Em causa está a reforma do ensino secundário francês que
poderá ter impacto no ensino de Português a nível universitário naquele país
A
reforma do ensino secundário em França, aprovada pelo Governo francês e que
terá eco em 2021 poderá afetar o ensino da língua portuguesa também a nível
universitário. “Poderá efetivamente ter um impacto direto no número de alunos
que procuram uma especialização em português na universidade francesa”, avançam
Adelaide Cristóvão, coordenadora do ensino português em França e Ana Paixão,
diretora da Casa de Portugal-André de Gouveia e Leitora do Camões, I.P. na
Universidade de Paris VIII.
As
duas responsáveis explicam que muitos alunos que chegavam à universidade tinham
aprendido português como terceira língua viva (LV) no secundário (lycée).
Com a nova reforma do ensino secundário podem continuar a fazê-lo, mas já não
tem a mesma pontuação no exame do 12° ano, “e esse facto reduz o número de
alunos a optarem por estudar português como terceira língua”.
O
português continua a ser ensinado como até aqui, como língua viva 1 (LV1), a
partir do 6° ano, ou como LV2, a partir do 7° ano. A reforma do ensino
secundário veio fazer-se sentir no 11° e 12° anos (1ère e Terminale).
Para os dois últimos anos da escolaridade é agora criada uma área de
especialidade: a LLCE – Línguas, Literaturas e Culturas Estrangeiras, que
contemplava apenas o inglês, o espanhol, o alemão e o italiano, ou seja, com o
português a ficar de fora nessa especialidade.
A
Coordenação do EPE em França e o Embaixador de Portugal no país, Jorge Torres
Pereira, juntaram esforços, que contaram também com o apoio de Embaixadores dos
outros países lusófonos, no sentido de solicitar ao Ministério da Educação
francês a inclusão do Português no LLCE, tendo sido mesmo enviada carta ao
Ministro da tutela.
“Conseguiram-se
resultados positivos. A especialidade LLCE foi alargada ao português em alguns
liceus das academias de Paris, de Versailles e de Créteil e também à Guiana
Francesa onde o português é muito ensinado”, sublinham Adelaide Cristóvão e Ana
Paixão. Atualmente, as negociações prosseguem no sentido do português integrar
a especialidade em todo o território francês.
O
movimento associativo juntou-se à iniciativa. Foi o caso da Associação para o
desenvolvimento dos estudos portugueses, brasileiros, da África e da Ásia
lusófonas (ADEPBA), que enviou cartas ao Ministro da Educação francês e
organizou abaixo-assinados que contribuíram para os resultados obtidos.
Momento político “é favorável”
Partiu
ainda do Embaixador português a iniciativa de criar a Comissão de
Acompanhamento do Português em França (CAPEF) que agrega professores, decisores
políticos, associações, empresários, diplomatas e ainda a Embaixada do Brasil e
a Coordenação do Ensino Português.
Adelaide
Cristóvão e Ana Paixão revelam que a comissão está a preparar uma campanha para
aumentar o número de inscritos em língua portuguesa logo a partir da primária,
mas sobretudo no 2° e 3° ciclos (collège), “mobilizando pais e alunos
não só de origens lusófonas, mas de vários horizontes geográficos, no sentido
de afirmar a língua portuguesa em todas as suas vertentes”.
Em
meio à movimentação já gerada, sublinham que o momento político das relações
entre Portugal e França “é particularmente favorável”, dando como exemplo o
Acordo de Cooperação Educativa e Linguística celebrado entre os dois países e
recentemente ratificado e que reuniu a primeira comissão de acompanhamento no
passado dia 16 de outubro, em Lisboa.
Apontam
ainda outras iniciativas relevantes “para o bom entendimento político, escolar,
académico, ou cultural” entre Portugal e França: a assinatura de parcerias
‘Erasmus +’ entre a academia de Paris e vários agrupamentos escolares da região
de Lisboa em dezembro de 2019, a participação da Universidade de Lisboa no
projeto das Universidades europeias lançado pelo Presidente Macron, a presença
de França enquanto membro observador da CPLP desde junho de 2018 ou o
lançamento da ‘Saison croisée/Programação cruzada’ Portugal – França em 2021.
“Neste
contexto favorável das relações bilaterais entre os dois países, continuaremos
a trabalhar pela afirmação da Língua Portuguesa no ensino primário, secundário
e universitário francês, continuando a missão de a incluir em diferentes áreas
académicas, neste momento marcante da celebração do centenário do ensino do
português na universidade francesa”, asseguram. Ana Pinto – Portugal in “Mundo
Português”
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