Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Macau - A pintura abstracta de Sara Franco como expressão da “ansiedade febril” da sociedade

As telas da artista portuguesa Sara Franco vão estar de 15 a 22 de Fevereiro na galeria da Livraria Portuguesa. “Febre Cão” é o título dado a este conjunto de telas de pintura abstracta plenas de dramatismo que, segundo a criativa, são reflexo dos “tempos de urgência e ansiedade febril” que vivemos

As criações em técnica mista de Sara Franco enchem-nos os olhos com os seus tons monocromáticos fortes, recortes e manchas de cor dramáticas, que são como que atiradas para as telas. Estas podem entre os dias 15 e 22 de Fevereiro ser visionadas na galeria do piso inferior da Livraria Portuguesa. A pintora portuguesa falou com o Ponto Final sobre o processo criativo que levou à exposição “Febre Cão”.

Nesta estreia da artista em Macau vão ser apresentados dez trabalhos em técnica mista sobre papel manufacturado que envolve “grafite, acrílicos, colagem e materiais diversos por vezes utilizados em gravura e em fotografia”, revelou. Estas ferramentas, esclarece, são utilizadas pela própria de forma “totalmente experimental”, já que o seu processo criativo é “bastante irregular e caótico”, confessou. “De há algum tempo para cá incompatibilizei-me com a tela e com a sensação de responsabilidade, ou pressão, perante o resultado final que esta transmite”. Isto levou a que houvesse espaço para “dar uma reviravolta” a nível técnico, mas também de exploração de outras linguagens expressivas. “No fundo, as duas coisas acabam por se reflectir uma na outra e o resultado é o que está à vista”, comentou.

Quanto ao título da exposição – “Febre Cão” – Sara Franco diz que a ideia surgiu como forma de criar uma linha condutora entre as obras, “pois é um sentimento que está, de certa maneira, patente em todas elas”: um imediatismo e energia agitada, como a de um cão febril. Este conceito surge como reflexo dos “tempos de urgência e ansiedade febril que vive a nossa sociedade actual”, explicou. De resto, Sara Franco considera que todas as suas criações contêm uma certa “visão poética e cáustica da vida”.

Sobre a vinda a Macau, diz-se bastante entusiasmada e com “expectativas enormes”. A ideia de vir ao território já tinha surgido a convite de uma amiga durante a epidemia, mas foi sendo adiada até surgir a oportunidade de colaborar com a Livraria Portuguesa. Agora, fica a vontade de ver os seus trabalhos expostos na galeria e de “ver o resultado e a reacção” ao seu trabalho.

Sara Franco nasceu em 1971 em Leiria. Formada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, a artista plástica trabalha e reside na capital portuguesa. Enquanto artista plástica expõe individual e colectivamente, a nível nacional e internacional, desde 2000. Nos últimos anos viu o seu trabalho exposto e divulgado em Londres, Zurique, Berlim, Atenas, Lisboa, Porto, Leiria, Caldas da Rainha, Viseu, Setúbal, Lousã, Lagos, entre outras cidades. Foi responsável pela criação e dinamização do espaço cultural A Válvula, com exposições, concertos e ateliers entre 2017 e 2018. Em 2019 editou “Sexo, Filosofia e Fita-Cola Castanha” e em 2022 a “BALA”. Em 2024, lançou “Amor Kebab ou o infame poema-canhão”, livro onde integra os novos textos na pintura expressiva e gestualista que tem desenvolvido.

Na sua biografia pode-se ler que a pintura de Sara Franco compõe-se de muitas estratificações diferentes, seja a nível material ou conceptual. Tematicamente, o universo gráfico apela para a experiência anterior de cada espectador que tenha tido uma relação directa ou indirecta com a ideia de massificação suburbana e de impotente marginalidade perante a sociedade contemporânea. A artista explora este cenário como catapulta para as questões existenciais ou filosóficas que acompanham desde sempre o seu trabalho que não deixa de ser, por um lado, uma introspecção, e por outro, uma explosão emotiva. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto Final”


Sem comentários:

Enviar um comentário