Acordos
com Angola e Moçambique fortalecem ambiente de negócios
A rede de escolas de idiomas
Fisk e o Grupo Odebrecht atuam em ramos distintos, porém a mesma e extensa
distância que separa os segmentos de negócios das duas companhias dá a dimensão
das oportunidades de investimento em países africanos, como Angola, em que
tanto a Fisk quanto a Odebrechet já ingressaram. O leque de possibilidades está
aberto e é grande, do tamanho da necessidade de expansão das classes médias
daquele continente.
Segundo o coordenador do
Centro Brasileiro de Estudos Africanos da Ufrgs, Paulo Vizentini, dimensiona
que o momento atual para esses dois países é de buscar a expansão. "Uma
coisa que chama atenção em Angola, que inclusive está investindo em novelas
semelhantes às da Globo, embora ainda incipientes, é como a sociedade está
focada na classe média emergente", detalha, acrescentando que, de maneira
geral, a classe média africana está crescendo bastante, assim como a demanda de
consumo.
No final de março e no
início deste mês, dois acordos firmados pelo Brasil, um com Angola e outro com
Moçambique, ampliaram a perspectiva de presença das empresas brasileiras nos
dois países, estabelecendo um ambiente de negócios que deve favorecer o
intercâmbio entre investidores dos dois continentes. Vizentini destaca que a
proximidade linguística com os dois países, que também foram colônias de
Portugal, amplia as oportunidades para os investidores. "Angola e
Moçambique ficaram independentes de Portugal, só que Portugal não tem a mesma
dimensão econômica para concorrer com o Brasil. A importância de ganhar
presença nesses países é que a partir do momento em que se tem um ponto de
apoio isso irradia para a região e possibilita a ampliação a presença em outros
países." O coordenador salienta, ainda, que o Brasil foi o primeiro país a
reconhecer a independência de Angola, em 1975. "Eles são muito gratos ao
País por isso."
Os Acordos de Cooperação e
Facilitação de Investimentos (ACFI) com Angola e Moçambique criam um ambiente
de negócios pautados pelo apoio mútuo entre os países. Atualmente, tanto em
Moçambique quanto em Angola já há a presença de investimentos brasileiros, mas
as perspectivas são de ampliação dos valores. Segundo o Ministério das Relações
Exteriores, os investimentos brasileiros (executados e previstos) em Moçambique
já ultrapassam a marca dos US$ 9,5 bilhões, e devem chegar a US$ 27,9 bilhões
nos próximos anos.
Os principais projetos
brasileiros em Moçambique estão associados às áreas de mineração, energia e
construção civil, com presença principal de empresas como a Vale (maior
investidora brasileira no país africano), Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade
Gutierrez, Fidens, Suzano Papel e Celulose, Eletrobras e Petrobras. Há também a
perspectivas crescentes de investimentos agrícolas. A presença de empresas de
pequeno e médio porte do Brasil é baixa, sendo que uma das razões, segundo o
MRE, é "provavelmente devido à falta de conhecimento sobre oportunidades e
condições locais e à ausência de um acordo para evitar a bitributação entre
Brasil e Moçambique".
Em Angola, os investimentos
também são crescentes. Segundo o secretário de Comércio Exterior do Ministério
do Desenvolvimento (Mdic), Daniel Godinho, há um fluxo de comércio e
investimentos crescente entre os dois países. Em 2014, o fluxo de comércio
exterior entre Brasil e Angola somou um total de US$ 2,37 bilhões, com exportações
de US$ 1,26 bilhão e importação de US$ 1,11 bilhão.
Segundo Vizentini,
recentemente a direção da Anfavea pediu para o governo valorizar as ações no
Mercosul e na África. "O valor do dólar tornou mais competitiva a relação
comercial", avalia. O especialista pontua que a demanda da classe
empresarial pode ter impulsionado a ação de proximidade com os países
africanos. Os acordos firmados com os dois países africanos foram elaborados em
conjunto com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e com o setor privado.
Os acordos firmados com
Angola e Moçambique decorrem de uma série de missões interministeriais para
negociar ACFIs com vários países, entre eles África do Sul, Angola, Argélia, Malawi,
Marrocos, Moçambique, e Tunísia. Segundo o Ministério das Relações Exteriores
(MRE), países sul-americanos também indicaram interesse em iniciar negociações.
Governo
brasileiro adota sistema inédito para investimentos
O modelo do acordo firmado
entre o Brasil e os países africanos é inovador, segundo o embaixador Carlos
Marcio Cozendey, diretor do departamento de Assuntos Financeiros e Serviços do
Ministério das Relações Exteriores. O Brasil estuda a elaboração dos chamados
Acordos de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI) desde o ano
passado. O documento foi desenvolvido pelo Itamaraty, Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior e o Ministério da Fazenda, em
consultas com o setor privado.
"Os acordos têm alguns
dispositivos básicos, de regras que teriam que ser respeitadas, basicamente de
tratamento nacional", detalha Cozendey. Entre os dispositivos básicos, o
embaixador cita, a prerrogativa de não discriminação de investidores em relação
aos investidores locais e não discriminação entre investidores de demais
países, além de garantias básicas como o estabelecimento da necessidade de
indenização em caso de expropriação, o direito de envio de dividendos por parte
das empresas.
Há ainda pontos
diferenciados dos acordos, como a promoção de investimento por meio de um ponto
de contato entre os países que assinaram o documento, uma espécie de ombudsmen,
com o objetivo de facilitar e acelerar o acesso às informações estratégicas
para as empresas, como regulamentos específicos, além de auxílio na resolução
de problemas que forem surgindo. Além dessa instância, os investidores dos dois
países terão também o acesso a uma comissão bilateral para casos que não
consigam ser solucionados pelo ombudsmen.
A advogada Vera Grytz, da TozziniFreire
Advogados, avalia que o modelo é positivo tanto para os investidores quanto
para os países receptores de investimento. "O acordo traz uma garantia
maior de indenização em caso de expropriação e garante que o investimento não
vai ser tratado como menos favorável, são proteções. Já o receptor do
investimento tem garantia de que o investidor vai tomar cuidado com pontos
importantes para o país, contemplando preocupações com questões como
sustentabilidade", diz. A advogada contextualiza que a existência de um
tratado é um fator a mais na decisão de investir ou não. "Não é decisivo,
pois há uma série de outras questões a avaliar para decidir." Marina Schmidt – Brasil in “Jornal
do Comércio”
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