De
novo a maka dos combustíveis
Por norma, a problemática
dos preços dos combustíveis gera comentários de diversos tons.
Nas economias de mercado
mais desenvolvidas, as variações nos preços internos dos combustíveis são
resultantes de oscilações no preço internacional do petróleo, que, por sua vez,
são consequência de contracções na oferta, ou então, de aumentos sensíveis na
procura global. É, pois, o império da lei da oferta e da procura sobre o
mercado.
As contracções na oferta
advêm, quase sempre, de constrangimentos nos países produtores. Umas vezes, são
guerras, outras, são conflitos políticos internos agudos. Os aumentos na
procura global por petróleo têm, geralmente, como principal razão uma expansão
na actividade económica, com centro de gravidade nos países que marcam a agenda
da economia mundial.
São, pois, os grandes
produtores e os grandes consumidores os responsáveis pelas alterações do preço
do petróleo nos mercados internacionais. Os mais pequenos limitam-se a absorver
(a internalizar), à sua maneira, os impactos causados pelos demais.
Estamos hoje a viver uma
acentuada redução na procura internacional de petróleo, pelo facto de a
economia norte-americana se ter tornado praticamente auto-suficiente – não só
em petróleo mas, também, em gás. Mas ainda devido à estagnação das principais
economias europeias. E por a economia chinesa estar em desaceleração. Essas
grandes economias – e outras emergentes – são quem determina o comportamento da
procura.
No lado da oferta há um
conjunto restrito de países a marcarem o compasso do mercado, com destaque para
os países integrantes da OPEP. O leque desses vendedores é incomensuravelmente
mais pequeno que o leque dos compradores. Daí que os compradores se sujeitem
aos interesses dos vendedores, que até fazem coalizões, como é o caso da OPEP.
Mas economias desenvolvidas
os Estados primam pela ausência na tomada de decisão sobre os preços dos
combustíveis a praticar internamente. Como há concorrência, só episodicamente
se vêem diferenças de preço – mínimas – entre os vendedores. Eles convergem e
nunca são subsidiados.
Em Angola, a política de
subsídio aos combustíveis é uma prática corrente e tem, para já, um duplo
efeito: atrai fornecedores pouco competitivos (respaldados num ganho seguro à
custa do OGE) e também afugenta potenciais fornecedores competitivos (mais
habituados ao jogo do mercado, e sempre muito receosos de prováveis
incumprimentos por parte do Estado).
No nosso caso, os subsídios
aos combustíveis têm um peso não negligenciável na despesa do OGE (fala-se em
cerca de 12%), percentagem atingida no ano de 2013. A cifra de 5,5 mil milhões
de usd que o Estado direcciona para os subsídios aos combustíveis corresponderá
a 4% do PIB.
São valores preocupantes
quando comparados com os encargos do Estado para com sectores importantes, quer
no campo económico, quer no campo social. Os exemplos geralmente mais referidos
são a agricultura, a saúde e a educação.
A opinião mais generalizada
entre os analistas é de que esse desvio de recursos do Orçamento Geral do
Estado prejudica grandemente o exercício das demais funções sociais do Estado.
Fica-se, assim, com a ideia de que o efeito imediato de um alívio da carga dos
subsídios aos combustíveis seria uma canalização de mais recursos financeiros
para os sectores sociais.
Não acredito que tal venha a
ser feito de um modo linear, pois as decisões sobre a repartição do “bolo orçamental”
obedecem ainda a outros critérios, entre os quais a capacidade real de absorção
e de uso eficaz desses recursos. O aumento dos recursos e o seu uso eficaz
estarão interligados.
O alívio da carga dos
subsídios aos combustíveis deve fazer-se de um modo suave e gradual, sem
grandes roturas, para que os resultados esperados sejam os mais convenientes.
Tal como o aumento das dotações orçamentais para os sectores carentes deve
obedecer a critérios de eficácia na sua utilização, pois não basta construir
escolas e hospitais ou centros de saúde, se eles não forem dotados dos meios
materiais e humanos que permitam o seu funcionamento em boas condições.
O argumento geralmente
esgrimido pelos adeptos de uma retirada – brusca e total – dos subsídios é o de
que, no final, eles beneficiam os mais ricos. Esquecem-se, porém, que a nossa
sociedade é constituída maioritariamente por pobres, e que, no caso de se optar
por desampará-los – retirando bruscamente os subsídios – serão os mais
prejudicados.
Para que os preços dos
combustíveis sejam competitivos, primeiro que tudo, há que desenvolver
políticas efectivas de competição, o que não sucede entre nós, sendo a prática
mais corrente a do estímulo aos monopólios ou aos oligopólios restritos. Quer
uns, quer os outros, sempre respaldados nos interesses dos agentes económicos,
que são, cumulativamente, decisores políticos. Pinto de Andrade – Angola
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