António Cabral, deputado na Câmara dos Representantes de Massachusetts, recorda como esteve no centro do movimento político norte-americano pela independência de Timor-Leste, há 20 anos, com uma proposta de lei e convites a Ramos-Horta para discursar em Boston.
O
político, nascido nos Açores e imigrado nos EUA com a família há 50 anos, foi
distinguido em 2017 com a Medalha da Ordem de Timor-Leste e revelou ter sido
convidado recentemente por Xanana Gusmão para estar presente nas celebrações
dos 20 anos do Referendo em Timor-Leste, em 30 de agosto.
Representante
da cidade de New Bedford na Massachusetts State House há quase 30 anos, António
Cabral descreveu à agência Lusa que foi uma proposta de lei contra empresas
indonésias, apresentada por Cabral, que chamou a atenção para o problema
timorense nos Estados Unidos.
“Conseguimos
pôr pressão na administração de Bill Clinton para se envolver e intervir com a
Indonésia para que houvesse uma oportunidade para o povo timorense fazer uma
decisão para si, que veio a acontecer com o referendo”, disse António Cabral,
em entrevista à Lusa.
Depois
de ter apresentado uma proposta de lei contra investimento americano em
negócios ligados à Indonésia, António Cabral convidou várias personalidades de
Timor-Leste a discursar na Assembleia de Massachusetts.
O
português intermediou as visitas de José Ramos-Horta à assembleia legislativa
de Boston depois de este ter sido distinguido com o Nobel da Paz e, depois da
independência, também recebeu o primeiro embaixador de Timor-Leste para os EUA,
Constâncio Pinto.
A
proposta de lei apresentada por António Cabral nos finais dos anos 1990
defendia sanções a entidades que investissem em negócios relacionados com a
Indonésia, no final do período conhecido como Ocupação Indonésia em
Timor-Leste.
“Apresentei
uma proposta de lei aqui em Massachusetts para que companhias e o próprio
sistema de reformas do Estado não investissem em companhias que estivessem a
lidar com a Indonésia”, recordou o deputado.
“Essa
proposta criou imensa controvérsia em certos setores económicos”, continuou
António Cabral, dizendo que os efeitos podiam sentir-se na Indonésia e outros
países com interesses económicos na ilha asiática, através das grandes companhias
americanas.
O
político recordou que a medida começou por criar pressão a nível dos
congressistas que representavam Massachusetts no Senado norte-americano em
Washington, difundiu-se por senadores de vários Estados e chegou à Casa Branca,
na administração de Bill Clinton.
“Nós
criámos esse movimento, foi devido a essa proposta que apresentámos aqui em
Massachusetts que eventualmente se começou a criar um movimento nacional nos
Estados Unidos, por outros estados”, contou António Cabral à Lusa.
“Os
nossos representantes no Congresso em Washington e a Casa Branca sentiram a
pressão da opinião publica que criámos aqui e intervieram”, resumiu.
José
Ramos-Horta recebeu o Prémio Nobel da Paz em dezembro de 1996, juntamente com o
bispo Carlos Filipe Ximenes Belo e, convidado pelo deputado António Cabral,
“veio testemunhar perante a Assembleia em Massachusetts a importância dessa
proposta-lei” para Timor-Leste.
“O
Dr. Ramos-Horta esteve cá várias vezes nesse sentido, a trabalhar para que
houvesse apoio”, recordou António Cabral, mostrando uma fotografia emoldurada,
em que está numa mesa de trabalho ao lado do ativista e político timorense.
António
Cabral visitou o “novo país” em 2004 e 2017, no 15.º aniversário da
independência, quando também recebeu a Medalha da Ordem de Timor-Leste pelas
mãos do antigo primeiro-ministro Rui Maria de Araújo.
“Ainda
há muito por fazer, mas comparado com a primeira vez que estive lá, o progresso
é palpável, pode-se ver e pode-se sentir”, contou Cabral.
O
açoriano considera que o país asiático deve continuar no caminho do progresso e
apostar em criar oportunidades para os jovens, que constituem grande parte da
população.
O
deputado de Massachusetts acredita que “a liderança do país, as várias
autoridades e individualidades estão a trabalhar de uma maneira importante para
fazer com que as oportunidades sejam maiores para o povo timorense”.
“Estou
confiante que se eles continuarem no caminho em que estão, eventualmente vai
ser um país com imensas oportunidades para a sua juventude, porque é um país
novo em termos de população”, disse António Cabral. In “Lux24” – Luxemburgo com “Lusa”
O percurso de António Cabral
Deputado
nos EUA há 30 anos, António Cabral ainda conta com apoio dos emigrantes
O
deputado açoriano da Câmara dos Representantes de Massachusetts, António
Cabral, diz-se “americano em todos os sentidos”, mas com laços “extremamente
importantes” à comunidade portuguesa imigrante nos Estados Unidos.
António
Cabral nasceu nos Açores e mudou-se com a família para os Estados Unidos nos
tempos da adolescência, há 50 anos. Em 1990 foi eleito pela primeira vez como
representante da cidade de New Bedford na Assembleia Legislativa de
Massachusetts em Boston e cumpre agora o 10.º mandato como deputado.
Para
o deputado de Massachusetts, a comunidade portuguesa e de lusodescendentes na
América “é extremamente importante”, porque, além de ser da mesma origem,
constitui um “bloco de apoio” para as eleições.
António
Cabral era ativo na comunidade e na política desde os tempos de estudante na
Universidade de Massachusetts-Dartmouth.
Depois
de começar a carreira de professor de língua portuguesa, espanhola e inglesa,
concorreu em 1990 para ser representante de New Bedford na Câmara dos
Representantes do estado de Massachusetts porque queria ter um impacto maior na
comunidade.
Deputado
há quase 30 anos, António Cabral reflete que teve oportunidade de ter um
impacto “geral, mais global e universal” em termos de ensino ou educação, “uma
das paixões” do político.
No
ano 2011, concorreu para ser ‘mayor’ de New Bedford e ganhou nas eleições
primárias, em que os partidos elegem os seus candidatos. Cabral, do partido
democrata, perdeu contra o candidato republicano Jonathan Mitchell, que ainda
se mantém no cargo.
Na
corrida eleitoral para ‘mayor’ ficou como uma “boa experiência”, que lhe valeu
“imenso apoio da comunidade em geral”.
Ao
longo das décadas, debruçou-se sobre vários temas importantes da sociedade,
desde a saúde, educação ou desenvolvimento económico.
Entre
os trabalhos que destaca e dos que mais se orgulha é uma lei de 2002 que passou
a obrigar os membros do clero do estado de Massachusetts a denunciar abusos
sexuais de menores.
A
lei foi aprovada pela assembleia legislativa de Boston pouco depois do início
das grandes reportagens do jornal The Boston Globe sobre o escândalo dos abusos
sexuais de crianças por padres católicos, investigação que foi retratada no
filme “Spotlight” de 2015, vencedor de dois Óscares.
“Hoje,
no estado de Massachusetts já é lei há muitos anos e fui eu que iniciei essa
proposta”, disse Cabral.
O
deputado conta que foi convidado a presidir a sessão de plenário para aprovação
da lei na Câmara dos Representantes, no dia 25 de abril de 2002 e como tal, tem
a sua assinatura nessa lei.
“Como
tinha sido uma iniciativa minha, na altura o ‘speaker’ (presidente da Casa dos Representantes) deu-me
oportunidade no final do debate para que eu pudesse assinar essa proposta de
lei”, recorda o político.
No
passado, Cabral também defendeu os direitos dos imigrantes quando as políticas
nos EUA estavam tensas, garantindo igualdade e condições de vida, não só para
os portugueses como para todos os imigrantes legais.
Outra
das leis “mais marcantes” que apresentou foi em defesa de Timor-Leste durante a
ocupação indonésia, para dificultar o investimento em negócios ligados à
Indonésia, que serviu para criar pressão na política norte-americana e na
administração de Bill Clinton.
“Americano
em todos os sentidos”, mas com grandes ligações à origem portuguesa, António
Cabral está no gabinete 466 da Massachusetts State House, com funcionários de
diversas origens, incluindo falantes de português. In “Lux24” - Luxemburgo
Sem comentários:
Enviar um comentário