Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Namíbia - Alemanha, África do Sul e a independência

Havana - Quando o navegador português Bartolomeu Dias desembarcou em 1498 no território da atual República da Namíbia ficou impressionado pela imponência da paisagem que o lugar oferecia ante seus olhos.

Bartolomeu também pensou nas possibilidades económicas que sua conquista significava para Portugal.

O português encontrou a zona povoada de vários grupos étnicos entre eles hereros, ovambos, domanes e kavangos que viam pela primeira vez os visitantes europeus.

Os nativos não imaginariam os sofrimentos e humilhações que causariam os conquistadores estrangeiros ao lhes imporem sistemas escravocratas e colonialistas que se estenderiam durante séculos, e dos quais só poderiam ser libertos mediante uma prolongada guerra de libertação.

Portugal não colonizou a Namíbia como fez com a vizinha Angola, sua maior posse colonial, e com Moçambique, segundo domínio em extensão territorial, aonde o navegador Vasco da Gama chegou em 1498.

ALEMANHA

Entre o desembarque de Bartolomeu Dias e a criação da África Ocidental Alemã, nome dado a Namíbia em 1884, cerca de quatro séculos depois, os europeus que visitaram o território foram em sua maioria navegadores, missionários e caçadores.

A Alemanha chegou à Namíbia, e em geral a África, depois de ter sido vencida a resistência do chanceler imperial Otto Von Bismarck (1815-1898), que não era partidário de entrar no continente por considerar uma perda de recursos humanos e materiais.

Mas devido às pressões de missionários e comerciantes alemães, e ante o desafio que significava a conquista de extensos territórios por rivais europeus como a Grã-Bretanha e a França, o chanceler decidiu enviar tropas a vários territórios da África que se converteram em suas colónias.

As três décadas seguintes de dominação alemã estiveram marcadas pela sangrenta repressão das sublevações dos povos autóctones, em especial dos hereros, o grupo étnico dominante, cuja rebelião de 1904 não finalizou até quatro anos depois com a perda de 60 mil vidas.

As tropas imperiais, que possuíam superioridade em armamentos, atuaram com a brutalidade costumeira dos colonialistas para reprimir as rebeliões nativas. O povo namibiano seria vítima de massacres nas décadas seguintes.

ÁFRICA DO SUL

Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), as forças armadas da União Sul-africana (desde 1961, República da África do Sul), derrotaram os colonos alemães.

A Alemanha reconheceu a soberania sul-africana sobre a região no Tratado de Versalhes, e em 1920, a Sociedade de Nações, antecessora da Organização das Nações Unidas, concedeu a África do Sul o mandato sobre a África do Sudoeste, denominação que recebia agora o território da Namíbia.

A derrota alemã no conflito universal significou para os germânicos a perda de todas suas posses coloniais no continente, que passaram ao domínio, fundamentalmente, da Grã-Bretanha e França.

As autoridades sul-africanas aplicaram na Namíbia o sinistro sistema do apartheid em vigor em seu território, o que foi recusado pela população autóctone. Os protestos dos namibianos foram cruelmente reprimidos.

Em 1946 a Assembleia Geral das Nações Unidas pediu a África do Sul que substituísse o sistema de mandato da antiga Sociedade das Nações por uma administração de fideicomisso sob a ONU. A África do Sul negou-se a fazê-lo.

Três anos mais tarde, em 1949, uma emenda constitucional sul-africana estendeu a representação parlamentar a África do Sudoeste. No entanto, o Tribunal Internacional de Justiça decretou em 1950 que o mandato deveria ser administrado pelas Nações Unidas.

A rejeição da África do Sul às demandas da ONU deixou a luta armada como única via para a libertação dos namibianos.

A SWAPO

A criação da Organização Popular da África Sul-Ocidental (Swapo), em 1960, respondeu à necessidade de dar uma única expressão política à luta anticolonial do povo namibiano e definiu claramente seus objetivos de independência e nacionalidade.

Os primeiros seis anos foram dedicados à mobilização popular. Quando se iniciou a 26 de agosto de 1966 a luta armada sob a direção do Exército Popular de Libertação da Namíbia (PLANO), braço armado da Swapo, o povo estava decidido a lutar por sua liberdade, opondo uma nova força ao colonialismo e ao racismo.

Como uma manobra destinada a reforçar seu domínio sobre o país, a África do Sul aplicou o Plano Ordental que o dividia em seis regiões, uma espécie de bantustões, nos quais a autoridade máxima era do presidente sul-africano.

Ao mesmo tempo, a Swapo desenvolvia uma intensa atividade guerrilheira: sabotagens, emboscadas, colocação de minas nas vias de comunicação utilizadas pelo exército sul-africano que frequentemente realizava horríveis massacres contra a população.

A 4 de maio de 1978, vinte e quatro horas depois de finalizado o período de sessões da ONU relacionado com a Namíbia, a África do Sul agrediu o campo de refugiados namibianos em Cassinga, no território de Angola, onde assassinou quase 700 pessoas.

Depois de longos anos de luta e sacrifícios, a Namíbia, com o aporte decisivo dos internacionalistas cubanos e combatentes angolanos, obteve a independência em 1989. A Swapo tinha cumprido com a missão que se propôs: libertar ao país da escravatura colonial e do apartheid.

Tinham decorrido exatamente 501 anos desde que o navegante luso Bartolomeu Dias desembarcara no território que no futuro se tornaria a Namíbia. Camila Caduz – Cuba in “Prensa Latina”

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