O
presidente da Assembleia-Geral da Associação dos Engenheiros de Macau olha com
confiança para o projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Eddie Joe
Wu, que também é deputado nomeado à Assembleia Legislativa, salienta que foi
atribuída a Macau a missão de ter um papel liderante no processo de
desenvolvimento da zona ocidental do Delta do Rio das Pérolas. A ligação com os
países de língua portuguesa é central, afirma, ao mesmo tempo que demonstra
preocupação com a escassez de profissionais qualificados em número suficiente
para o desenvolvimento futuro
- De que forma deve Macau posicionar-se para
tirar proveito do plano de desenvolvimento da Grande Baía?
Eddie Joe Wu - O Plano da
Grande Baía prevê entre as nove cidades de Guangdong e as duas regiões
administrativas especiais, quatro cidades que servirão como âncora para o
desenvolvimento da região. Macau é a única dessas quatro que fica localizada na
zona ocidental do Delta do Rio das Pérolas, sendo a “cabeça do dragão” deste
lado sendo-lhe atribuído um papel especial para fomentar o desenvolvimento de
Jiangmen, Zhaoqing, Zhongshan e Zhuhai.
O desenvolvimento de Macau
reflete também a estratégia indicada pelo Governo Central de ênfase na
plataforma com os países de língua portuguesa e na cidade como centro mundial
de turismo e lazer ao mesmo tempo que funciona como um centro de cultura e
património da China. Macau é um local único onde as culturas oriental e
ocidental se encontram de uma forma que não tem par noutros locais. Sendo
assim, o posicionamento de Macau é bastante claro. Temos agora que encontrar
formas de ligação com o exterior, incluindo a integração da indústria e
tecnologia com outras cidades da zona ocidental da Grande Baía.
-
O que pode ser concretizado nesse campo?
E.J.W. - Esperamos introduzir
tecnologias avançadas nos Países de Língua Portuguesa (PLP). Ao mesmo tempo,
procurar-se-á, atrair fundos, através de Macau, para investimentos nos PLP.
Macau é também uma plataforma
informativa, uma vez que somos uma cidade mais aberta ao exterior que no
passado, funcionando como ponto de contacto entre a China e o Ocidente. Os
nossos media poderão ser usados como veículo de difusão de informação através
de Macau para se chegar a Zhuhai, Zhaoqing ou Zhongshan.
-
Que medidas pode o Governo de Macau tomar para estimular o desenvolvimento do
plano?
E.J.W. - Parece haver uma
certa contradição aqui. Macau tem falta de talentos e ao mesmo tempo necessita
de muita mão de obra qualificada. Por exemplo, diz-se que Macau necessita de
avançar para a diversificação económica e desenvolvimento tecnológico, mas não
temos um número suficiente de gestores e mão-de-obra qualificada. Por outro
lado, espera-se que os nossos jovens possam aproveitar as oportunidades que
advém do desenvolvimento da Grande Baía.
Todavia, na verdade, não há
contradição. Porquê? Porque, por um lado Macau como plataforma pode atrair e
introduzir talentos, a partir das nossas relações, para fazer ligação com
outras cidades da Grande Baía. Além do mais, ao entrar na Grande Baía, uma
empresa pode também atrair talentos para Macau. É por isso que o Governo devia
encorajar mais jovens para utilizarem Macau como plataforma no futuro.
-
Como devem os empresários de Macau encarar este processo para maximizar as suas
oportunidades?
E.J.W. - Há tantas
oportunidades à vista. Como empresários o que podemos fazer? Em primeiro lugar
há a aposta nos talentos, uma vez que temos dificuldades aqui em Macau. Sobretudo,
os estudantes da China continental que se formam nas universidades em Macau não
podem trabalhar em Macau. Podemos ter como referência Hong Kong onde estes
jovens têm um ano para encontrar emprego após terminarem o curso. A verdade é
que ao longo dos últimos 30 a 40 anos, as universidades formaram muitos jovens
que não foram aproveitados pela cidade.
-O
que planeia fazer a Associação dos Engenheiros de Macau para promover o projeto
da Grande Baía?
E.J.W. - O setor da engenharia
em Macau no passado não tinha um papel preponderante. Nos anos mais recentes,
com os projetos de grande escala como o metro ligeiro de superfície, túneis e
aterros tivemos que recorrer ao exterior.
A questão é como devemos tirar
proveito do projeto para localizar know
how e tecnologias em Macau. Ao mesmo tempo, esperamos poder aprender com as
cidades vizinhas através de uma cooperação frutífera com a Grande Baía.
Além disso, ao longo da última
década, Macau tem adquirido experiência ao nível da gestão de infraestruturas.
Isso é visível através do vários casinos e hotéis que surgiram. Os nossos
engenheiros acumularam experiência ao nível de gestão de equipamentos,
infraestruturas, proteção contra incêndios ou sistemas de segurança. Ao
trabalharem na Grande Baía, a experiência dos nossos engenheiros em termos de
gestão de equipamentos constitui uma mais valia.
-
Como estamos ao nível do reconhecimento por parte das entidades da China
continental dos técnicos de engenharia e atividades correlacionas de Macau?
E.J.W. - Cada sector procura
naturalmente proteger-se, mas não podemos ter as portas fechadas. Temos de
comunicar e trabalhar em conjunto. E temos de discutir a questão do
reconhecimento mútuo de qualificações profissionais com Guanhzhou. Hengqin já
reconhece a possibilidade de engenheiros de Macau e Hong Kong poderem
participar em gestão de projetos em Hengqin, mas Macau ainda não o faz
reciprocamente. Espero que no futuro todos os lados possam reconhecer-se
mutuamente. Começamos com a discussão num sentido primeiro, uma vez que os
engenheiros em Macau ainda estão numa fase de crescimento. J. Carlos Matias – Macau in “Plataforma”
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