SÃO PAULO – O déficit esperado na
corrente de comércio (importações/exportações) para este ano é resultado direto
do fracasso da política oficial, que se caracterizou não só por imobilismo como
pela defesa do isolacionismo do País no concerto das nações. Isso ficou claro
até na recente campanha eleitoral em que o situacionismo procurou defender como
um legado uma pretensa independência em relação aos Estados Unidos, o maior
mercado do planeta. Se vender ou comprar cada vez mais significa dependência ou
subserviência, a China, que nos últimos tempos caracterizou sua política de
comércio exterior pelo pragmatismo, seria hoje o país mais dependente dos
Estados Unidos. E não o é.
O fracasso da política de comércio
exterior atual também fica claro na falta de capacidade da diplomacia
brasileira de levar o Mercosul a um acordo com a União Europeia, depois de mais
de uma década de negociações infrutíferas. Em nome da preservação do Mercosul,
o Brasil evita fazer um acordo direto com a União Europeia, embora o Tratado de
Assunção, que criou o bloco, não o proíba. No entanto, o Mercosul, que nos seus primeiros
anos de funcionamento, absorvia grande parte dos produtos manufaturados
brasileiros, já se encontra numa fase de esfacelamento.
Por falta de competitividade, os
manufaturados brasileiros vêm sendo substituídos por produtos chineses nas
prateleiras sul-americanas. Para piorar, até mesmo as commodities, que vinham garantindo o superávit na balança
comercial, começam a entrar num ciclo pouco favorável, depois que a China
deixou de crescer nos níveis de anos anteriores, o que provocou queda na
demanda por minério de ferro e soja, especialmente.
O resultado de tanto imobilismo pode
ser constatado nos números: depois de taxas de crescimento muito promissoras
durante a primeira década do século, como 7,5% em 2010, nos últimos anos,
verificou-se uma contração no crescimento da economia brasileira com taxas inferiores
a 2%. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), as previsões do
crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro são pessimistas,
acreditando-se que só em 2015 poderá ocorrer uma paulatina recuperação, para se
atingir uma taxa de 4% ao ano até 2018.
Apesar disso, não se vê o governo que
se encerra anunciar possíveis acordos com outras nações emergentes ou blocos. Nem
mesmo a possível aproximação do Mercosul com a Comunidade de Países de Língua
Portuguesa (CPLP) é citada com ênfase nas declarações dos responsáveis pelo
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Tampouco se
fala em abertura da economia, uma das mais fechadas do planeta, ou em redução
dos fatores que formam o chamado custo Brasil, ou ainda na reforma do Estado e
do seu sistema fiscal. Neste particular, é de lembrar que os impostos representam
mais de 35% do PIB do País, o que impõe elevados custos às empresas,
tirando-lhes a competitividade. Portanto, é preciso sair do imobilismo o mais
rápido possível. Mauro Dias - Brasil
___________________________________________________________________________________
Mauro Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é
vice-presidente da Fiorde Logística Internacional, de São Paulo-SP, e professor
de pós-graduação em Transportes e Logística no Departamento de Engenharia Civil
da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br
Site: www.fiorde.com.br
Sem comentários:
Enviar um comentário