Foram apresentadas as conclusões das investigações arqueológicas ao Pátio do Amparo, local onde se supõe ter existido a Alfândega Imperial chinesa da dinastia Qing. Os vestígios encontrados, revelou o IC, eram apenas anexos, e não fazem parte do complexo central, e como tal, não vão ser preservados pelo Governo. A gestão do terreno volta agora para as mãos do proprietário
Desde
Abril de 2021 que o Instituto Cultural (IC) suspendeu a emissão da planta de
condições urbanísticas de um terreno no Pátio do Amparo, revertendo a decisão
de aprovação de um projecto de construção pelo Conselho do Planeamento
Urbanístico. Na altura, um mapa de 1838 apresentado pelo arquitecto André Lui
apontava para a existência no mesmo local de vestígios da Alfândega Imperial
chinesa, da dinastia Qing.
A
alfândega, recorde-se, foi destruída pelo Governador Ferreira do Amaral por
volta de 1844 e funcionava como uma instalação governamental do poder do
imperador da China em Macau. De resto, já desde 2011 que se têm vindo a fazer
várias investigações no local, descobrindo-se vestígios no subsolo.
Há
cerca de três anos, no começo das últimas investigações, Leong Wai Man, então
vice-presidente do IC, disse que no local apenas se tinham encontrado
porcelanas e outros objectos sem grande valor, não se opondo à construção de um
novo edifício no local. Agora, depois das investigações concluídas, o parecer é
o mesmo. Ontem, na reunião plenária ordinária do Conselho do Património
Cultural, foi divulgado junto dos meios de comunicação social que os vestígios
encontrados provam que a Alfândega não era neste local exacto. “Descobriu-se
durantes as três fases de escavações algumas relíquias de uso diário, de
diferentes épocas”, partilhou Leong Wai Man, objectos esses que agora seguem
para museus para serem exibidos no futuro, adiantou. Questionada sobre a localização
exacta da Alfândega, apenas pôde esclarecer que “só se sabe que ela não é neste
lote. Verificou-se que este lote era apenas um anexo, para vida quotidiana”,
disse. “Depois do encerramento desta alfândega, em 1849, o fim do uso do lote
também foi alterado”, acrescentou.
Desde
2011 que o IC e a Academia Chinesa de Ciências Sociais estão a colaborar nas
escavações arqueológicas do Pátio do Amparo. Em 2023, o IC também realizou um
estudo aprofundado, analisando-se os edifícios e os subsolos e ruínas do local.
“Na verdade, verificámos que as ruínas que descobrimos neste local são
diferentes das do escritório governamental da dinastia Qing. Por isso, não se
trata de um edifício central. Uma vez que a administração da alfândega tem uma
história muito longa, com mais de 101 anos, podemos deduzir que esses edifícios
intermédios se calhar eram espaços de vida quotidiana”, esclareceu um dos
membros do Conselho do Património Cultural, adiantando que a equipa de
investigadores avançou ainda com a possibilidade de, após o encerramento do
escritório governamental, as pessoas terem aproveitado o edifício, passando a
habitar no local. Mas provas concretas da existência da Alfândega não foram
encontradas. Nas últimas reuniões já se tinham levantado dúvidas sobre se os
vestígios seriam, de facto, da administração alfandegária. “Após o estudo do
Instituto, podemos dizer que este local não era a antiga administração
alfandegária”, voltou a frisar a presidente do IC.
Quanto
ao uso futuro do terreno, que alguns membros do CPU tinham defendido dever ser
preservado para ali se criar algum museu ou centro arqueológico, ficou decidido
não se avançar com essa hipótese, deixando-se o futuro do terreno ao critério
do proprietário. De acordo com o parecer do IC, o proprietário será quem irá
decidir o desenvolvimento futuro do lote. “O proprietário, muito amigável, quer
que, no futuro, se divulguem estes dados históricos”, acrescentou Leong Wai
Man. “O Governo irá respeitar o desenvolvimento do proprietário”.
Apoio para proprietários de edifícios históricos
A
sessão, que decorreu no Centro Cultural de Macau (CCM), e que foi presidida
pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, teve ainda como foco o
plano de apoio financeiro para manutenção de edifícios históricos. Na reunião,
abordou-se os resultados deste plano que entre 2023 e 12 de Janeiro de 2024 tem
apoiado proprietários a proceder a trabalhos de inspecção, com testes de
estrutura aos edifícios de proprietários privados. Este plano também inclui
trabalhos de embelezamento e de recuperação do exterior. Durante a reunião, 10
projectos foram apresentados aos membros do Conselho. Num total 12
candidaturas, 10 reuniram condições para serem apreciados.
Revelando
que alguns destes pedidos são de edifícios que estão a ser utilizados, e outros
não, um dos membros do Conselho frisou que este plano pretende encorajar os
proprietários a procederem a trabalhos de recuperação e reparação, para que se
possa revitalizar os respectivos edifícios. O Ponto Final quis saber que outros
planos em concreto estão em vista para se dinamizar estes edifícios, uma vez
efectuadas as obras de manutenção, ao que a presidente do IC retorquiu que a
questão foi abordada na reunião, mas que cada caso tem de ser analisado individualmente.
Para já, o mais importante é assegurar que os edifícios privados se mantêm em
boas condições. “O objectivo é incentivar os proprietários a melhorar as
condições de edifícios, na estrutura, fachada e aspecto exterior.
As
obras de manutenção implicam custos elevados para os proprietários, por isso,
com este plano de apoio financeiro incentivamos os proprietários a manterem os
edifícios em boas condições.”, sublinhou. “Este é um primeiro passo para melhor
podermos desenvolver um projecto futuro para o desenvolvimento destes edifícios
históricos”. Leong Wai Man admitiu que, em concreto, não há nenhuma exigência
quanto à obra, em termos de uso futuro do espaço. “De modo geral isto é um
plano de apoio de manutenção, e não de revitalização”, reiterou. Rita
Gonçalves – Macau in “Ponto Final”
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