O
embaixador de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, afirmou que a relação
bilateral entre Portugal e a China vai para além de Macau e que os empresários
portugueses não devem ficar na sombra dos antepassados.
“O
papel de Macau tem uma ligação incontornável na relação com a China. É um caso
de estudo daquilo que deve ser o diálogo entre as nações”, disse o embaixador
de Portugal em Pequim, José Augusto Duarte, numa videoconferência organizada
pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), lembrando que “a
relação com a China é mais vasta do que Macau e não pode ser um livro de
nostalgia”.
O
diplomata, que falava a uma centena de empresários e gestores sobre “As
Relações Bilaterais e a Nova Fase da Parceria Estratégica”, evento que se
realizou no âmbito do ciclo “Connecting China to Portugal”, organizado
pela CCILCA, desafiou assim os empresários a construírem “um novo legado e um
novo futuro”.
José
Augusto Duarte admitiu, no entanto, que no quadro do Fórum para a Cooperação
Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa há
actualmente o desafio de “aliviar as barreiras alfandegárias” nas exportações
que passam por Macau para a China continental.
Os
países de língua oficial portuguesa, ao exportarem para a China Continental
através de Macau, enfrentam uma dupla tributação e novas barreiras
alfandegárias. “Temos aqui um desfio e seria bom aliviar as barreiras
alfandegárias”, prosseguiu, realçando o papel do Fórum para a Cooperação
Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau).
Actualmente,
muitos dos países de língua oficial portuguesa exportam para a China sem
passarem por Macau, nomeadamente devido a esta situação. O embaixador disse
ainda que a China é “um parceiro incontornável em todo o mundo” e que a “aposta
e compreensão deste mercado” pelos empresários portugueses “é fundamental”.
Portugal
“tem de estar unido e ter uma enorme parceria estratégica entre o Estado e os
privados. É uma responsabilidade colectiva”, realçou, desafiando os empresários
a exportarem para a China e lembrando que os termos de troca das exportações
pelas importações são desfavoráveis a Portugal. Mesmo assim, referiu que no
primeiro trimestre deste ano, o peso das exportações de bens agro-alimentares
nacionais no total das exportações para a China aumentou 255% face ao período
homólogo de 2019.
As
empresas portuguesas já se encontram habilitadas a exportar carne de porco,
produtos aquáticos, lacticínios, uvas de mesa, bens agro-alimentares de baixo
risco como o azeite, vinho ou mel. Adiantou que diversos processos negociais
estão em curso entre Portugal e a China para permitir a exportação,
nomeadamente de carne bovina, aves, ovinos e de peras e citrinos. “Há que não
termos receio e sofrer de timidez para irmos para este mercado [de 1,4 biliões
de consumidores]. Há que superar as dificuldades e é desejável e saudável para
uma relação equilibrada”, realçou José Augusto Duarte.
A
resposta da China face à pandemia da covid-19 torna este país um dos que “mais
rapidamente recuperarão”, pelo que se trata de “uma aposta certa”, pois será o
que “terá o maior crescimento na próxima década”. Além disso, o embaixador
considerou que Portugal tem capacidade para absorver mais capital chinês, um
investimento que “cumpre as regras de mercado e respeita a leis portuguesas”.
Sobre
as exportações portuguesas, disse este país consome tudo, mas seria
interessante exportar produtos transformados com “qualidade e valor
acrescentado” para serem competitivos.
José
Augusto Duarte defendeu ainda a importância das negociações do acordo bilateral
de investimento entre a China e a União Europeia (UE), considerando que
deveriam ficar concluídas ainda durante a presidência alemã da UE, que antecede
a portuguesa. “Era um passo muito importante devido ao desgaste que a pandemia
tem causado e estimularia muito a produtividade e as trocas comerciais”, disse
o diplomata, lembrando também que o transporte aéreo regular, de passageiros e
mercadorias, é da “maior importância” na conectividade com a China.
Neste
domínio, disse que o “ideal era haver todos os dias” ligações aéreas entre os
dois países e defendeu que Portugal deve apostar nos turistas chineses, pois
são “ordeiros e não conflituosos, gostam de consumir e pertencem ao segmento de
turismo de alta gama”. In “Ponto Final” com “Lusa”
Sem comentários:
Enviar um comentário