SÃO PAULO – Ainda não se pode fazer
uma previsão categórica, mas as perspectivas indicam que haverá déficit na
balança comercial de 2014. É o que mostram os últimos desempenhos mensais e,
especialmente, o de setembro, que apresentou saldo negativo de US$ 939 milhões,
o pior resultado em 16 anos. Até agora, o déficit anual está ao redor de US$
690 milhões, o que faz supor que até o último dia de dezembro chegue a uma marca
em torno de US$ 919 milhões.
É de ressaltar que a última vez em que
o Brasil acumulou déficit no ano foi em 2000, quando o saldo negativo bateu em
US$ 731 milhões. Isso significa que o País nem mesmo como fornecedor de
matérias-primas está se saindo bem em sua política de comércio exterior, o que
exige uma tomada de posição para o próximo exercício pelo novo governo.
O Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior (MDIC), ao justificar o baixo desempenho
comercial do País, tem observado que uma das causas tem sido o aumento das
importações de petróleo e seus derivados, o que não melhora a já desgastada
imagem da Petrobras, afetada por muitas denúncias nos últimos tempos. Ora, se o
País registrou nos nove primeiros meses do ano um aumento de 40% na quantidade
exportada de petróleo em bruto, não se compreende que a empresa estatal não
disponha de tecnologia para não ser obrigada a importar tanto petróleo e seus
derivados. Este é um fenômeno típico de um país subdesenvolvido.
Outra causa que deverá contribuir para
o déficit anual anunciado é a queda das exportações de soja e minério de ferro
para a China. O preço do minério de ferro, por exemplo, caiu 30% no mercado de
setembro de 2013 a
setembro de 2014, conforme dados do MDIC. Houve, porém, uma compensação, já que
foi registrado um aumento no volume exportado neste ano.
Como a China já não vem crescendo nos
níveis de anos anteriores, a perspectiva é que haja uma redução na demanda
externa de commodities. Para piorar a
situação, tem sido registrada uma sensível redução nas vendas para a Argentina,
o grande parceiro do Brasil no Mercosul. Segundo o MDIC, em 2014, as (baixas) vendas
para aquele país têm sido responsáveis por 77% da queda das exportações
brasileiras. Até setembro, as exportações para a Argentina caíram 25,7%. Em
função disso, houve uma queda de 82,6% no superávit do Brasil com a Argentina
entre janeiro e setembro de 2014, conforme dados da Associação Brasileira de
Comércio Exterior (AEB), o que não afasta a possibilidade de que até o final de
dezembro seja registrado também déficit nas contas com o país vizinho.
Em resumo: a retração na exportação de
commodities aliada à perda de
competitividade da indústria exportadora brasileira pode levar o País a uma
crise profunda, que exigirá anos para ser superada. Tudo isso é resultado de
uma política comercial excessivamente cautelosa, adotada pelos últimos
governos, que não estimulou a assinatura de acordos comerciais com outras
nações e blocos, deixando o País fora das grandes cadeias produtivas. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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