As telas da artista portuguesa Sara Franco vão estar de 15 a 22 de Fevereiro na galeria da Livraria Portuguesa. “Febre Cão” é o título dado a este conjunto de telas de pintura abstracta plenas de dramatismo que, segundo a criativa, são reflexo dos “tempos de urgência e ansiedade febril” que vivemos
As criações em técnica mista de Sara
Franco enchem-nos os olhos com os seus tons monocromáticos fortes, recortes e
manchas de cor dramáticas, que são como que atiradas para as telas. Estas podem
entre os dias 15 e 22 de Fevereiro ser visionadas na galeria do piso inferior
da Livraria Portuguesa. A pintora portuguesa falou com o Ponto Final sobre o
processo criativo que levou à exposição “Febre Cão”.
Nesta estreia da artista em Macau vão
ser apresentados dez trabalhos em técnica mista sobre papel manufacturado que
envolve “grafite, acrílicos, colagem e materiais diversos por vezes utilizados
em gravura e em fotografia”, revelou. Estas ferramentas, esclarece, são
utilizadas pela própria de forma “totalmente experimental”, já que o seu
processo criativo é “bastante irregular e caótico”, confessou. “De há algum
tempo para cá incompatibilizei-me com a tela e com a sensação de
responsabilidade, ou pressão, perante o resultado final que esta transmite”.
Isto levou a que houvesse espaço para “dar uma reviravolta” a nível técnico,
mas também de exploração de outras linguagens expressivas. “No fundo, as duas
coisas acabam por se reflectir uma na outra e o resultado é o que está à
vista”, comentou.
Quanto ao título da exposição – “Febre
Cão” – Sara Franco diz que a ideia surgiu como forma de criar uma linha
condutora entre as obras, “pois é um sentimento que está, de certa maneira,
patente em todas elas”: um imediatismo e energia agitada, como a de um cão
febril. Este conceito surge como reflexo dos “tempos de urgência e ansiedade
febril que vive a nossa sociedade actual”, explicou. De resto, Sara Franco
considera que todas as suas criações contêm uma certa “visão poética e cáustica
da vida”.
Sobre a vinda a Macau, diz-se bastante
entusiasmada e com “expectativas enormes”. A ideia de vir ao território já
tinha surgido a convite de uma amiga durante a epidemia, mas foi sendo adiada
até surgir a oportunidade de colaborar com a Livraria Portuguesa. Agora, fica a
vontade de ver os seus trabalhos expostos na galeria e de “ver o resultado e a
reacção” ao seu trabalho.
Sara Franco nasceu em 1971 em Leiria.
Formada em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, a
artista plástica trabalha e reside na capital portuguesa. Enquanto artista
plástica expõe individual e colectivamente, a nível nacional e internacional,
desde 2000. Nos últimos anos viu o seu trabalho exposto e divulgado em Londres,
Zurique, Berlim, Atenas, Lisboa, Porto, Leiria, Caldas da Rainha, Viseu,
Setúbal, Lousã, Lagos, entre outras cidades. Foi responsável pela criação e
dinamização do espaço cultural A Válvula, com exposições, concertos e ateliers
entre 2017 e 2018. Em 2019 editou “Sexo, Filosofia e Fita-Cola Castanha” e em
2022 a “BALA”. Em 2024, lançou “Amor Kebab ou o infame poema-canhão”, livro
onde integra os novos textos na pintura expressiva e gestualista que tem
desenvolvido.
Na sua biografia pode-se ler que a
pintura de Sara Franco compõe-se de muitas estratificações diferentes, seja a
nível material ou conceptual. Tematicamente, o universo gráfico apela para a
experiência anterior de cada espectador que tenha tido uma relação directa ou
indirecta com a ideia de massificação suburbana e de impotente marginalidade
perante a sociedade contemporânea. A artista explora este cenário como
catapulta para as questões existenciais ou filosóficas que acompanham desde
sempre o seu trabalho que não deixa de ser, por um lado, uma introspecção, e
por outro, uma explosão emotiva. Rita Gonçalves – Macau in “Ponto
Final”
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