Díli – O Dia Internacional da Língua Materna é celebrado anualmente a 21 de fevereiro, este ano sob o tema Educação multilingue como pilar da aprendizagem intergeracional. A efeméride visa chamar a atenção para a necessidade de se traçarem políticas de educação multilingue e inclusiva, por forma a garantir a preservação das línguas maternas.
Estima-se
que existam mais de 30 idiomas em Timor-Leste, sendo que metade destes corre o
risco de desaparecer. Segundo os Censos da População de 2010, há várias línguas
em risco de extinção, como, por exemplo, o Makua, que conta apenas com 56
falantes, o Atauran, com 147 falantes, o Adabe, com 181 falantes, o Nanaek, com
297 falantes e o Isni, com 703 falantes.
Para
o Coordenador da Divisão da Cultura da Comissão Nacional para a UNESCO de Timor-Leste
(CNTLU), Augusto Salsinha, as línguas maternas fazem parte da identidade de um
país, por isso, devem ser preservadas.
“A
maioria dos jovens do suco de Ulmera, em Liquiçá, fala tokodede, mambas e
tétum. Apenas oito famílias, cujos membros têm mais de 50 anos, falam manetlan,
isto faz com que esta língua se vá extinguir a curto prazo”, informou o
dirigente à Tatoli, no Bairro Pité, em Díli.
Augusto
Salsinha referiu que, numa tentativa de se preservar as línguas maternas, desde
2020, a CNTLU produziu livros bilingues, em tétum e nas línguas mambae,
bunaq, bekais, makalero, naweti, dadua e manetlan, acrescentando que ainda,
este ano, a comissão lançará livros escritos em Lolein, Lacalei e Isni.
O
responsável explicou ainda que para a elaboração de livros nas mais variadas
línguas, a equipa da CNTLU recolhe informação através de entrevistascom os
chamados lian nain (donos da palavra), nas quais são contadas lendas,
orações e costumes tradicionais. Após isso, a informação recolhida é compilada
e, grande parte dela, é traduzida para tétum.
“Não
podemos traduzir tudo para tétum, porque há frases muito específicas, como
orações em receções e eventos culturais, que não podem ser traduzidas para que
não percam a força espiritual de acordo com as crenças locais”, explicou
Augusto Salsinha.
Segundo
o dirigente, a comissão recebe anualmente cerca de 25 mil dólares americanos da
UNESCO e 10 mil da Secretaria de Estado da Arte e Cultura (SEAC).
Para
a Diretora do Instituto Nacional de Linguística, Rosa Tilman, a efeméride
permite que as comunidades poliglotas reflitam sobre a preservação das suas
línguas maternas. Na opinião da dirigente o lançamento de livros naquelas
línguas assume especial importância, uma vez que estes “são uma herança para as
futuras gerações e uma referência para aqueles que queiram aprender as línguas”.
Questionada
sobre o desenvolvimento e a preservação das línguas maternas em Timor-Leste,
Rosa Tilman disse que, relativamente ao tétum, esta se está a desenvolver
bastante nas zonas rurais, pois as comunidades mantêm tradições orais na vida
quotidiana.
Já
o Diretor Interino da Direção Nacional do Património Cultural da SEAC, Claudino
Cabral, referiu que “na base das várias línguas maternas no país esteve a
influência de falantes da melanésia e da austronésia.
Claudino
Cabral referiu que, este ano, a SEAC disponibilizou cerca de 29 mil dólares
americanos para atividades de preservação do património cultural na língua Fatuluku
no município de Lautém. Afonso do Rosário – Timor-Leste in “Tatoli”
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