Um
estudo coordenado pelo geólogo do Geopark Naturtejo revela com detalhe as
condições ambientais que existiram no geomonumento de Penha Garcia, com quase
500 milhões de anos e repleto de marcas de vida marinha.
“As
camadas de rochas sedimentares existentes em Penha Garcia formaram-se durante a
abertura de um oceano, num período que foi particularmente importante para a
diversificação da vida animal no nosso planeta” explica o geólogo Carlos Neto
de Carvalho, citado num comunicado da Naturtejo.
Um
novo estudo coordenado pelo geólogo e coordenador científico do Geopark
Naturtejo, e publicado na revista ‘International Journal of Earth Sciences’,
revela com detalhe todas as evidências que permitiram reconstituir as condições
ambientais que existiram no geomonumento de Penha Garcia, no concelho de
Idanha-a-Nova.
Este
geomonumento, reconhecido pela UNESCO no âmbito do Geopark Naturtejo e
conhecido por muitos pela sua invulgar beleza natural, surge próximo das
nascentes do rio Ponsul, no concelho de Idanha-a-Nova, onde se abre um
imponente rasgão na montanha expondo, uma após outra, milhares de camadas de
rochas com quase 500 milhões de anos, repletas de marcas de vida marinha
ancestral.
A
dinâmica da Terra durante tão longo período de tempo levou a que se tenha
formado um grande estuário nas proximidades da região que é hoje Penha Garcia,
com origem num importante rio que traria sedimentos provenientes da região que
constitui atualmente o nordeste africano e a península arábica.
“Após
470 milhões de anos, estas areias e argilas depositadas nas margens de um
oceano, que acabou por fechar pelo movimento das placas tectónicas, constituem
hoje as rochas quartzíticas e xistentas tão bem expostas no vale apertado do
rio Ponsul”, lê-se na nota.
Adianta
ainda que as rochas preservam a estrutura original dos sedimentos, assim como
as marcas da intensa atividade biológica que vivia e se alimentava no fundo
marinho, permitindo reconstituir habitats, paisagens de ilhas arenosas e
episódios de grandes tempestades.
O
estudo agora publicado, que teve o apoio do município de Idanha-a-Nova, contou
com a colaboração do geólogo Aram Bayet-Goll, do Instituto de Estudos Avançados
de Zanjan, no Irão.
O
trabalho de Carlos Neto de Carvalho com o especialista iraniano permitiu, nos
últimos três anos e a partir da leitura detalhada das estruturas sedimentares
preservadas, do tipo de rochas presentes e das associações de fósseis que
caracterizam, camada a camada, o registo estratigráfico do vale do Ponsul e
fazer uma reconstituição detalhada das paisagens existentes na região de Penha
Garcia há 470 milhões de anos.
“Este
projeto permitiu ainda desvendar os parâmetros ecológicos que condicionaram o
tipo e modo de ocupação dos habitats marinhos que existiram em Penha Garcia,
dando origem ao fantástico registo dos fósseis Cruziana, como evidências de
alimentação de trilobites gigantes, que tornam Penha Garcia tão importante do
ponto de vista paleontológico”, sustenta a Naturtejo.
O
projeto agora concretizado cruza-se com outro em Penha Garcia, coordenado por
Martim Chichorro, investigador da Universidade Nova de Lisboa, que pretende
caracterizar as regiões de onde provieram as areias que constituem as rochas
quartzíticas do vale do Ponsul, a partir do estudo de um mineral (zircão) que
nestas ocorre.
“Estes
projetos de investigação científica são fundamentais para a caracterização
sólida e valorização de sítios com a importância geológica de Penha Garcia,
conferindo-lhes relevância internacional e a atenção de cientistas do mundo
inteiro”, conclui.
No
Geopark Naturtejo – Geoparque Mundial da UNESCO existem 176 sítios de
importância geológica identificados, com reconhecimento regional, nacional e
internacional.
Para
além do sinclinal de Penha Garcia, com os seus sítios paleontológicos, e do
Monte-ilha de Monsanto, em Idanha-a-Nova, são de destacar pela sua importância
geológica internacional a Serra do Muradal em Oleiros e o Monumento Natural das
Portas de Ródão, que inclui ainda a mina de ouro romana do Conhal do Arneiro e
o sítio paleontológico da Foz do Enxarrique, nos concelhos de Vila Velha de
Ródão e Nisa. In “Mundo Português” - Portugal
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