Praia
– O ex-Presidente cabo-verdiano Pedro Pires considerou que a Guiné-Bissau ainda
paga o “custo da luta armada que fez”, na influência política nas Forças
Armadas e lamentou que “as melhores lideranças” não tenham podido chegar ao
poder.
“Acompanho
o que acontece na Guiné-Bissau, acompanho as evoluções, discuto por vezes com
as pessoas, procuro compreender as causas. Por vezes, tenho impressão que a
Guiné-Bissau paga até agora o custo da luta armada que fez, criou umas Forças
Armadas com influência política, depois dificuldades de afastar as Forças
Armadas de decisões políticas. Há vários factores que se entrecruzam e tornam a
liderança e a gestão do país mais complicada”, apontou Pedro Pires.
A
posição foi assumida pelo antigo chefe de Estado cabo-verdiano (2001 a 2011) em
entrevista à Lusa a propósito do último “Relatório sobre a Governação Africana
da Fundação Mo Ibrahim”, instituição que lhe atribuiu o Prémio de boa
governação em 2011.
A
Guiné-Bissau vive um momento de grande tensão política e de violência, tendo
neste momento dois governos e dois primeiros-ministros.
O
Presidente guineense, José Mário Vaz – que por sua vez é recandidato ao cargo
nas eleições presidenciais de 24 de Novembro -, deu posse no dia 31 de Outubro
a um novo Governo, liderado por Faustino Imbali, depois de ter demitido o
executivo liderado por Aristides Gomes em 28 de Outubro, e afirmou no domingo
que a sua decisão “é irreversível”.
Na
mesma entrevista à Lusa, o antigo Presidente Pedro Pires admitiu ter “relações
muito especiais de afectividade” com a Guiné-Bissau, países (juntamente com
Cabo Verde) que partilharam o processo de luta anticolonial.
“Acompanho
a situação, essa transição na Guiné-Bissau tem sido difícil, transição de
colónia para país soberano, a construção do Estado soberano, depois a transição
de regime mono partidário para regime pluripartidário, são transições que
exigem também gestão, as lideranças têm de fazer a gestão de modo a conseguir
aderir, integrar toda a gente. Por vezes isso não acontece”, apontou, alertando
ainda para um dos “factores externos” que vai ameaçando a estabilidade do país.
“Por
exemplo, na Guiné-Bissau toda a gente fala de um factor externo complicado que
é o narcotráfico. São vários elementos que conduzem a uma maior complexidade da
gestão da governação”, disse um dos heróis da guerra da independência do país,
ao lado de Amílcar Cabral.
A
diversidade étnica e cultural do país, sublinha, é “outro aspecto” a levar em
conta na Guiné-Bissau.
“Nessa
base não estou em condições de condenar, de apontar o dedo a alguém, o mesmo
esforço é no sentido de compreensão neste momento do que se passa, será
possível? Acredito que, apesar das dificuldades actuais, das tensões políticas
actuais, que os guineenses vão encontrar o caminho. Não têm tido sorte na
questão das lideranças, e as melhores lideranças não têm podido chegar ao
poder. Vamos ver se é desta”, enfatizou Pedro Pires.
O
relatório da Fundação Mo Ibrahim, lançado em Outubro, tem como objectivo
avaliar o progresso em termos da implementação dos Objectivos de
Desenvolvimento Sustentável (ODS, Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas)
e da Agenda África 2063, entre outras prioridades.
A
Fundação, que baseou este estudo nos dados do Índice Ibrahim de Governação
Africana (IIAG), concluiu que “os institutos de estatísticas nos países
africanos em geral sofrem de falta de recursos financeiros” e de apoio dos
governos.
Segundo
o documento, quase metade das metas da Agenda 2063 – definida pela União
Africana – não é directamente quantificável e menos de 20% não possui um
indicador para medir progressos.
Mais
de metade dos tipos de fontes de dados sobre os indicadores dos ODS em África
correspondem a estimativas ou estudos internacionais e apenas um terço das
fontes de dados são de fontes directas nacionais, refere o estudo. In “Inforpress”
– Cabo Verde com “Lusa”
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