No
Colóquio Internacional “A Língua Portuguesa, o Multilinguismo e as Novas
Tecnologias das Línguas no Século XXI”,nos dias 15 e 16 de outubro do corrente,
no CEFET-MG, em Belo Horizonte, Brasil, o Presidente do Comitê “Informação para
Todos” da UNESCO na Rússia, Evgeny
Kuzmin, vai fazer uma conferência sobre “A Diversidade e as Novas Tecnologias
no Quadro das Grandes Negociações Globais sobre as Línguas”.
Doutor Eugeny Kuzmin,
é a primeira vez no âmbito do Conselho Intergovernamental do Programa
“Informação para Todos” da UNESCO que irá participar de uma conferência desse
tipo no Brasil? Por que o senhor decidiu participar do Colóquio?
Eugeny Kuzmin |
Kuzmin: Esta é uma ótima
oportunidade, única, para conhecer diretamente muitos colegas brasileiros e dos
outros países da CPLP, para permutar ideias e opiniões, conhecer o que eles
estão pensando e fazendo, para identificar objetivos e desenvolver projetos em
comum, ou pelo menos os seus contornos. Também, é muito importante dar
informações de primeira mão sobre o que tem sido feito no Programa “Informação
para Todos” da UNESCO, e o que está sendo feito para manter as línguas na
Rússia, onde existem mais de 100 povos indígenas.
Além disso, é muito agradável ser
convidado para a conferência de um país que considera a Rússia como um
aliado, apesar da oposição geopolítica agravada de hoje. Precisamos aprender
mais um sobre o outro e desenvolver mais trabalhos conjuntos. Assim, vou
para Belo Horizonte com muito alegria e grandes expectativas e estou
muito grato pelo convite.
O senhor foi há
alguns anos o Presidente do Conselho Intergovernamental do Programa “Informação
para Todos” da UNESCO, e agora está chefiando o Comitê “Informação para Todos”
da UNESCO na Rússia. Nesses âmbitos foi iniciador de uma série de atividades
para promover o multilinguismo. Diga, por favor, se acha que houve avanços na
compreensão de que a diversidade linguística é necessária, de que é importante
preservar, manter e desenvolver as línguas. Esta mentalidade estabeleceu-se no
mundo ou ainda não?
Kuzmin: Não há dúvidas de que
o interesse por este tema vem crescendo em todo o mundo. E não apenas porque as
línguas minoritárias estão enfraquecidas e ainda mais marginalizadas, mas
também porque grandes línguas, em que criou uma grande literatura mundial e da
ciência, como o Francês, o Alemão, o Espanhol, o Russo, o Português, estão
sendo marginalizadas, de certa perspectiva. As pessoas não podem deixar de se
preocupar. O Programa “Informação para Todos” da UNESCO, nos últimos anos,
tornou-se quase o principal promotor deste tópico, para o equacionamento deste
problema.
O Comitê “Informação
para Todos” da UNESCO na Rússia já realizou três grandes conferências
internacionais “A Diversidade Linguística e Cultural no Ciberespaço” na Rússia,
em Yakutsk, na Síbéria. Cerca de 50 países participaram da última conferência,
ocorrida em julho deste ano. Os participantes desta terceira conferência
aprovaram o documento final, a “Declaração de Yakutsk sobre a Diversidade
Linguística e Cultural no Ciberespaço”. Neste documento, foi reforçada
novamente a sugestão sobre a necessidade da organização da Cimeira Mundial
sobre o Multilinguismo, no âmbito das Nações Unidas. O senhor acha que
este encontro “A Língua Portuguesa, O Multilinguismo e As Novas Tecnologias das
Línguas no Século XXI”, no Brasil, pode se tornar uma das etapas preparatórias
de uma Cimeira Mundial?
É importante que a ideia de organizar a
Cimeira Mundial da ONU sobre o Multilinguismo não tenha sido esquecida e
continuará a ser discutida em diferentes países, em diferentes fóruns e em
diferentes níveis. Seria ingênuo esperar que, por ser expressa em um ou dois
fóruns, seria imediatamente aceita e apoiada por todos os Estados. Esta ideia
tem seus defensores, mas há adversários poderosos. Para muitas pessoas, o apoio
à diversidade linguística no mundo real e no ciberespaço, é uma ideia correta e
nobre, para outros é utópica, e para um terceiro grupo, é até
prejudicial, porque cria dificuldades na realização dos seus objetivos de
hegemonia. Por isso, é extremamente necessário promover este pensamento
tão amplamente quanto possível, utilizando todas as plataformas
disponíveis.
O Instituto
Internacional da Língua Portuguesa da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa (CPLP) poderia vir a desenvolver o projeto de fazer o Atlas das
Línguas dos Países da CPLP, conforme foi expresso na Carta de Maputo,
desenvolvida no Colóquio Internacional de Maputo sobre a Diversidade
Linguística nos Países da CPLP. Sei que a UNESCO também tem um projeto para
criar o Atlas das Línguas do Mundo. O que o senhor acha, pode haver um ponto de
contato desses dois projetos?
Não só pode, mas deve, devemos tentar
trabalhar juntos. Nesta fase é importante os especialistas brasileiros e
lusófonos em geral tomarem parte ativa na discussão do conceito e dos
parâmetros da modernização do projeto existente na UNESCO e precisam
ficar nos grupos de trabalho relevantes.
A Rússia e o Brasil,
junto com a China, a Índia e a África do Sul, estão incluídas na aliança
chamada BRICS. Quais projetos conjuntos entre a Rússia e o Brasil são
possíveis, na sua opinião, para a promoção do multilinguismo em nossos países,
para a organização das pesquisas amplas e do intercâmbio de dados científicos?
Em primeiro lugar eu diria que é preciso estabelecer a
prática regular de seminários conjuntos para profissionais e políticos e o
início do processo é sempre uma tarefa difícil. É importante chegar a acordos
sobre as formas de promoção das línguas e de modelos de multilinguismo
verdadeiro, e não só das pequenas línguas, mas também das línguas principais,
criando assim uma prática normal nos BRICS. Precisamos chegar ao acordo
de que o Português e o Russo se tornem línguas de trabalho dos órgãos dos
BRICS. Repito que o multilinguismo não é apenas para as línguas pequenas e
indígenas, mas também para as línguas principais. Agora muitas vezes nos
esquecemos disso quando falamos sobre o multilinguismo. É necessário ampliar o
estudo do português na Rússia e do russo no Brasil. Se juntos vamos nos
comunicar apenas em Inglês, os BRICS podem, eventualmente, degenerar na
organização econômica e política de pessoas não só falando mas também pensando
em inglês. Lyubov Kazachenkova - Instituto
Internacional da Língua Portuguesa
Lyubov Kazachenkova - Redatora-chefe da Revista
“Biblioteca Moderna”, Moscovo, Rússia.
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