“Queremos introduzir algumas estratégias para tornar o
ensino da gramática mais contextualizado e mais perto daquilo que são as
funções da comunicação”
- Professora
Cláudia Martins, Mestrado em Linguística, ao Portuguese Times
Com
organização da Coordenação do Ensino de Português nos Estados Unidos, e apoio
do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, Porto Editora, LIDEL, Rhode
Island College, Discovery Language Academy/DeMello International Center,
escolas portuguesas comunitárias e escolas públicas e rede diplomática e
consular nos EUA, decorreu na passada semana nesta região, em Cambridge, New
Bedford e Providence, uma ação de formação de professores de Português Língua
Não Materna nos EUA, tendo por temática a gramática na aula da PLE: estratégias
de ensino.
Nesta
formação foram abordados vários tópicos relacionados com o ensino da gramática
nas aulas de PLE, partindo de duas questões relevantes:
-
O ensino da gramática nas aulas de PLE – um “mal” necessário;
-
A gramática como ferramenta da comunicação.
Em
conjunto, professores dos vários níveis de ensino de Português e ainda dois
representantes das editoras LIDEL e da Porto Editora e da dra. Cláudia Martins,
que orientou estas sessões, e com o apoio do dr. João Caixinha, coordenador do
ensino de Português nos EUA, refletiu-se sobre a forma como, dentro das
abordagens comunicativas, a gramática pode ser trabalhada em contexto, através
(e ao serviço) do uso da língua, e em estreita relação com os objetivos e
interesses comunicativos, e pôr em prática algumas estratégias para um ensino
significativo dos conteúdos gramaticais.
Portuguese
Times marcou presença numa dessas sessões, na passada sexta-feira no DeMello
International Center, em New Bedford, que contou com a presença de Jimmy
DeMello, grande apoiante do ensino de Português e de outras iniciativas
culturais que visam a expansão da língua e da cultura nestas paragens, da dra.
Leslie Ribeiro Vicente, diretora da Discovery Language Academy, e da cônsul de
Portugal em New Bedford, Shelley Pires, que abriu a sessão, regozijando-se com
esta iniciativa e enaltecendo o trabalho da coordenação do ensino de Português
e dos professores presentes.
Cláudia
Martins, que concluiu o seu Mestrado em Linguística em 2015, professora de
Português Língua não Materna desde 2006 em diferentes universidades e
instituições e que tem colaborado em diferentes projetos relacionados com o ensino/aprendizagem
de PLNM, nomeadamente no âmbito da formação de professores e da criação de
materiais didáticos e de referência, tem orientado estas ações.
Em
entrevista ao Portuguese Times, Cláudia Martins manifestou-se muito satisfeita
pela grande adesão de professores a esta iniciativa.
“Está
a correr tudo muito bem e confesso que esta ação de formação de professores de
Português superou as minhas expetativas iniciais, tem sido muito participativa,
com salas cheias, os professores têm tido um feed back muito interessante e
estou muito satisfeita”, começou por dizer ao Portuguese Times a professora
Cláudia Martins.
“Os
professores têm reagido muito bem aos tópicos apresentados do ensino da
gramática, porque na verdade às vezes na sala de aula ensinar os conteúdos
gramaticais é um pouco desafiante e mais difícil e portanto eu tenho tentado
introduzir algumas estratégias para tornar o ensino da gramática mais
contextualizado, mais perto daquilo que são as funções da comunicação, no fundo
mostrar que podemos trabalhar a gramática de uma forma menos tradicional e mais
incorporada naquilo que é o objetivo, que é falar, comunicar fazermo-nos
entender... Sei que os professores por vezes têm algumas dificuldades mais
relacionadas com o currículo, programas, manuais... Acho que tem sido um tema
bastante bem recebido porque os professores no final das sessões dizem-nos que
têm boas ideias, que vão tentar implementar algumas diferenças na sua forma de
abordar algumas questões e portanto acho que está tudo bem”, salienta a dra.
Cláudia Martins, durante um interregno na sessão de formação de professores de
Português no passado sábado no Rhode Island College.
Sobre
o ensino de Português nos Estados Unidos e aumento da procura por parte de
alunos lusodescendentes e até mesmo americanos, a professora Cláudia Martins,
salienta:
“Tenho
ouvido pelo dr. João Caixinha e por vários professores que o número de alunos a
estudar Português tem vindo a aumentar e isso é muito bom e pelos vistos não
são apenas os jovens lusodescendentes, mas também alguns jovens americanos que
procuram o Português como língua estrangeira e isso para nós é um desafio
maior, porque nos leva a investir um pouco mais tanto na formação de
professores, quer na elaboração de materiais e destas ações de partilha”,
conclui Cláudia Martins, que agradece ao dr. João Caixinha pela convite a
dirigir estas ações de formação de professores de Português e pela forma bem
organizada e coordenada como tudo tem decorrido.
Por
sua vez, Nuno Marques, assessor pedagógico e ligado à editora LIDEL, em Lisboa,
salienta que já há algum tempo que esta editora tem apoiado a coordenação de ensino
de Português nos EUA através de João Caixinha com Duarte Pinheiro, coordenador
na Califórnia.
“Temos
efetuado uma estreita ligação com a coordenação do ensino de Português tanto
aqui na Costa Leste com João Caixinha e com Duarte Pinheiro na Califórnia,
desde 2013, em matéria de formações contínuas uma vez por ano aqui nos EUA, e
para além disso é um trabalho que temos desenvolvido de acordo com as
necessidades dos professores e muitas das vezes fazemos planos de trabalho em
coordenação com o dr. João Caixinha, mais em matéria de conteúdos e tenho
participado desde 2013 às formações e além disso tenho vindo também a outras
sessões, na primavera e outono. A editora LIDEL já há muito tempo que apoia
este trabalho contínuo em prol da língua portuguesa no mundo e nos EUA em
particular”, sublinha Nuno Marques, que adianta sobre esta iniciativa da
formação de professores de Português nos EUA.
“Penso
que está a decorrer muito bem, com grande adesão dos professores nestas sessões
com introdução de conteúdos específicos adaptados à realidade norte-americana e
temos tentado dar uma resposta adequada a essas questões que nos são colocadas
e este trabalho tem dado já os seus frutos, o primeiro pela forte presença dos
professores e o segundo pela inegável qualidade das formações e depois cada um
dos professores levará o trabalho de casa a pôr em prática esses conteúdos nas
aulas”.
“Gostaria
de acrescentar um aspecto importante e tem a ver com este trabalho que estamos
a fazer em conjunto, a LIDEL há 30 anos que tem vindo a trabalhar em parceria
com os agentes próprios no ensino do Português e devo salientar não apenas a
qualidade destas formações mas também a qualidade dos materiais que têm sido
desenvolvidos, tanto na quantidade como na qualidade, havendo uma variedade
bastante grande de materiais adaptados à realidade dos EUA e portanto este é um
trabalho que tem sido feito em parceria com os professores, a coordenação de
ensino e as escolas e isto é muito importante para a qualidade de trabalho a
apresentar para bem de todos os alunos que estão a aprender a nossa língua”,
conclui Nuno Marques.
Sérgio
Marques, da Porto Editora, manifestou também o seu contentamento pelo sucesso
desta ação de formação de professores de Português nos Estados Unidos.
“Para
nós é sempre um motivo de orgulho participar nestas iniciativas uma vez que nos
permite estar junto dos professores e saber das dificuldades que eles enfrentam
e o que pretendem para o futuro. Nós, como uma editora de referência ao nível
do ensino, é muito importante ter conhecimento das dificuldades que os
professores têm para podermos ajudá-los no desenvolvimento de novos projetos
para a lecionação e por isso foi com muito orgulho que recebemos o convite”,
refere Sérgio Marques, que encarou com entusiasmo estas ações de formação de
professores aqui na Costa Leste (estão a decorrer neste momento na Califórnia).
“Penso
que esta temática do ensino da gramática ajudou ao interesse dos professores e
queria realçar a coordenação do ensino que tudo fez para esta ação fosse um
sucesso junto dos professores e escolas ao divulgar muito bem esta iniciativa”,
conclui Sérgio Marques afirmando ainda que o ensino de Português nos EUA está
no caminho certo uma vez que há um maior número de alunos a aprender a nossa
língua, reconhecendo o trabalho de qualidade e dedicado nesta área do
coordenador de ensino de Português, João Caixinha e o papel da comunicação
social portuguesa nesta região na sua tarefa de divulgar estas iniciativas que
visam a expansão da língua de Camões.
João
Caixinha, coordenador do ensino de Português nos EUA, que teve grande mérito no
sucesso desta ação de formação de professores de Português, manifestou também o
seu contentamento pela forma como tudo decorreu.
“A
adesão a esta iniciativa foi claramente muito maior do que em anos anteriores e
penso que isso se deve a várias circunstâncias e uma delas tem a ver com o
trabalho das editoras que estão a oferecer ferramentas e recursos on-line e
hoje em dia todos sabemos que o ensino não pode ser apenas dirigido pelo
professor, há que ter outros recursos e hoje em dia os jovens dispõem desses
recursos, nomeadamente os iphones, ipads, e as editoras em
Portugal têm de facto acompanhado essa evolução e portanto uma coisa que
constatamos aqui é que anteriormente os professores queixavam-se muito de falta
de recursos e hoje em dia temos mais recursos e isso aliciou muito a
participação dos professores, tanto em Boston, como em New Bedford e no Rhode
Island College, provenientes não só das escolas comunitárias, mas também do
ensino público que estão a ensinar nas escolas americanas e isso é para nós
muito positivo e o outro aspecto positivo é que os próprios professores vão
sugerindo ideias às editoras que é preciso adaptar também estes manuais, estes
recursos à realidade dos EUA e aqui dou um exemplo: não adianta um aluno ler a
Serra da Estrela num livro se ele nem sequer conhece Portugal, pois a
referência para ele é limitada, mas se tiver uma montanha ou monte branco nos
EUA em comparação com a Serra da Estrela em Portugal talvez ele possa
relacionar-se. Temos que alargar o ensino a todos e na perspectiva das
comunidades”, sublinha João Caixinha, salientando que o Português é uma língua
com uma dinâmica muito forte, pluricêntrica e em expansão nos Estados Unidos e
no mundo inteiro.
De
referir ainda que estas ações de formação de professores de Português nos EUA,
que já decorreram em Cambridge, New Bedford, Providence, Connecticut, Newark e
New York, continuam na costa oeste, em Berkeley e Davis, Califórnia. Francisco
Resendes – Estados Unidos da América in “Portuguese
Times”
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