No ano em que se celebra o centenário da poetisa
portuguesa, a Universidade de São José (USJ) organiza um colóquio internacional
com o intuito de aprofundar a importância da obra de Sophia de Mello Breyner
Andresen na literatura contemporânea. Com a participação de especialistas,
professores e investigadores, as sessões abordam temas como a tradução, a
poética ou o impacto dos contos da autora no ensino da língua portuguesa
A
celebração do centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen foi
ontem assinalada com o início de um colóquio internacional, organizado pelo
Departamento de Estudos Portugueses da USJ, sobre a vida e a obra da poetisa
portuguesa, que termina hoje. Com a participação do escritor e tradutor
luso-americano Richard Zenith, a primeira sessão do colóquio foi dedicada às
“Poéticas” de Sophia, com intervenções do reitor da USJ, Peter Stilwell, de
Sara Augusto, docente do IPM, e de Vera Borges, docente da USJ.
“A
minha área de estudos é o século XVII e a literatura barroca, sendo que a
morte, e a visão da morte, sempre foi um dos temas essenciais da poesia. A
minha abordagem no colóquio sobre Sophia de Mello Breyner veio do conhecimento
da poesia dela, mas também do conhecimento de uma poética que é a poética
barroca, onde esse tema foi importante”, começou por explicar Sara Augusto ao Ponto
Final, sobre a sua intervenção intitulada “O frio das violetas: meditações de
Sophia de Mello Breyner”.
A
professora do Instituto Politécnico de Macau participou na primeira sessão do
colóquio para falar da temática da morte na poesia de Sophia e dos possíveis
pontos de contacto com a poesia barroca do século XVII. “A minha apresentação
foi procurar estabelecer uma relação entre os textos barrocos, que falam sobre
a morte, e a poesia de Sophia, onde ela aborda esse tema, e tentar entender
qual é a relação de proximidade, ou quais são as diferenças”, assinalou Sara
Augusto.
“Abordei
ainda a relação entre vida e morte e como é que ela entende a morte. Vida e
morte na poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen não ocupam diâmetros
opostos. Na verdade, vida e morte estão muito perto uma da outra, e há na
poesia dela uma aceitação da morte como algo perfeitamente natural e que a vai
impedir, na verdade, de viver as coisas, de fruir as coisas, mas que também
liberta das contingências da vida e aproxima daquilo que é eterno”, acrescentou
a professora de literatura.
Outro
dos aspectos na poesia de Sophia de Mello Breyner que fascina Sara Augusto é o
facto de que “nada na poesia dela está a mais ou é superficial”. “As palavras
são escolhidas porque são as palavras certas, e têm ressonância no poema
naquele sítio e com aquele sentido. E esse é sem dúvida alguma o aspecto mais
importante”, frisa Sara Augusto, destacando ainda a relação da poesia de Sophia
de Mello Breyner com a antiguidade clássica, a Grécia Antiga.
Questionada
pelo Ponto Final sobre o impacto que a poesia de Sophia costuma ter nas salas
de aula, Sara Augusto revela que “os alunos costumam gostar muito da poesia
dela”. “O que eu tenho descoberto é que há na obra de Sophia uma certa
correspondência, em alguma poesia, com o gosto dos alunos. Existe nela uma
poesia muito sensível, muito ligada às coisas, muito ligada ao real. E isso
quase sempre faz eco nos alunos, aliás, eu tenho de confessar que uma das
coisas que me surpreende é a adesão na forma como os alunos chineses gostam de
poesia. É uma das matérias que eles gostam mais, na verdade”, afirmou a
professora do IPM ao Ponto Final.
Em
relação às intervenções que presenciou no primeiro dia do colóquio, Sara
Augusto refere que o tema da religiosidade e espiritualidade, na poesia de
Sophia de Mello Breyner, apresentado pelo reitor da USJ Peter Stilwell lhe
despertou a atenção, assim como a intervenção da professora Vera Borges, com a
comparação entre alguns poemas de Sophia e alguns poemas da Fernanda Dias, de
Macau. “A professora Vera Borges encontrou um ponto de comparação com a poesia
de Fernanda Dias e que tem a ver com a expressão de Sophia enquanto mãe, poeta,
mas também enquanto mulher”, assinalou Sara Augusto. In “Ponto
Final” – Macau
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