SÃO PAULO – As conseqüências
de 12 anos de ideologização das relações do Brasil com os Estados Unidos, que
incluem o trabalho de bastidores feito com a Argentina para levar ao fracasso a
criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), estão aí à mostra de
todos: só neste ano de 2015, a balança comercial brasileira já acumulou um
déficit de US$ 5 bilhões. E a situação tende a ficar pior, ainda que o novo
governo Dilma Rousseff tenha mudado drasticamente a filosofia nada pragmática
que pautou o relacionamento com os Estados Unidos até o final do ano.
Com a projetada visita da
presidente a Washington, o que se espera é o fim do distanciamento diplomático
entre os dois países que dificultava o avanço das negociações comerciais, pois
não havia de lado a lado nenhuma boa vontade e tampouco canais para a
facilitação do comércio bilateral. Agora, já se vê uma luz no fim do túnel com
a assinatura do recente acordo de convergência regulatória, que constitui, na
verdade, o primeiro ato concreto dessa reaproximação. O segundo ato bem que
poderia ser a decisão de Washington de rever a exclusão do Brasil do seu
Sistema Geral de Preferências (SGP), direito perdido em julho de 2013.
É claro que entre empresas e
empresários dos dois países nunca houve nenhuma diferença e os negócios
continuaram a ser fechados, ainda que em menor intensidade, exatamente em
função da ausência de incentivos e facilidades. São os números que provam isso:
em 2000, 25% do que o Brasil exportava tinham como destino final o mercado
norte-americano, mas, a partir de 2003, a queda foi paulatina, porém constante,
a ponto de chegar a 12% em 2014.
Obviamente, não basta agora
um aperto de mão presidencial para que tudo volte ao patamar de 2000. A
recuperação do espaço perdido é um trabalho lento e gradual porque os mercados
mudam de uma maneira muito veloz e o produto que deixa de ser comprado é
imediatamente substituído por outro de outro país. Ainda assim, o Brasil tem a
rara oportunidade de voltar a vender em maior quantidade para os Estados Unidos,
aproveitando-se da atual fase de recuperação da economia norte-americana.
Para tanto, o governo
brasileiro tem de fazer a sua parte. E não será, como o faz agora, incluindo o
Programa de Financiamento às Exportações (Proex) na mira do chamado ajuste fiscal,
que irá contribuir. Pelo contrário. Como as cotações das commodities
(metálicas, minerais e agropecuárias) estão em baixa no mercado internacional e
a economia interna já não apresenta o dinamismo de anos anteriores, só resta
uma saída para brecar a queda que se registra na balança comercial: exportar
mais produtos manufaturados e semimanufaturados.
Isso significa que é preciso
que o governo volte a aprovar operações no Proex nos níveis anteriores a 2014,
pois, afinal, se não houver financiamento para os produtos e serviços com
destino ao exterior, a situação pode piorar. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato
dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São
Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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