Ser
património não é pêra doce. Especialistas dizem que Macau tem percurso difícil
pela frente para ver a gastronomia macaense classificada como Património
Cultural Imaterial da China. Mas é possível.
Dois anos após a conquista
do título do Património Imaterial de Macau, a gastronomia macaense vai
oficializar, no próximo mês de Novembro, a sua candidatura a Património
Imaterial da China, avançou ontem o Jornal Tribuna de Macau.
A conquista do primeiro
título deu a Macau o incentivo para obter o título na vizinha China. No
entanto, este não será um percurso fácil segundo especialistas da área – o
título de Património da Humanidade pela UNESCO advinha-se ainda mais longínquo.
“A gastronomia macaense é
muito confusa”, começa por explicar Hugo Bandeira, professor do Instituto de
Formação Turística (IFT) e um dos membros fundadores da Confraria de
Gastronomia Macaense. Facilmente confundida com a culinária portuguesa, diz a
cozinha de Macau tem alguma dificuldade em afirmar-se como um dos elementos
identificadores da cultura da RAEM.
Hugo Bandeira acrescenta que
“Macau é visto apenas pelos casinos” e não pelas pequenas tradições como os
pratos que são exclusivamente confeccionados na região.
A Confraria da Gastronomia
Macaense está a desenvolver um trabalho no território para tentar divulgar os
pratos macaenses ao maior número de pessoas mas sente várias dificuldades,
nomeadamente em arranjar cozinhas disponíveis para realizar workshops.
Apesar de, no passado mês de
Julho, terem sido graduados os primeiros bacharéis do curso de culinária do
Instituto de Formação Turística, a gastronomia macaense não tem grande destaque
no currículo escolar destes formandos que agora integram o mercado de trabalho.
Cozinha
macaense em desuso
Para Imon Sharif,
especialista em programas de gestão do património da UNESCO, a conquista do
título por parte de Macau é possível e “representará, mais uma vez, a riqueza,
a multiculturalidade e a diversidade histórica da região”. Se a candidatura da
confraria for aceite, a gastronomia macaense juntar-se-á ao Centro Histórico de
Macau, já com título atribuído pela UNESCO.
Mas, confirma Sharif, o
processo não vai ser fácil. A falta de força da gastronomia macaense, a dimensão
da RAEM num universo tão grande como a China e o desuso em que algumas receitas
caíram são alguns dos obstáculos que, de acordo com o especialista, Macau tem
pela frente.
Lacassá, bacalhau macaísta
ou bebinca de leite são algumas das iguarias que se podem encontrar em
restaurantes da cidade, apesar de existirem cada vez mais receitas que caem em
desuso.
O aumento dos preços das
rendas tem trazido consequências ao negócio da restauração local por conduzir
ao fecho de muitos restaurantes de comida tradicional.
Apesar destas dificuldades,
a Confraria da Gastronomia Macaense mantém-se positiva em relação à conquista
do título na China e em transformar a culinária macaense em Património
Imaterial da UNESCO. Catarina Mesquita –
Macau in “Ponto Final”
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