SÃO PAULO – Não é de hoje que,
no Brasil, o governo, quando precisa superar problemas de caixa, recorre a uma
receita simples: aumenta tributos. Na verdade, essa é uma prática que vem desde
os tempos coloniais: a Coroa, quando via seus cofres vazios, avançava no bolso
da arraia-miúda, enquanto os grossos devedores – termo da época – conseguiam
rolar suas dívidas, sem a presença de soldados à porta.
Aliás, esses grossos devedores
quase sempre eram os arrendatários que faziam as vezes do Estado e arrecadavam
os tributos em seu nome. Frequentemente, repassavam para a Coroa bem menos do
que estava estipulado em contrato e, quando pressionados, acabavam dividindo
com aqueles que tinham a missão de zelar pela Fazenda Real os cabedais que
seriam do Reino, para se usar aqui outra expressão da época. Bem, o atual
governo não foge à regra, quando o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, anuncia
que primeiro vai praticar o ajuste fiscal para depois se dedicar à missão de
avaliar a qualidade dos gastos públicos. Assim, cortam-se subsídios e
financiamentos e aumentam-se impostos e taxas.
Ainda agora a Agência Nacional
de Transportes Aquaviários (Antaq) acaba de anunciar o reajuste das tarifas das
companhias docas. E a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) poderá reajustar
em 31,7% suas tarifas, o quarto maior índice, perdendo só para os portos de
Imbituba-SC (39%), Porto Alegre (33,2%) e Recife (32,9%). A justificativa, no
caso da Codesp, é que as tarifas estavam congeladas há dez anos.
O índice será aplicado em todas
as tarifas cobradas pela Codesp, tanto nas taxas pelo uso do canal do estuário
e dos berços de atracação, e da infraestrutura terrestre, como pelos serviços
que a companhia presta a navios e terminais, isto é, pelo abastecimento de
energia elétrica, o fornecimento de água e tratamento de esgotos.
A Codesp alega que seus
problemas de caixa resultaram de queda em suas receitas a partir de 2014 com a
redução de 2,6% na movimentação do porto. Segundo a empresa, seu lucro caiu
84,78% em 2014, indo de R$ 142 milhões para R$ 21 milhões. E haveria o risco de
entrar no vermelho em 2015. O curioso é que a empresa obteve aquele excepcional
lucro, mesmo com as tarifas desfasadas, digamos, havia nove anos.
Ora, a Codesp é uma empresa
estatal cuja missão deveria ser social. Isso significa que não deveria estar
tão preocupada com o lucro. Aliás, esse foi o pecado capital da Petrobras: seu
caixa robusto foi o que atraiu as aves de rapina que a dilapidaram. Além disso,
de acordo com a Lei dos Portos (nº 12.815/13), a Codesp deixou de ser
autoridade executora para atuar como reguladora e fiscalizadora das atividades
portuárias. Se já não tem tantas obras e serviços a cumprir, é de se supor que
esteja com o quadro funcional superdimensionado e muita gordura para cortar.
No entanto, o governo prefere
primeiro avançar nos caixas dos usuários do Porto que, por sua vez, terão de
repassar esses custos para seus produtos e serviços, contribuindo para agravar
o quadro de estagnação econômica. Melhor teria sido se o governo tivesse
invertido as prioridades, cortando primeiro seus gastos e corrigindo
desperdícios e desvios para só, então, promover o chamado ajuste fiscal. Mas é
claro que isso seria pedir muito... Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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