Havana - Quando o navegador português
Bartolomeu Dias desembarcou em 1498 no território da atual República da Namíbia
ficou impressionado pela imponência da paisagem que o lugar oferecia ante seus
olhos.
Bartolomeu também pensou nas possibilidades
económicas que sua conquista significava para Portugal.
O português encontrou a zona povoada de
vários grupos étnicos entre eles hereros, ovambos, domanes e kavangos que viam
pela primeira vez os visitantes europeus.
Os nativos não imaginariam os sofrimentos e
humilhações que causariam os conquistadores estrangeiros ao lhes imporem
sistemas escravocratas e colonialistas que se estenderiam durante séculos, e
dos quais só poderiam ser libertos mediante uma prolongada guerra de
libertação.
Portugal não colonizou a Namíbia como fez com
a vizinha Angola, sua maior posse colonial, e com Moçambique, segundo domínio
em extensão territorial, aonde o navegador Vasco da Gama chegou em 1498.
ALEMANHA
Entre o desembarque de Bartolomeu Dias e a
criação da África Ocidental Alemã, nome dado a Namíbia em 1884, cerca de quatro
séculos depois, os europeus que visitaram o território foram em sua maioria
navegadores, missionários e caçadores.
A Alemanha chegou à Namíbia, e em geral a
África, depois de ter sido vencida a resistência do chanceler imperial Otto Von
Bismarck (1815-1898), que não era partidário de entrar no continente por
considerar uma perda de recursos humanos e materiais.
Mas devido às pressões de missionários e
comerciantes alemães, e ante o desafio que significava a conquista de extensos
territórios por rivais europeus como a Grã-Bretanha e a França, o chanceler
decidiu enviar tropas a vários territórios da África que se converteram em suas
colónias.
As três décadas seguintes de dominação alemã
estiveram marcadas pela sangrenta repressão das sublevações dos povos
autóctones, em especial dos hereros, o grupo étnico dominante, cuja rebelião de
1904 não finalizou até quatro anos depois com a perda de 60 mil vidas.
As tropas imperiais, que possuíam
superioridade em armamentos, atuaram com a brutalidade costumeira dos
colonialistas para reprimir as rebeliões nativas. O povo namibiano seria vítima
de massacres nas décadas seguintes.
ÁFRICA DO SUL
Em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918), as forças armadas da União Sul-africana (desde 1961, República da
África do Sul), derrotaram os colonos alemães.
A Alemanha reconheceu a soberania
sul-africana sobre a região no Tratado de Versalhes, e em 1920, a Sociedade de
Nações, antecessora da Organização das Nações Unidas, concedeu a África do Sul
o mandato sobre a África do Sudoeste, denominação que recebia agora o
território da Namíbia.
A derrota alemã no conflito universal
significou para os germânicos a perda de todas suas posses coloniais no
continente, que passaram ao domínio, fundamentalmente, da Grã-Bretanha e
França.
As autoridades sul-africanas aplicaram na
Namíbia o sinistro sistema do apartheid em vigor em seu território, o que foi
recusado pela população autóctone. Os protestos dos namibianos foram cruelmente
reprimidos.
Em 1946 a Assembleia Geral das Nações Unidas
pediu a África do Sul que substituísse o sistema de mandato da antiga Sociedade
das Nações por uma administração de fideicomisso sob a ONU. A África do Sul
negou-se a fazê-lo.
Três anos mais tarde, em 1949, uma emenda
constitucional sul-africana estendeu a representação parlamentar a África do
Sudoeste. No entanto, o Tribunal Internacional de Justiça decretou em 1950 que
o mandato deveria ser administrado pelas Nações Unidas.
A rejeição da África do Sul às demandas da
ONU deixou a luta armada como única via para a libertação dos namibianos.
A SWAPO
A criação da Organização Popular da África
Sul-Ocidental (Swapo), em 1960, respondeu à necessidade de dar uma única
expressão política à luta anticolonial do povo namibiano e definiu claramente
seus objetivos de independência e nacionalidade.
Os primeiros seis anos foram dedicados à
mobilização popular. Quando se iniciou a 26 de agosto de 1966 a luta armada sob
a direção do Exército Popular de Libertação da Namíbia (PLANO), braço armado da
Swapo, o povo estava decidido a lutar por sua liberdade, opondo uma nova força
ao colonialismo e ao racismo.
Como uma manobra destinada a reforçar seu
domínio sobre o país, a África do Sul aplicou o Plano Ordental que o dividia em
seis regiões, uma espécie de bantustões, nos quais a autoridade máxima era do
presidente sul-africano.
Ao mesmo tempo, a Swapo desenvolvia uma
intensa atividade guerrilheira: sabotagens, emboscadas, colocação de minas nas
vias de comunicação utilizadas pelo exército sul-africano que frequentemente
realizava horríveis massacres contra a população.
A 4 de maio de 1978, vinte e quatro horas
depois de finalizado o período de sessões da ONU relacionado com a Namíbia, a
África do Sul agrediu o campo de refugiados namibianos em Cassinga, no
território de Angola, onde assassinou quase 700 pessoas.
Depois de longos anos de luta e sacrifícios,
a Namíbia, com o aporte decisivo dos internacionalistas cubanos e combatentes
angolanos, obteve a independência em 1989. A Swapo tinha cumprido com a missão
que se propôs: libertar ao país da escravatura colonial e do apartheid.
Tinham decorrido exatamente 501 anos desde
que o navegante luso Bartolomeu Dias desembarcara no território que no futuro
se tornaria a Namíbia. Camila Caduz –
Cuba in “Prensa
Latina”
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