pelos professores da Faculdade de Letras especializados em língua e
cultura portuguesa.
O que justifica a baixa procura?
Maria
de Lurdes Fernandes diz que já era de esperar que nos primeiros anos de vida
deste protocolo, as vagas não fossem todas preenchidas, mas criar uma centena
de vagas foi a decisão certa para quem quer dar uma mensagem forte do interesse
que os alunos de Macau têm para a UP.
Ainda
assim, nada fazia prever que a adesão inicial fosse tão baixa, até porque havia
a ideia de “um forte interesse” dos alunos locais. Por isso, a vice-reitora
entende que os baixos números de adesão se explicam pelo momento que vivemos a
nível mundial e que decorre da Covid-19.
“Naturalmente,
as famílias estão preocupadas e receiam enviar os filhos num tempo em que a
pandemia não está controlada”, revela. “Vivemos uma conjuntura de muita
insegurança, e de muita dificuldade de recuperação de uma normalidade ou de uma
certa normalidade. Vimos o que surgiu este ano com os estudantes deslocados,
porque sabemos que é possível que surja outro surto. Há um ambiente de
insegurança em relação ao futuro da pandemia a curto prazo, o que leva a que os
estudantes e as famílias não ousem atravessar continentes”, acrescenta.
Mas
a mesma responsável está confiante de que uma boa experiência por parte dos
primeiros alunos que venham para Portugal será fundamental para o sucesso
futuro e o crescimento das vagas preenchidas, que confia será uma realidade.
“O
‘feedback’ dos que para cá venham estudar é fundamental, e ajuda a criar
a confiança nas famílias porque já sabem que há outros naturais de Macau que
para cá vieram. Sabíamos que no primeiro ano era difícil ter todas as vagas
preenchidas”, reconhece.
Os
sete alunos que já reservaram lugar em Fevereiro de 2021 na Universidade do
Porto vão frequentar todo o tipo de cursos desde as Letras, à Psicologia, ao
Direito, até à Medicina Dentária.
A
vice-reitora da UP afirma que apesar deste início mais titubeante, o projecto
está firme e trará muito valor acrescentado para a instituição de ensino que
dirige. “Entendemos que é importante esta cooperação com Macau, tendo em conta
a língua portuguesa. Interessa-nos ter estudantes com origens diversificadas.
Isso aumenta o ambiente multicultural, potencia a qualidade da formação”,
explica.
A
professora diz que esta é uma forma de as universidades poderem também captar
mais estudantes, uma vez que o Estado restringe o número de vagas para cada
curso ao nível dos alunos nacionais, mas permite que cada uma das ofertas
lectivas possa somar mais 30% de candidatos internacionais.
A
captação de alunos estrangeiros, segundo a vice-reitora da UP, é o objectivo de
todas as grandes universidades. “Veja-se o que sucede com as norte-americanas,
com as inglesas, e as de todos os continentes, é algo que reforça a dimensão
internacional da Universidade. Contribuiu para a diversidade e
multiculturalidade e isso é bom para os estudantes, mesmo para aqueles que não
podem sair de Portugal para terem essa experiência. Ficam com este contacto com
outros colegas de outras geografias e mais conhecedores de outras culturas”,
refere.
Uma ligação forte
O
acesso de estudantes da RAEM às instituições de ensino superior portuguesas é
feito pelos resultados de um exame unificado de acesso. Esta via directa surgiu
em 2018, com a assinatura de um protocolo de cooperação entre o Conselho de
Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) e a Região Administrativa
Especial de Macau. O objectivo foi o de simplificar o acesso de estudantes
macaenses às instituições de ensino superior de Portugal.
Nos
últimos cinco anos, a UP recebeu mais de 40 estudantes macaenses, sobretudo
para um período de mobilidade internacional de seis meses ou um ano.
Recentemente, a Universidade do Porto acolheu uma comitiva da Universidade de
Macau, num conjunto de encontros que visam aproximar as duas instituições, no
ensino e investigação.
Ao
nível de ligação com o Oriente, a UP tem actualmente a funcionar um Instituto
Confúcio, responsável pela difusão da cultura e língua chinesa no mundo, e
criou também um protocolo com a Universidade de Guangdong. “A intenção é a de
reforçar a cooperação com outras universidades chinesas e atrair estudantes que
venham frequentar o grau de ensino completo na Universidade do Porto.
Interessa-nos ter bons candidatos de qualquer parte do mundo”, remata a
vice-reitora, Maria Lurdes Fernandes. João Malta – Portugal in “Ponto
Final”
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