A organização sub-regional da África Ocidental, a CEDEAO; está a derrubar as sanções e castigos que aplicou a quatro países, um por um, depois de neles terem ocorrido golpes militares, entre 2020 e 2023, mas há um que não está na lista por pressão da França
O
Mali, o Níger e a Guiné-Conacri começam a ver aliviadas as sanções e punições
aplicadas pela Comunidade Económica de Estados da África Ocidental, depois de
os novos regimes que governam estes países terem consolidado as bases do seu
poder.
Mas
o mesmo não está a suceder ao Burquina Faso, apesar de em nada se distinguir
dos outros, mantendo mesmo uma aliança ad hoc de defesa comum com o Níger e o
Mali, no que diz respeito ao respeito pela democracia e o Estado de Direito,
muito duvidosos em todos eles, mas com um pormenor que sobressai em relação aos
demais.
Em
Ouagadougou, a junta militar que assumiu o poder em Setembro de 2022, afastando
o Presidente Paul-Henri Damiba, um aliado muito próximo de Paris, sob liderança
do capitão Ibrahim Traoré, iniciou um agressivo processo de afastamento
diplomático da França, a antiga potência colonial.
Depois
de o Governo francês recusar as ordens de Ouagadougou de retirar as suas tropas
estacionadas no país há décadas, foi dada ordem de expulsão ao embaixador e
cortadas as relações com Paris.
Com
uma forte pressão da França sobre a CEDEAO, esta organização sub-regional
ameaçou mesmo com uma intervenção militar, tal como o fez com o Níger, o que
levou o chefe da junta militar e Presidente interino, Ibrahim Traoré, a
desafiar tanto Paris como a comunidade regional.
Este
levantamento de sanções que exclui o Burquina Faso, como expõem alguns
analistas africanos, é resultado da estratégia francesa de pressão sobre a sua
antiga colónia, uma das mais relevantes estrategicamente no seio da
"FranceAfrique", uma entidade mais mental que prática no Sahel e
que
está em desmoronamento, como está a influência de Paris nesta vasta geografia
assolada por problemas sérios, como é o caso do mais recente, no Senegal.
Os
mesmos analistas enquadram ainda estas decisões no confronto da CEDEAO com a
possibilidade dos três países do Sahel, Burquina, Mali e Níger, como anunciaram
que vão fazer, abandonarem a organização no contexto da sua clara aproximação à
esfera de influência da Rússia.
Em
comunicado, a CEDEAO anunciou que iria "levantar as sanções financeiras e
económicas direccionadas à República da Guiné" e "levantar as restrições
ao recrutamento de cidadãos à República do Mali para postos no seio das
instituições da CEDEAO".
A CEDEAO,
como lembra a Lusa, tinha convocado, no sábado, uma cimeira extraordinária para
discutir "a política, a paz e a segurança na República do Níger", bem
como "os recentes desenvolvimentos na região".
O
levantamento de sanções contra a Guiné-Conacri e o Mali não tinha sido
precisado na alocução final do presidente da Comissão da CEDEAO, Omar Alieu
Touray, no final de sábado.
Na
Guiné-Conacri, o bloco de países da África Ocidental tinha interditado as
transacções financeiras com as suas instituições, um ano após a chegada ao
poder do coronel Mamadi Doumbouya, que retirou da governação o Presidente Alpha
Conde, em setembro de 2021.
Na
segunda-feira, recorda ainda a Lusa, o chefe da junta militar anunciou por
decreto a dissolução do Governo em funções desde julho de 2022.
No
Mali, que conheceu dois golpes de Estado em 2020 e 2021, o bloco regional tinha
imposto sanções económicas e financeiras que levantou em julho de 2022, quando
a junta no poder anunciou um calendário de transição.
A CEDEAO
"decidiu levantar com efeito imediato" as sanções mais pesadas
impostas ao Níger desde a tomada do poder, em Niamey, de um regime militar que
destituiu o Presidente eleito Mohamed Bazoum em julho, tinha anunciado Omar
Alieu Touray no sábado.
As
fronteiras e o espaço aéreo nigerino serão reabertos, as transacções
financeiras entre os países da CEDEAO e o Níger novamente autorizadas, e os bens
do Estado nigerino descongelados "por razões humanitárias", declarou
o representante.
Os
dirigentes militares de Niamey estão também novamente autorizados a viajar, mas
mantêm-se "as sanções individuais e políticas", segundo Omar Alieu
Touray.
Estas
decisões marcam um passo da CEDEAO em direção à retoma do diálogo com os três
regimes militares, enquanto o Níger, o Mali e o Burkina Faso - que se
distanciaram de França e se aproximaram da Rússia - anunciaram em janeiro a sua
intenção de abandonar a CEDEAO.
Os
três países formaram uma Aliança de Estados do Sahel (AES), criada em setembro
de 2023. In “Novo Jornal” – Angola com “Lusa”
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