SÃO PAULO – O novo governo brasileiro
que assumirá a partir de 1º de janeiro de 2015 deveria colocar em sua pauta de
prioridades a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), assumindo a
liderança de um movimento de interligação desse organismo com o Mercosul.
Afinal, está mais do que na hora de a CPLP deixar de ser um instrumento voltado
apenas para a difusão da língua, da amizade, da cultura e das tradições
lusófonas para se transformar num bloco econômico expressivo.
Aliás, esse é o pensamento do
primeiro-ministro do Timor-Leste, Xanana Gusmão, que, ao assumir a presidência
da CPLP em julho passado, anunciou sua disposição de estabelecer uma estratégia
direcionada a promover maior cooperação e interligação das economias das nações
do bloco (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Guiné Equatorial,
Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste), aproveitando-se as
oportunidades de investimento que existem nos nove países.
No setor de petróleo, há uma proposta
de Timor-Leste para o estabelecimento de um consórcio CPLP de exploração on shore naquele país na base de uma
parceria estratégica entre os países-membros da comunidade. Por meio do Timor-Leste,
além do setor de petróleo, há a possibilidade de uma interligação econômica do
Brasil com países da região, a partir da adesão daquela nação ao mercado
regional do Sudeste Asiático (Asean). Além disso, as parcerias de empresas
lusófonas com empresas timorenses podem ajudar a dinamizar o setor privado no
país, de maneira que muitas empresas locais possam apostar também na
internacionalização.
Por sua economia e extensão geográfica,
o Brasil, claro está, deveria assumir esse papel de aglutinador, valendo-se não
só do fato de dispor de um mercado interno geograficamente maior que a Europa
como de uma indústria petrolífera em expansão, uma indústria aeronáutica consolidada
e uma construção naval em condições competitivas. É de ressaltar que o seu
setor industrial necessita urgentemente de mercados para colocar seus produtos
manufaturados e impedir o crescimento da atual tendência de
desindustrialização. Ao mesmo tempo, seu mercado interno pode absorver commodities e produtos acabados de seus
parceiros na CPLP.
É de lembrar também que, nos últimos
anos, cresceram de modo significativo os investimentos brasileiros em
Moçambique na exploração mineral e nos setores de logística e energia, além da
exportação de carnes, veículos, caldeiras, máquinas e equipamentos para aquele
país. Com a Namíbia, país observador
associado da CPLP, o Brasil já tem abertas as portas, depois da assinatura de
recente acordo de cooperação entre as Marinhas das duas nações para o
intercâmbio em escolas militares e assuntos de segurança internacional. Namíbia
e Moçambique podem facilitar e estimular a participação brasileira e, por
extensão, do Mercosul no desenvolvimento econômico do Sul da África. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.
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