Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 13 de agosto de 2019

Estados Unidos da América - Português António Cabral recorda defesa pela independência de Timor-Leste na política americana



António Cabral, deputado na Câmara dos Representantes de Massachusetts, recorda como esteve no centro do movimento político norte-americano pela independência de Timor-Leste, há 20 anos, com uma proposta de lei e convites a Ramos-Horta para discursar em Boston.

O político, nascido nos Açores e imigrado nos EUA com a família há 50 anos, foi distinguido em 2017 com a Medalha da Ordem de Timor-Leste e revelou ter sido convidado recentemente por Xanana Gusmão para estar presente nas celebrações dos 20 anos do Referendo em Timor-Leste, em 30 de agosto.

Representante da cidade de New Bedford na Massachusetts State House há quase 30 anos, António Cabral descreveu à agência Lusa que foi uma proposta de lei contra empresas indonésias, apresentada por Cabral, que chamou a atenção para o problema timorense nos Estados Unidos.





“Conseguimos pôr pressão na administração de Bill Clinton para se envolver e intervir com a Indonésia para que houvesse uma oportunidade para o povo timorense fazer uma decisão para si, que veio a acontecer com o referendo”, disse António Cabral, em entrevista à Lusa.

Depois de ter apresentado uma proposta de lei contra investimento americano em negócios ligados à Indonésia, António Cabral convidou várias personalidades de Timor-Leste a discursar na Assembleia de Massachusetts.

O português intermediou as visitas de José Ramos-Horta à assembleia legislativa de Boston depois de este ter sido distinguido com o Nobel da Paz e, depois da independência, também recebeu o primeiro embaixador de Timor-Leste para os EUA, Constâncio Pinto.

A proposta de lei apresentada por António Cabral nos finais dos anos 1990 defendia sanções a entidades que investissem em negócios relacionados com a Indonésia, no final do período conhecido como Ocupação Indonésia em Timor-Leste.

“Apresentei uma proposta de lei aqui em Massachusetts para que companhias e o próprio sistema de reformas do Estado não investissem em companhias que estivessem a lidar com a Indonésia”, recordou o deputado.

“Essa proposta criou imensa controvérsia em certos setores económicos”, continuou António Cabral, dizendo que os efeitos podiam sentir-se na Indonésia e outros países com interesses económicos na ilha asiática, através das grandes companhias americanas.

O político recordou que a medida começou por criar pressão a nível dos congressistas que representavam Massachusetts no Senado norte-americano em Washington, difundiu-se por senadores de vários Estados e chegou à Casa Branca, na administração de Bill Clinton.

“Nós criámos esse movimento, foi devido a essa proposta que apresentámos aqui em Massachusetts que eventualmente se começou a criar um movimento nacional nos Estados Unidos, por outros estados”, contou António Cabral à Lusa.




“Os nossos representantes no Congresso em Washington e a Casa Branca sentiram a pressão da opinião publica que criámos aqui e intervieram”, resumiu.

José Ramos-Horta recebeu o Prémio Nobel da Paz em dezembro de 1996, juntamente com o bispo Carlos Filipe Ximenes Belo e, convidado pelo deputado António Cabral, “veio testemunhar perante a Assembleia em Massachusetts a importância dessa proposta-lei” para Timor-Leste.

“O Dr. Ramos-Horta esteve cá várias vezes nesse sentido, a trabalhar para que houvesse apoio”, recordou António Cabral, mostrando uma fotografia emoldurada, em que está numa mesa de trabalho ao lado do ativista e político timorense.

António Cabral visitou o “novo país” em 2004 e 2017, no 15.º aniversário da independência, quando também recebeu a Medalha da Ordem de Timor-Leste pelas mãos do antigo primeiro-ministro Rui Maria de Araújo.

“Ainda há muito por fazer, mas comparado com a primeira vez que estive lá, o progresso é palpável, pode-se ver e pode-se sentir”, contou Cabral.

O açoriano considera que o país asiático deve continuar no caminho do progresso e apostar em criar oportunidades para os jovens, que constituem grande parte da população.

O deputado de Massachusetts acredita que “a liderança do país, as várias autoridades e individualidades estão a trabalhar de uma maneira importante para fazer com que as oportunidades sejam maiores para o povo timorense”.

“Estou confiante que se eles continuarem no caminho em que estão, eventualmente vai ser um país com imensas oportunidades para a sua juventude, porque é um país novo em termos de população”, disse António Cabral. In “Lux24” – Luxemburgo com “Lusa”

O percurso de António Cabral

Deputado nos EUA há 30 anos, António Cabral ainda conta com apoio dos emigrantes

O deputado açoriano da Câmara dos Representantes de Massachusetts, António Cabral, diz-se “americano em todos os sentidos”, mas com laços “extremamente importantes” à comunidade portuguesa imigrante nos Estados Unidos.

António Cabral nasceu nos Açores e mudou-se com a família para os Estados Unidos nos tempos da adolescência, há 50 anos. Em 1990 foi eleito pela primeira vez como representante da cidade de New Bedford na Assembleia Legislativa de Massachusetts em Boston e cumpre agora o 10.º mandato como deputado.

Para o deputado de Massachusetts, a comunidade portuguesa e de lusodescendentes na América “é extremamente importante”, porque, além de ser da mesma origem, constitui um “bloco de apoio” para as eleições.

António Cabral era ativo na comunidade e na política desde os tempos de estudante na Universidade de Massachusetts-Dartmouth.

Depois de começar a carreira de professor de língua portuguesa, espanhola e inglesa, concorreu em 1990 para ser representante de New Bedford na Câmara dos Representantes do estado de Massachusetts porque queria ter um impacto maior na comunidade.

Deputado há quase 30 anos, António Cabral reflete que teve oportunidade de ter um impacto “geral, mais global e universal” em termos de ensino ou educação, “uma das paixões” do político.

No ano 2011, concorreu para ser ‘mayor’ de New Bedford e ganhou nas eleições primárias, em que os partidos elegem os seus candidatos. Cabral, do partido democrata, perdeu contra o candidato republicano Jonathan Mitchell, que ainda se mantém no cargo.

Na corrida eleitoral para ‘mayor’ ficou como uma “boa experiência”, que lhe valeu “imenso apoio da comunidade em geral”.

Ao longo das décadas, debruçou-se sobre vários temas importantes da sociedade, desde a saúde, educação ou desenvolvimento económico.

Entre os trabalhos que destaca e dos que mais se orgulha é uma lei de 2002 que passou a obrigar os membros do clero do estado de Massachusetts a denunciar abusos sexuais de menores.

A lei foi aprovada pela assembleia legislativa de Boston pouco depois do início das grandes reportagens do jornal The Boston Globe sobre o escândalo dos abusos sexuais de crianças por padres católicos, investigação que foi retratada no filme “Spotlight” de 2015, vencedor de dois Óscares.

“Hoje, no estado de Massachusetts já é lei há muitos anos e fui eu que iniciei essa proposta”, disse Cabral.

O deputado conta que foi convidado a presidir a sessão de plenário para aprovação da lei na Câmara dos Representantes, no dia 25 de abril de 2002 e como tal, tem a sua assinatura nessa lei.

“Como tinha sido uma iniciativa minha, na altura o ‘speaker’ (presidente da Casa dos Representantes) deu-me oportunidade no final do debate para que eu pudesse assinar essa proposta de lei”, recorda o político.

No passado, Cabral também defendeu os direitos dos imigrantes quando as políticas nos EUA estavam tensas, garantindo igualdade e condições de vida, não só para os portugueses como para todos os imigrantes legais.

Outra das leis “mais marcantes” que apresentou foi em defesa de Timor-Leste durante a ocupação indonésia, para dificultar o investimento em negócios ligados à Indonésia, que serviu para criar pressão na política norte-americana e na administração de Bill Clinton.

“Americano em todos os sentidos”, mas com grandes ligações à origem portuguesa, António Cabral está no gabinete 466 da Massachusetts State House, com funcionários de diversas origens, incluindo falantes de português. In “Lux24” - Luxemburgo

Sem comentários:

Enviar um comentário