Com uma matriz de
transportes totalmente desequilibrada, e ocupando a 65º posição no ranking
mundial de eficiência logística, o Brasil tem no sistema rodoviário federal o
principal e quase único meio de transporte de mercadorias em longos trajetos. E
é evidente em todos os planos e escalas geográficas de meios de transporte que
a preferência ainda é o investimento em rodovias. Mas, para um país com enormes
distâncias, a opção por ferrovias não seria a mais adequada para a integração
econômica e regional?
As deficiências estruturais
e legais encontradas no país são sentidas tanto pelas empresas que atuam no
mercado doméstico, quanto as atuantes no exterior. Com uma pauta exportadora,
quase totalmente formada por grãos, minério de ferro e outros commodities, onde
os preços são flutuantes e dependem de dezenas de fatores externos, as empresas
brasileiras são expostas à própria sorte. O impacto da logística no produto
brasileiro retira das nossas empresas a capacidade de competir globalmente,
cerceia a entrada em novos mercados e enfraquece acordos bilaterais que
poderiam ser desenvolvidos.
O principal argumento dos
defensores do transporte rodoviário é que essa modalidade exige investimentos
iniciais relativamente baixos para a sua implantação. E isso é verdade, ainda
mais porque a malha ferroviária do Brasil tem várias carências, como cobertura
territorial insuficiente e problemas graves de funcionalidade. Mas, embora a
construção de uma ferrovia possa demandar custos maiores em um primeiro
momento, o custo de manutenção é muito inferior ao das estradas de rodagem, já
que a estrada de ferro tem maior durabilidade, tanto do seu leito quanto dos
equipamentos.
Os favoráveis às rodovias
também afirmam que as estradas possibilitam o deslocamento de um número maior
de pessoas, favorecem o uso do automóvel e, no caso de países com dimensões
continentais como as do Brasil, apresentam-se como um dos meios mais flexíveis
e ágeis no acesso às cargas, pois pode chegar até os lugares mais ermos.
Contudo, deixam de dimensionar o desgaste físico e mental dos motoristas, os
graves acidentes envolvendo caminhões de cargas e a falta de segurança nas
estradas, seja pelas péssimas condições das estradas ou pelos altos índices de
roubos de cargas no País.
O impacto ambiental é outro
fator essencial a ser levado em conta, já que o setor de transporte é o maior
responsável pela emissão de CO₂ no
Brasil, e responde por mais de 38% do total das emissões. Através de
investimentos de longo prazo em ferrovias, seria possível reduzir em 30% as
emissões de CO₂ no
país, com impacto direto na preservação ao meio ambiente.
Ainda a favor das ferrovias,
podemos citar a economia em combustível e energia, o seguro de mercadorias
transportadas por esse meio – que são, em média, metade dos valores pagos nos
transportes rodoviários –, além de maior facilidade de transbordo e a
viabilidade de associar o transporte ferroviário a uma série de entrepostos no
sistema portuário nacional. A implementação da malha ferroviária pode
contribuir diretamente com a exequibilidade dos portos secos, uma solução
eficiente para o ineficiente processo logístico atual do setor portuário, em
que as mercadorias se mantêm em filas proibitivas, com tempo de espera que foge
de qualquer padrão mundial.
Por que não estabelecer como
prioridade absoluta os investimentos em ferrovias? Por que deixamos nossas
empresas entregues à própria sorte ou às margens da volatilidade dos preços
globais? Por que, como país, somos incapazes de estabelecer, e cumprir, metas
mínimas de investimento na expansão da malha ferroviária? Por que, através das
PPPs – Parcerias Público Privadas, não atraímos investidores para as ferrovias
no Brasil? Seriam nossos marcos regulatórios, ou a falta deles, um real entrave
aos interessados em expandir a malha ferroviária brasileira?
O investimento em ferrovias
é ponto inquestionável como fomentador da economia do Brasil, e o resultado
refletirá em maior competitividade às nossas empresas e consequente
desenvolvimento econômico do país. Deve ser de prioridade das diversas esferas
de Governo, principalmente do Governo Federal, a responsabilidade em tornar a
ferrovia o principal meio de transporte do país.
Procrastinar tal decisão é
determinar a falta de competitividade das nossas empresas e perpetuar o baixo
crescimento econômico do Brasil. Everaldo
Barros – Brasil in “Portogente”
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