SÃO PAULO – Alguns sinais
emitidos nos últimos dias de Brasília indicam que o governo não vai continuar a
investir em incentivos ao mercado interno, optando por uma agenda mais voltada
à participação das empresas brasileiras no mercado internacional, além de
estimular as multinacionais a usarem suas bases também como plataformas de
exportação. Ainda bem. Aliás, é o que o último governo deveria ter feito, sem
colocar a perder o mercado interno maior que foi conquistado.
Hoje, o importante é que
haja uma abertura comercial que estimule o País a importar e exportar mais, o
que significa favorecer a modernização do seu parque industrial. Para tanto, é
preciso recuperar o tempo perdido nas duas últimas décadas, quando o Brasil
praticamente não assinou acordos comerciais. É o que se vê hoje nas ações do
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Primeiro,
foi o Memorando Bilateral sobre Facilitação de Comércio assinado em março com
os Estados Unidos que estabelece linhas de ação conjuntas e concretas de
cooperação entre os dois países.
Depois, o bom entendimento
obtido com o México em relação à distribuição de cotas tarifárias de exportação
prevista no Acordo de Complementação Econômica nº 55, que ampara o comércio de
veículos entre os dois países, passando pela assinatura dos Acordos de
Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI) com Moçambique e Angola.
Agora, o que se aguarda é um avanço nas negociações com a União Europeia para a
formalização de um acordo comercial de grande amplitude.
Afinal, depois dos acordos
setoriais assinados entre Argentina e China, parece que o Mercosul deixou de
ser obstáculo para o estabelecimento de tratados bilaterais pelos demais
parceiros. É preciso reconhecer que o bloco sul-americano trouxe uma atividade
de comércio mais ampla e é, portanto, fundamental preservá-lo, mas não à custa
do comprometimento da necessidade de o País evoluir economicamente.
Em outras palavras: o Brasil
deve lutar pela integração com o Mercosul e também com o bloco do Pacífico,
aproveitando-se da competitividade de seus produtos e das facilidades
logísticas, mas não pode ficar limitado ao continente americano. Adotar uma
agenda mais agressiva é uma imposição dos tempos.
Portanto, age bem o novo
governo ao procurar maior integração com Estados Unidos, União Europeia e o
bloco do Pacífico, sem esquecer também de aprofundar as relações comerciais com
a China e outras nações da Ásia. Afinal, se os Estados Unidos conseguirem
chegar a acordos com a União Europeia e o bloco asiático, esses tratados
praticamente irão determinar os padrões do comércio mundial tanto em termos de
regulamentação aduaneira e tarifária quanto em exigências fitossanitárias e
questões ambientais. Ficando de fora dessa integração, o Brasil, com certeza,
será excluído de futuras negociações. E terá de aceitar as regras impostas
pelos outros. Sem espaço para reclamar. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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