Os
responsáveis brasileiros pela rede de Bancos de Leite Humano estimam que a
tecnologia terá salvo cerca de dois milhões de bebés e aposta agora é no apoio
aos países lusófonos.
Detentor
da maior rede de bancos de leite humano (BLH) do mundo, o Brasil, que conta com
34 anos de experiência no setor, instalou na semana passada, no estado do Rio
de Janeiro, a Coordenação Técnica da rede da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa, que funcionará na Secretaria Executiva da Rede Brasileira de Leite
Humano, na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Esta
nova coordenação técnica dedicada à CPLP, será responsável por dar assessoria
técnica aos países lusófonos, programas de treino presencial, cursos e ensino à
distância, trocas de experiências, e apoio à construção de projetos.
Além
do país sul-americano, também Portugal, Cabo Verde, Moçambique e, desde a
passada segunda-feira, Angola, beneficiam da tecnologia brasileira.
Segundo
dados contabilizados desde 2009 até ao corrente ano, foram beneficiados pelos
bancos de leite 1 927 564 recém-nascidos no Brasil, 890 em Portugal, 4079 em
Cabo Verde, e 78 em Moçambique. Angola, por ter inaugurado esta semana o seu
primeiro banco de leite humano, ainda não apresenta números.
Em
relação ao volume de leite doado nos quatro países, o valor ultrapassa os dois
milhões de litros.
O
coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, João Aprígio Guerra de
Almeida, contou como a expansão do projeto começou, e revelou que o intuito é
alargar a tecnologia brasileira a outros Estados da Comunidade dos Países de
Língua Portuguesa (CPLP).
“O
Brasil começou a receber um conjunto de pedidos de vários países, para que
compartilhássemos essa boa prática brasileira com os países irmãos. Obviamente,
começamos pela América do Sul, mas a procura foi crescendo e sentimos a
necessidade de criar o primeiro fórum sobre o tema, que ocorreu em 2005”,
destacou o coordenador.
“Para
nossa surpresa, os resultados foram crescendo de uma forma muito rápida. Em
2007, num importante fórum de cooperação, que inclusive nos une, a Portugal e
ao Brasil, pediram-nos que encaminhássemos o projeto para uma cooperação
multilateral, onde todos os países, de forma irmã, pudessem discutir a
experiência”, disse à Lusa João Aprígio.
Em
2008, começa então o programa ibero-americano de BLH, sediado na Fiocruz do Rio
de Janeiro.
“Portugal
começa a colaborar formalmente no projeto, e surgem aí os pedidos vindos de
África, cuja primeira demanda veio de Cabo Verde, onde começamos no Hospital
Agostinho Neto, em Praia, e, em seguida, Moçambique, que foi um projeto que
demorou mais tempo, tendo sido inaugurado apenas no ano passado”, indicou o
especialista brasileiro.
Na
prática, o Brasil transfere os princípios que fundamentam a sua tecnologia de
bancos de leite, e ajuda os países a adaptá-los à sua realidade local.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) considerou o Banco de Leite Humano uma das
iniciativas que mais contribuiu para a redução da mortalidade infantil na
década de 90 em todo o mundo e conferiu à Rede Brasileira, o Prêmio Sasakawa de
Saúde, em 2001.
Questionado
se no futuro próximo outros países da CPLP serão abrangidos por esta
tecnologia, João Aprígio revelou que, no próximo ano, Guiné-Bissau e São Tomé e
Príncipe sediarão eventos sobre o tema “leite humano como salvaguarda da vida”.
“Teremos
na Guiné-Bissau e em São Tomé e Príncipe workshops sobre como as ações de BLH
podem colaborar com os países no âmbito da agenda 2030, e como podem contribuir
para o sistema de saúde neonatal desses países”, indicou.
A
partilha da tecnologia de bancos de leite humano com países lusófonos faz parte
da agenda do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por intermédio da
agência brasileira de cooperação (ABC), do Ministério da Saúde, e da Fiocruz.
No
momento, o Brasil lidera largamente o posto de país como maior número de BLH,
com 224, enquanto que Portugal, Cabo Verde, Moçambique e Angola têm apenas um
banco cada, segundo a Fiocruz.
“Este
é o resultado de muito tempo de trabalho, de investimento, pesquisa,
desenvolvimento tecnológico e inovação. (…) As nossas metas são reduzir a mortalidade
infantil, com ênfase na componente neonatal, assim como na diminuição da
incidência de doenças crônicas não transmissíveis”, concluiu o especialista.
Os
BLH são responsáveis pela promoção do aleitamento materno e execução das
atividades de recolha, processamento e controlo de qualidade do leite produzido
nos primeiros dias após o parto (colostro), leite de transição e leite humano
maduro, para posterior distribuição sob prescrição médica ou nutricionista. In “Mundo
Lusíada” – Brasil com “Lusa”
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