Parque
marinho no litoral paulista tem farta vida subaquática; de maio a agosto, as
arraias-manta são as visitantes mais esperadas
No meio do mar tinha uma
pedra, ou melhor, um rochedo. Sobre ele, centenas de ninhos de atobás. Entre os
atobás, o apetite por peixes. Para matar essa fome, fartos cardumes nadando ao
redor. Em volta deles, tartarugas, golfinhos e arraias-manta.
No mesmo quadro, um
naufrágio cênico e grupos de mergulhadores desfrutando dos 5 mil hectares de
área preservada do Parque Estadual Marinho da Laje de Santos, o único do tipo
no Estado de São Paulo.
Diferentemente do que o nome
indica, os pontos de partida para visitar a reserva são marinas de São Vicente,
a 77 quilômetros de São Paulo. Um excelente destino de bate-volta, que abriga a
mais farta vida subaquática do Estado.
Ao longo do ano, todos os fins
de semana e feriados, seis operadoras regulamentadas por órgãos ambientais
organizam saídas em lanchas rápidas, que levam cerca de 1h30 até o parque.
Durante o trajeto, é comum avistar bandos de golfinhos, que não hesitam em
acompanhar o barco. Emocionante.
Mergulhadores certificados
aproveitarão muito mais as belezas submersas desse santuário, a 42 quilômetros
da costa. No entanto, algumas empresas oferecem mergulhos de “batismo” para não
credenciados, acompanhados de um instrutor. Escolas de mergulho podem levar
alunos para o chamado check-out, prova prática antes do diploma, se as
condições do mar permitirem.
No caminho, os imensos
navios cargueiros que aguardam ancorados permissão para adentrar o porto de
Santos vão ficando para trás. A navegação costuma ser suave no verão e no
outono, e a visibilidade pode alcançar 40 metros.
É possível mergulhar o ano
todo, mas de maio a agosto o parque recebe visitantes costumeiras: imensas
arraias-manta, que podem chegar a 4,5 metros de envergadura.
Depois de quase duas horas
de navegação, a chegada ao parque espanta. Em meio ao azul do Atlântico, brota
um imenso rochedo de 550 metros de comprimento, 198 de largura e 33 de altura.
Não há praias ou areia.
A palavra “laje” faz alusão
à formação rochosa marinha que ultrapassa a superfície. Os atobás, às centenas,
nos ninhos e voando à espreita de comida, parecem debochar de quaisquer
explicações.
Cilindros a postos. À medida
que afundamos, o costão fica mais nítido. Cardumes curiosos de sargentos se
aproximam dos seres desengonçados que soltam bolhas estranhas. Budiões verdes e
outros vermelhos e amarelos, jaguariças e peixes-cirurgião azuis se revelam aos
poucos.
Uma tartaruga verde grande
passa ao largo do grupo, e as pintadinhas arraias-chita são figurinhas fáceis.
Confortável, a temperatura da água na média anual fica em torno de 22 graus.
Mais um pouco e alcança-se
uma das paradas obrigatórias. Por entre uma leve nuvem de sedimentos, surge a
proa da traineira Moréia. Com 15 metros de comprimento, o velho barco foi
afundado em 1992 com o propósito de se transformar em um recife artificial.
Sempre em casais, os peixes-frade deram as boas-vindas à portentosa carcaça que
repousa no banco de areia, a 22 metros da superfície.
Já com pouco ar no cilindro,
subimos em direção à lancha para descansar um pouco antes de voltar à água.
Dessa vez, contra a corrente, na direção sul, margeando a pedra principal até o
Parcel das Âncoras, formação rochosa completamente subaquática.
A visibilidade enevoou um
pouco, mas alcançamos os 26 metros. Ali, uma surpresa para coroar o mergulho:
um raríssimo grupo de oito enormes garoupas, uma delas com um metro de
comprimento. Assunto de sobra para a viagem de volta ao continente. Felipe Mortara – Brasil in “Estadão”
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