Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Macau - Sophia de Mello Breyner, para além da palavra

No ano em que se celebra o centenário da poetisa portuguesa, a Universidade de São José (USJ) organiza um colóquio internacional com o intuito de aprofundar a importância da obra de Sophia de Mello Breyner Andresen na literatura contemporânea. Com a participação de especialistas, professores e investigadores, as sessões abordam temas como a tradução, a poética ou o impacto dos contos da autora no ensino da língua portuguesa



A celebração do centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen foi ontem assinalada com o início de um colóquio internacional, organizado pelo Departamento de Estudos Portugueses da USJ, sobre a vida e a obra da poetisa portuguesa, que termina hoje. Com a participação do escritor e tradutor luso-americano Richard Zenith, a primeira sessão do colóquio foi dedicada às “Poéticas” de Sophia, com intervenções do reitor da USJ, Peter Stilwell, de Sara Augusto, docente do IPM, e de Vera Borges, docente da USJ.

“A minha área de estudos é o século XVII e a literatura barroca, sendo que a morte, e a visão da morte, sempre foi um dos temas essenciais da poesia. A minha abordagem no colóquio sobre Sophia de Mello Breyner veio do conhecimento da poesia dela, mas também do conhecimento de uma poética que é a poética barroca, onde esse tema foi importante”, começou por explicar Sara Augusto ao Ponto Final, sobre a sua intervenção intitulada “O frio das violetas: meditações de Sophia de Mello Breyner”.

A professora do Instituto Politécnico de Macau participou na primeira sessão do colóquio para falar da temática da morte na poesia de Sophia e dos possíveis pontos de contacto com a poesia barroca do século XVII. “A minha apresentação foi procurar estabelecer uma relação entre os textos barrocos, que falam sobre a morte, e a poesia de Sophia, onde ela aborda esse tema, e tentar entender qual é a relação de proximidade, ou quais são as diferenças”, assinalou Sara Augusto.

“Abordei ainda a relação entre vida e morte e como é que ela entende a morte. Vida e morte na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen não ocupam diâmetros opostos. Na verdade, vida e morte estão muito perto uma da outra, e há na poesia dela uma aceitação da morte como algo perfeitamente natural e que a vai impedir, na verdade, de viver as coisas, de fruir as coisas, mas que também liberta das contingências da vida e aproxima daquilo que é eterno”, acrescentou a professora de literatura.

Outro dos aspectos na poesia de Sophia de Mello Breyner que fascina Sara Augusto é o facto de que “nada na poesia dela está a mais ou é superficial”. “As palavras são escolhidas porque são as palavras certas, e têm ressonância no poema naquele sítio e com aquele sentido. E esse é sem dúvida alguma o aspecto mais importante”, frisa Sara Augusto, destacando ainda a relação da poesia de Sophia de Mello Breyner com a antiguidade clássica, a Grécia Antiga.

Questionada pelo Ponto Final sobre o impacto que a poesia de Sophia costuma ter nas salas de aula, Sara Augusto revela que “os alunos costumam gostar muito da poesia dela”. “O que eu tenho descoberto é que há na obra de Sophia uma certa correspondência, em alguma poesia, com o gosto dos alunos. Existe nela uma poesia muito sensível, muito ligada às coisas, muito ligada ao real. E isso quase sempre faz eco nos alunos, aliás, eu tenho de confessar que uma das coisas que me surpreende é a adesão na forma como os alunos chineses gostam de poesia. É uma das matérias que eles gostam mais, na verdade”, afirmou a professora do IPM ao Ponto Final.

Em relação às intervenções que presenciou no primeiro dia do colóquio, Sara Augusto refere que o tema da religiosidade e espiritualidade, na poesia de Sophia de Mello Breyner, apresentado pelo reitor da USJ Peter Stilwell lhe despertou a atenção, assim como a intervenção da professora Vera Borges, com a comparação entre alguns poemas de Sophia e alguns poemas da Fernanda Dias, de Macau. “A professora Vera Borges encontrou um ponto de comparação com a poesia de Fernanda Dias e que tem a ver com a expressão de Sophia enquanto mãe, poeta, mas também enquanto mulher”, assinalou Sara Augusto. In “Ponto Final” – Macau

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