Nos primeiros cinco meses do ano, o Instituto para os
Assuntos Municipais arrecadou um montante total de cerca de 4,9 milhões de
patacas em multas por violações ao regulamento dos espaços públicos. O valor
diz respeito a 8311 casos, incluindo mais de 1500 referentes a anos anteriores.
Sensibilização, mais acção por parte do Governo e multas mais elevadas é o que
pedem os especialistas
Entre
Janeiro e Maio de 2020, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) recebeu
cerca de 4,9 milhões de patacas em multas pagas por pessoas que infringiram as
disposições do “Regulamento Geral dos Espaços Públicos”. O montante envolve 8311
casos, dos quais 6805 derivam de acusações deduzidas nos primeiros cinco meses
deste ano. As restantes dizem respeito a acusações feitas ao longo de 2019, por
exemplo, ou durante o ano anterior, explicou o organismo ao Jornal Tribuna de Macau.
No
total, 8591 notificações foram enviadas até 8 de Junho no âmbito do regulamento
que “estabelece a disciplina genérica das condutas a observar na utilização e
fruição dos espaços públicos”. Janeiro foi o mês em que se registaram mais
avisos (2544) – é o que mostram as mais recentes estatísticas publicadas no sítio
do organismo.
Quando
se analisam os dados, é perceptível que no primeiro mês do ano se verificaram 1400
autuações por “abandono de quaisquer resíduos sólidos”, representando 55% do
total de infracções deste tipo. Por outro lado, a maioria das infracções
cometidas insere-se na categoria do “abandono de quaisquer resíduos sólidos” (4315),
seguindo-se a “colocação ou abandono de quaisquer materiais ou objectos” (1919).
Na
categoria “outros” – que inclui, por exemplo, “actividade de pesca ilegal, acto
ilegal de colher ou danificar plantas, enxugar objectos em área do espaço
público, escolher resíduos contidos nos contentores de lixo” – foram feitas 1467
notificações pelo IAM. Há ainda casos relacionados com “cuspidura ou lançamento
de muco nasal” (712), “dejectos de animais de estimação” (130) e “queda de
pingos de águas provenientes de aparelho de ar condicionado” (48).
O
regulamento, que está em vigor desde 2004, e o “Catálogo das Infracções” têm
estabelecidos os montantes de multas consoante a sua classificação como
infracções comuns (300 ou 600 patacas), graves (de 700 a 2500 patacas ou de 700
a 5000) e muito graves (entre 2000 e 5000 patacas ou de 2000 a 10 000).
A
activista Annie Lao diz que há duas questões-chave no que respeita a este fenómeno:
as multas aplicadas a quem comete este tipo de infracções e a efectiva
aplicação do regulamento por parte do Governo. “As pessoas continuam a cuspir e
a deixar dejectos de animais e lixos nas ruas. Acho que a maior parte não é
multada”, defendeu em declarações ao Jornal Tribuna de Macau.
“Se
eu estacionar o meu carro numa zona ilegal em Macau, as hipóteses de ser
multada são muito mais elevadas do que se eu cuspir na rua”, afirmou.
Annie
Lao considera que as autoridades “não dão muita atenção” às violações do espaço
público, o que faz com que “continuemos a ver muitas pessoas” a ter este tipo
de comportamento. “Acho que o Governo se deve focar mais, não só em termos
ambientais, mas de higiene nas ruas, porque estas situações podem criar sérios
problemas de saúde pública”, considerou, defendendo também que “se as multas
forem mais elevadas” será um factor de “pressão” para as pessoas.
Chan
Pou Sam, vogal do Conselho Consultivo do IAM, considera que a situação de
deposição de objectos nas ruas melhorou, principalmente na Zona Central “onde a
densidade populacional é grande o Governo costuma realizar mais acções de
inspecção”.
“Porém,
na Zona Norte, sobretudo nas Portas do Cerco, o problema é muito grave. Há duas
razões: primeiro, naquela zona moram muitas pessoas. Depois, as pessoas
entendem que como é relativamente longe do centro os inspectores mais
dificilmente lá chegam. Sentem-se mais seguros em aproveitar os espaços dessa
zona para depositar resíduos de grande dimensão”, explicou. As autoridades
“também fazem inspecções, só que a frequência não é suficiente”, acrescentou.
Por
outro lado, entende que a multa de 600 patacas é “totalmente insuficiente”.
“Acho que se deve duplicar, superando 1000 patacas, porque para pagar às
empresas pelos serviços do tratamento dos móveis velhos de grande dimensão o
custo pode ser maior do que 600. Assim, muitos preferem ser multados porque
pagar só 600 patacas e colocar os móveis velhos num sítio qualquer é mais
conveniente”, disse.
Chan
Pou Sam contou ainda que durante a pandemia, recebeu queixas de muitos
moradores sobre móveis deixados nas ruas na zona do Fai Chi Kei e do Mercado
Vermelho. A diminuição do número de caixotes do lixo no território, defende, é
também um factor que contribui para que as pessoas deitem resíduos para as
ruas. Por outro lado, considera que o Governo deve reforçar a divulgação de
informação sobre os dias e locais onde o IAM vai recolher estes objectos.
Educar desde a infância
Já
Nick Lei, também vogal do Conselho Consultivo do IAM, relembra que até 7 de
Agosto o IAM vai estar a recolher móveis obsoletos de grande dimensão – porém
admite que o número destas acções é baixo. “As pessoas não querem esperar”,
observou.
Defende
que aumentar o valor da multa é uma das orientações para contrariar o cenário,
mas mais importante que isso é reforçar a educação. “Olhamos para o Japão e
Taiwan, regiões onde a protecção do ambiente é considerada bem feita, e a
consciência da população sobre o civismo e a protecção ambiental começa a ser
fomentada desde a infância. Esta solução provoca muito menos custo do que
‘educar’ adultos com métodos fortes. É preciso promover colaborações
interdepartamentais para reforçar a sensibilização”, explicou Nick Lei.
Sublinhando
que é difícil preparar inspectores que vigiem as ruas 24 sob 24 horas, aponta
que os cidadãos e a Companhia de Sistemas de Resíduos “têm também
responsabilidade de manter o bom ambiente higiénico dos espaços públicos”. Por
outro lado, defende que “o Governo deve analisar dados como a percentagem de
turistas, residentes e trabalhadores não-residentes que cometem estas infracções
e locais concretos onde foram praticadas com mais frequência, para fazer mais
sensibilização e aplicar sanções de forma mais científica”.
Nick
Lei exemplifica: “Nas Zonas Norte e dos Três Candeeiros muitos TNR depois de
comerem, depositam as caixas e ‘tapau’ nos espaços públicos. Mas se calhar
podem não ter o hábito de ver as notícias, pelo que o Governo pode colaborar
com as agências de emprego e associações para fortalecer a divulgação de
informação”.
Sugere
ainda que sejam instalados caixotes do lixo automáticos porque muita gente “tem
medo de sujar as mãos e dos maus cheiros”. Catarina Pereira – Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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